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por Paulo da Silva Neto Sobrinho

 

Espíritas que ainda não entenderam Allan Kardec


“As ideias do homem estão na razão do que ele sabe.” (ALLAN KARDEC) 


É bem oportuno relembrar o que, em Lampejos Evangélicos, o filósofo e teólogo Huberto Rohden (1893-1981) disse quanto à suposição dos teólogos de que toda a revelação de Deus à humanidade está somente na Bíblia:

Ora, poderíamos admitir que, no longuíssimo período anterior ao tempo de Abraão, Isaac e Jacó, Deus nada tenha tido a dizer à humanidade? E, que pelo ano 110 da era cristã, tenha “fechado o expediente”, à guisa de um funcionário público ou burocrata do século XX?… (1)

Mutatis mutandis, esse “fechado o experiente” é exatamente o que grande parte dos Espíritas estão fazendo em relação à revelação dos Espíritos superiores contida na Doutrina Espírita. Para esses, somente no que está contido nas obras codificadas por Allan Kardec (1804-1869) é que, verdadeiramente, se tem os princípios do Espiritismo.

Que nos desculpem, mas vemos nisso um grande equívoco, que, incontestavelmente, prova que ainda não entenderam o Codificador, por absoluta falta de um aprofundamento na leitura das obras publicadas por ele. Vejamos, por exemplo, da Revista Espírita 1868, mês de dezembro, estes dois importantes trechos da “Constituição Transitória do Espiritismo”:

O programa da Doutrina não será, pois, invariável senão sobre os princípios passados ao estado de verdades constatadas; para os outros, ela não os admitirá, como sempre o fez, senão a título de hipóteses até a confirmação. Se lhe for demonstrado que ela está no erro sobre um ponto, ela se modificará sobre esse ponto. (2) (grifo nosso)

Para nós, Allan Kardec foi bem claro, dizendo, embora tenha em seus princípios verdades já definidas, ele ainda não está completo e acabado. No artigo “O Espiritismo ainda não tem ponto final” (3), desenvolvemos vários argumentos a respeito dessa questão.

Se bem que o Espiritismo não haja dito ainda a sua última palavra sobre todos os pontos, ele se aproxima de seu complemento, e o momento não está longe em que lhe será necessário dar uma base forte e durável, suscetível, no entanto, de receber todos os desenvolvimentos que as circunstâncias ulteriores comportarem, e dando toda segurança àqueles que se perguntam quem lhe tomará as rédeas depois de nós. (4) (grifo nosso) 

Se o Codificador não deixasse porta aberta a novos desenvolvimentos, seria incoerente, pois dissera que o caráter do Espiritismo é progressivo. Da Revista Espírita 1867, mês de setembro, artigo “Caracteres da Revelação Espírita”, destacamos:

[…] O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais transbordado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está no erro sobre um ponto, ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita. (5) (itálico do original, negrito nosso.)

Allan Kardec sempre se apoiou nos fatos, esses, sim, é que promoverão mudanças ou trazer novos informes. Na Revista Espírita 1865, mês de setembro, expõe esse seu pensamento:

[…] não é evidentemente senão sobre os fatos é que se pode assentar uma teoria sólida, fora disso não há senão opiniões e sistemas. Os fatos são argumentos sem réplicas, dos quais é preciso cedo ou tarde aceitar as consequências quando constatados. Foi esse princípio que serviu de base à Doutrina Espírita, e é o que nos leva a dizer que é uma ciência de observação. (6) (grifo nosso)

Portanto, quando novos fatos forem constatados, deveremos aceitá-los, como parte integrante dos princípios doutrinários do Espiritismo. E em relação às novas revelações, essas obrigatoriamente deverão passar pelo Controle Universal do Ensino dos Espíritos.

Entendemos que, pelo fato de não ter algo específico na codificação espírita, não quer dizer que não existe ou que não possa acontecer, porquanto, a revelação dos Espíritos é progressiva. Depois da assimilação de uma certa informação é que coisas novas nos são passadas, tudo muito bem dosado para que frutifique no tempo certo.

Ademais, para um maior aprofundamento no conhecimento espírita é necessário ampliar o estudo do Espiritismo, lendo também as obras de outros autores consagrados, incluindo os designados de “autores espíritas clássicos”: Léon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano etc.

Para finalizar, propomos a você, caro leitor, uma reflexão: será que estou agindo assim e não me dei conta? Sempre é hora de mudar para melhor.

 

Referências:

(1) ROHDEN, Lampejos Evangélicos, p. 189.

(2) KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 377.

(3) SILVA NETO SOBRINHO, O Espiritismo ainda não tem ponto final: para acessar, clique neste link

(4) KARDEC, Revista Espírita 1868, p. 370.

(5) KARDEC, Revista Espírita 1867, p. 279, ver também em A Gênese, cap. I, item 55, 40.

(6) KARDEC, Revista Espírita 1865, p. 276.

 

 

 

     
     

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