Brasil
por Thiago Bernardes

Ano 15 - N° 759 - 13 de Fevereiro de 2022

 

Auta de Souza, uma das glórias da poesia espírita

 

Nesta semana registrou-se mais um aniversário de desencarnação de Auta de Souza, cuja obra poética os espíritas
brasileiros conhecem muito bem.

Natural de Macaíba (RN), a grande poetisa deixou-nos publicado em vida um único livro – Horto –, o que bastou para ser considerada por Luís da Câmara Cascudo "a maior poetisa mística do Brasil".

Filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues e irmã dos políticos norte-rio-grandenses Elói de Sousa e Henrique Castriciano, Auta de Souza nasceu no dia 12 de setembro de 1876 e faleceu em 7 de fevereiro de 1901, aos 24 anos de idade, na cidade de Natal (RN).

Órfã de mãe aos três anos de idade, no ano seguinte perdeu também o pai, ambos devido à tuberculose. Sua mãe contava apenas 27 anos e seu pai, 38 anos, quando faleceram.

 

Formação escolar

Durante a infância, foi criada pela avó materna, Silvina Maria da Conceição de Paula Rodrigues, conhecida como Dindinha, em uma chácara no Recife, onde foi alfabetizada por professores particulares.

Aos onze anos, foi matriculada no Colégio São Vicente de Paulo, dirigido por freiras vicentinas francesas, onde aprendeu Francês, Inglês, Literatura, Música e Desenho. Lia no original as obras de Victor Hugo, Lamartine, Chateaubriand e Fénelon.

Quando tinha doze anos, vivenciou uma nova tragédia: a morte acidental de seu irmão mais novo, Irineu Leão Rodrigues de Sousa, causada pela explosão de um candeeiro.

Dois anos depois, aos 14, recebeu o diagnóstico de tuberculose, e teve que interromper seus estudos no colégio religioso, dando prosseguimento à sua formação como autodidata e participando da União Pia das Filhas de Maria, à qual se uniu na escola.

Foi professora de catecismo e escreveu versos religiosos, tendo começado a escrever aos dezesseis anos. Apesar da doença, frequentava o Clube do Biscoito, associação de amigos que promovia reuniões dançantes em que os convidados recitavam poemas de vários autores, como Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, Junqueira Freire e outros.

 

Frustração amorosa

Por volta de 1895, quando estava com 19 anos, Auta de Souza conheceu João Leopoldo da Silva Loureiro, promotor público de sua cidade natal, com quem namorou durante um ano e de quem foi obrigada a se separar pelos irmãos, que se preocupavam com seu estado de saúde. Pouco depois da separação, ele também morreria vítima de tuberculose. Essa frustração amorosa se tornaria o quinto fator marcante de sua obra, junto à religiosidade, à orfandade, à morte trágica de seu irmão e à tuberculose.

 

Colaborações em jornais e revistas

Aos dezoito anos, ela passou a colaborar com a revista Oásis, e aos vinte escrevia para A República, jornal de grande circulação, fato que lhe deu visibilidade para a imprensa de outras regiões. Seus poemas foram também publicados no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro. No ano seguinte, passaria a escrever assiduamente para o prestigiado jornal A Tribuna, de Natal, e seus versos eram publicados junto aos de vários escritores famosos do Nordeste. Entre 1899 e 1900 assinou seus poemas com os pseudônimos de Ida Salúcio e Hilário das Neves, prática comum à época.

Sua poesia passou a circular nas rodas literárias de todo o país, despertando grande interesse e tornando-a a poetisa norte-rio-grandense mais conhecida fora do estado.

Em 1900, publicou seu único livro, Horto, de significativa repercussão e cujo prefácio foi escrito por Olavo Bilac, o poeta brasileiro mais conhecido daquela época.

O livro foi reeditado várias vezes e numa delas, em 1936, contou com um prefácio do respeitado escritor Alceu de Amoroso Lima, também conhecido por seu pseudônimo Tristão de Ataíde.

 

Morte e homenagens póstumas

O falecimento de Auta de Souza ocorreu em 7 de fevereiro de 1901, a uma hora e quinze minutos, em Natal, em decorrência da tuberculose. Seu corpo foi sepultado no cemitério do Alecrim, na mesma cidade, mas em 1904 seus restos mortais foram transportados para o jazigo da família, em Macaíba, sua cidade natal.

Em 1936, a Academia Norte-Riograndense de Letras dedicou-lhe a poltrona XX, como reconhecimento à sua obra.

Em 1951, foi feita uma lápide, tendo como epitáfio versos extraídos de seu poema Ao Pé do Túmulo:


“Longe da mágoa, enfim no céu repousa

Quem sofreu muito e quem amou demais.”

 

"Noite Auta, Céu Risonho"

Em 12 de setembro de 2008, durante as comemorações do nascimento da poetisa em sua cidade natal, foi lançado o documentário "Noite Auta, Céu Risonho", escrito e dirigido por Ana Laudelina Ferreira Gomes, professora e pesquisadora da UFRN, e produzido pela TV Universitária, em parceria com o Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Riograndenses.

 

Auta de Souza na vida espiritual

Em 2008, a Federação Espírita Brasileira listou treze instituições espíritas (centros, núcleos, recantos, sociedades, fraternidades e uma fundação) em oito estados brasileiros que adotavam o nome da poetisa.

Em 3 de março de 1953 foi criada em São Paulo, por Nympho de Paulo Corrêa, a Campanha de Fraternidade, que mais tarde se tornou Campanha de Fraternidade Auta de Souza, que é conhecida e realizada em todo o país e também no exterior.

No livro No Mundo de Chico Xavier, de autoria do prof. Elias Barbosa, Chico Xavier narra como ocorreu seu primeiro encontro com Auta de Souza:


“Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou de mim o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a chorar de emoção, sem saber, naquele momento, se meus olhos eram os dela ou se os olhos dela eram os meus. Mais tarde, soube, por nosso caro Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio Grande do Norte."

 

O soneto citado, intitulado "Nossa Senhora da Amargura", foi publicado pelo Almanaque de Lembranças, de Lisboa, na sua edição de 1932.

Em carta a Manoel Quintão, Chico Xavier referiu-se certa vez à notável poetisa:

 

"Alguns autores há muito tempo que não voltam, como, por exemplo, A. dos Anjos e Auta de Souza. Desta última conservo muitas saudades. Quando ela escrevia, fazia-me sentir sensações indefiníveis. De algumas vezes, eu sentia que ela se achava em companhia de uma outra alma, bastante elevada, que nos disseram ser uma das que compõem a grande falange que colabora com Celina em sua elevada missão de amor. Esta companheira da alma que se dava com Auta fazia-me ouvir, isto é, sentir, como em relâmpagos, os mais formosos hinos sacros, que eu nunca pude apanhar, porque eram sempre mais vibrações intraduzíveis, melodias que eu podia somente sentir. Cada Espírito que por mim escreveu fez-me sentir uma sensação diferente, profundamente desiguais entre si."

 

De sua autoria, além de inúmeros poemas que escreveu por intermédio de Chico Xavier e que são encontrados em inúmeras obras psicografadas pelo
mesmo médium, inclusive no conhecido Parnaso de Além-Túmulo, primeiro livro de Chico Xavier publicado pela FEB, o IDE publicou em fevereiro de 1976 o livro intitulado Auta de Souza, composto exclusivamente por poemas de sua autoria, todos psicografados por Francisco Cândido Xavier.


 
  


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita