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por Bruno Abreu

 

Uma mente escravizadora


Hoje vivemos com a sensação de que conhecemos a verdade que nos iria libertar, da qual Jesus nos falou, há dois mil anos, no entanto, vivemos presos à confusão e aos conflitos interno e externo.

Na época da passagem de Jesus na Terra, o povo também se nutria da ideia de que sabia o funcionamento da vida. Isso pode acontecer em qualquer fase, na cabeça de cada pessoa.

Termos o conceito de que sabemos sobre a vida e o que fazemos, é uma confiança essencial para nos movimentarmos para fora da falta de confiança e dos problemas psíquicos ocasionados por ela. Mas, termos a certeza de que sabemos sobre a vida e o que fazemos, é um movimento atropelante e destruidor, que passa por cima de tudo e de todos.

Esta última forma-movimento é criadora da figura do senhor e do escravo, dentro de nós próprios.

Jesus explicou: “Em verdade, em verdade vos asseguro: todo aquele que pratica o pecado é escravo do pecado”. (João 8:34)

O desejo de algo nasce em nossa mente. Mesmo quando parte de nós já se encontra em luta contra um determinado hábito, e acabamos por ceder, pois pensamos que, se é nossa vontade, seguimos com o ato.

Quando me refiro a um desejo nascido em nossa mente, incluo os mais fáceis de percebermos, como os vícios físicos, o álcool, a droga, o tabaco etc., e também os psíquicos.

Dentro dos vícios psíquicos, podemos ver os mais eminentes, como o do jogo, mas existem outros que nos passam mais despercebidos, como os de caráter. Falo acerca da maledicência, da raiva, da agressividade, da razão, do egoísmo etc.   

Estes últimos nem nos parecem vícios, porque os apelidamos de caráter, mas podemos afirmar que o vício é a repetição constante de um consumo próprio ou de uma ação. Poderíamos chamar-lhe também de um hábito ruim.

Fumar é um vício que se implantou pela sua repetição inicial, e isto também pode ser chamado de hábito. Tenho o hábito de fumar.

A pessoa que vive de forma agressiva e responde assim a qualquer situação que lhe surja, criou um hábito em relação à agressividade, o que se tornou seu caráter. Esta pessoa não facilmente se libertará deste hábito, tal como aquele que fuma, por isso, podemos chamá-lo de um vício psicológico que foi implantado.

Um vício físico também é um vício psicológico, pois é comandado pela psique. A pessoa já está com uma determinada vontade de deixar de fumar, mas a sua mente continua presa àquele movimento; gostaria de mudar e não o consegue; é necessário um esforço enorme e contínuo.

Toda esta “realidade” e forma de estar fica gravada em nossa mente e aparece através dos impulsos mentais, nascidos na memória, sem que apresente, antes, uma vontade. Nós é que acreditamos ter acontecido uma vontade antes.

Vejam o caso do impulso da agressividade. Algo nos acontece e o impulso surge sem que eu tenha dito “eu tenho vontade de estar agressivo”.

Estes impulsos são os senhores escravizadores de nós próprios, por isso, Jesus afirmou que quem comete o pecado é escravo. Nós olhamos para a ação do pecado, dos vícios físicos e mentais, como uma vontade própria. Mesmo que muitas vezes, já em ponto de saturação, embora quiséssemos fazer diferente, não conseguimos fazer, porque o movimento repetitivo da mente demonstra-nos que somos dirigidos pelo tal escravizador.

Experimente fazer o contrário. Quando surgir o que acredita ser a sua “vontade”, diga a si próprio: hoje vou fazer diferente, e então vai perceber a luta que nasce disso.

O escravizador e o escravizado vivem dentro do mesmo ser, sendo um jogo terreno pelo qual teremos que passar. Facilmente percebemos que essa luta é destruidora e que, infelizmente, o vício ou o hábito possa levar a melhor.

Qual a melhor ferramenta que temos em nosso poder para fazer frente a esta batalha?

Jesus nos diz que é a oração, no sábio ensinamento do “Vigiai e Orai”, mas para nós é muito difícil, mesmo com esta arma secreta.

Todos os desejos nascem na mente, logo, quanto mais movimentada ela estiver, mais vezes surgirão os desejos, mais difícil será de suportar seus impulsos. Por isso, o método mais comum utilizado para quem quer realmente largar um vício, ou uma doença psíquica, é abrandar e acalmar a mente.

Uma das maiores conquistas que podemos conseguir: uma mente calma e serena, sem recurso de medicação.

Esta forma de estar fortalece nosso interior para lidarmos com os impulsos mentais que nos escravizam, vindo eles da memória ou de um obsessor, começando pela clareza com que percebemos o nascimento do impulso.

Qualquer luta interior é desestabilizadora; o melhor a fazer quando a paz interior parecer insuficiente para suster o impulso, é conversar consigo mesmo, carinhosamente, porque merecemos o nosso respeito e precisamos do nosso amor.


 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita