Artigos

por Maria Angela Miranda

O conforto do frio e o aconchego do fogo


Era um início de noite quente, saí para caminhar ao redor do lago Igapó, aproveitar para ver as luzes de Natal que deixam um clima alegre e esperançoso no ar. Enquanto caminhava, chamou minha atenção a conversa de dois jovens que vinham um pouco atrás de mim. Esbravejavam suas convicções, cheios de certezas sobre o momento que a humanidade está passando, expondo opiniões fortes, embasadas em interpretações políticas e religiosas. O cerne da conversa era que o mundo seria melhor sem aqueles que pensavam diferente deles, pois eram falsos intelectuais, falsos profetas, incapazes, ladrões... Era a hora da virada, a hora do basta!

As luzes, por um momento, começaram a piscar fraquinho, sem brilho, e nos meus ouvidos soava forte um dos argumentos expostos: “Eu sei as tuas obras, porque nem és frio nem quente; oxalá, foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca”. (Apocalipse, 3:15-16)
Natal é tempo de esperança, tempo de repensar o ano, de olhar para o outro com o mesmo amor que desejamos ser olhados, de julgar o julgo piedoso, pois este será nosso julgo.

Ao olharmos para o outro com superioridade, com prepotência, sem tolerância, como se tivemos o poder de julgar sem conhecimento total dos fatos, não estamos sendo frios, estamos sendo indiferentes, levianos. Não estamos sendo religiosos, não estamos nos conectando com o plano de Deus para a humanidade, pois não estamos abertos ao diálogo, ao entendimento. Nosso comportamento impossibilita o crescimento do outro, espalha discórdia, dor, separação. Tornamo-nos aquele que será desprezado até aprender a ser misericordioso.
Por outro lado, ao fugirmos das conversas produtivas, ao negarmos nos envolver em favor do nosso irmão sob a justificativa de que ele fez por merecer sua miséria, seja 
ela moral, espiritual ou material; ao concordarmos sem convicção com os que estão no poder, para levarmos vantagens indevidas; ao discordarmos por medo das represálias, estamos sendo mornos, nos tornamos aquele que será desprezado até aprender a ser misericordioso.
Quando nos manifestamos com eloquência opressora, com firmeza passional, defendendo nosso ponto de vista a todo custo, dispostos a ir às últimas consequências para sairmos vitoriosos, não estamos sendo quentes, estamos sendo irracionais, orgulhosos, como aquele que será desprezado até aprender a ser misericordioso.
Tanto o frio quanto o fogo podem queimar, o frio pode dar conforto quando utilizado corretamente, o fogo pode proporcionar aconchego se usado na dosagem certa, já o morno, uma mistura do frio e do quente, não aquece nem esfria, não consola, será desprezado até aprender a ser misericordioso.

Natal, Ano Novo, novas oportunidades nos serão apresentadas para aprendermos a usar com sabedoria o frio e o fogo. A misericórdia de Deus para com a humanidade é infinita. Não nos coloquemos na situação de necessitar de uma outra escola para nos tornarmos misericordiosos.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita