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por Eder Andrade

 

"Espíritas, amai-vos e instruí-vos”

 

“Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades são encontradas no Cristianismo; os erros que nele criaram raiz são de origem humana. E eis que, além do túmulo, em que acreditáveis o nada, vozes vêm clamar-vos: Irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade!” – (Espírito de Verdade. Paris, 1860.)1

 

Quando o Espírito da Verdade orientou Allan Kardec para desenvolver essas máximas, procurava sugerir aos homens que a fraternidade poderia ser alcançada através do exercício da prática do bem, ao mesmo tempo com um movimento paralelo de autoesclarecimento.

Devido ao grande atraso moral da humanidade, que ainda arrasta sentimentos de ressentimento pelo seu semelhante, fica difícil esperar de todos a prática do amor ao próximo sem aguardar nada em troca. Porém, quando aprendemos que o ato de amor é uma doação de via de mão dupla, e que o benefício da prática do bem é reciproco, tanto para quem recebe o bem, assim como para aquele que o oferece, modifica-se totalmente a reação, principalmente quando passamos a entender que é uma iniciativa que favorece a ambos, nos dois planos da vida!

Essa mensagem contida em O Evangelho segundo o Espiritismo, tem um alcance de ordem moral muito maior do que somos momentaneamente capazes de perceber, pois pode ser utilizada em vários setores da vida, em trabalhos sociais e até mesmo em atividades doutrinárias, como trabalho de desobsessão, quando orientamos tanto ao encarnado, quanto ao desencarnado, o estudo esclarecedor, de forma a flexibilizarmos os pontos de vista, que são motivos das implicâncias e contendas.

O processo de reforma íntima e transformação moral não se dá de uma hora para outra, existe todo um trabalho de construção de um conhecimento através de um Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, conhecido atualmente como ESDE e uma prática diária de ação de exercício do bem, fora uma vivência com nossos semelhantes, que nos permitirão um dia amadurecer moralmente e perceber quanto tempo perdemos com discussões desnecessárias e infrutíferas.

Ninguém se modifica da noite para o dia, o processo de transformação proposto pelo Espírito da Verdade é lento, pois paralelo a ele teremos de dar um testemunho de conhecimento e aprendizagem do que estamos evoluindo, isso sem falar em alguns casos, onde, tanto encarnado como desencarnado precisarão vivenciar uma prova moral para aprender a estabelecer limites de respeito aos outros e principalmente a si próprio, nos lembrando a passagem bíblica de Paulo de Tarso, quando disse: "Tudo me é permitido", mas nem tudo convém. "Tudo me é permitido", mas eu não deixarei que nada me domine. Paulo (1 Coríntios 6:12).

O Estudo da Doutrina Espírita é bastante transversal, quando estamos estudando um determinador assunto, automaticamente cruzamos com outras questões que nos levam a refletir. Numa sociedade extremamente heterogênea culturalmente, é um grande desafio o exercício da prática do amor ao próximo, sem grandes sacrifícios por parte dos seus integrantes, como alguns países do Oriente Médio que ainda mantêm uma religiosidade tão acirrada, como forma de controle do poder político e econômico. Esse fato nos reporta à história da Cristandade Ocidental, onde a Igreja controlando a interpretação da Bíblia, desde a Idade Média até início da Idade Contemporânea, estabelecia a noção de certo e errado. Graças aos iluministas, uma grande mudança pôde ocorrer, até mesmo com o advento da Terceira Revelação, o Espiritismo.

Os dois mandamentos contidos nessa máxima, amai-vos e instruí-vos reflete a necessidade de romper com a ignorância existente entre os homens, promovendo um movimento de reflexão, como forma de as pessoas pensarem nas coisas, questionarem a realidade que as cerca. Não basta ter o conhecimento, se faz necessário saber interagir com esse conhecimento, por isso Paulo de Tarso nos deixa outro pensamento, procurando mostrar a relação entre o conhecimento das coisas e o sentimento de sutileza na relação com as pessoas, quando disse:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria...”    Paulo (1 Coríntios 13:1,2.)

Em termos práticos, não saber usar o conhecimento que possuímos para ajudar ou auxiliar o semelhante é viver sem sentido algum, por isso a importância do autoconhecimento, para não desperdiçarmos o nosso tempo na condição de encarnados. Promovendo o autoconhecimento de nós mesmos e ao mesmo tempo exercitando a prática de amor.

O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos.2

O movimento de mudança que buscamos com a Doutrina Espirita corresponde a um conjunto de reeducação de atitudes, as quais deveríamos dar mais atenção:

1) Ressignificar os acontecimentos em nossa vida, procurando perceber qual lição podemos tirar dos equívocos, aos quais recaímos;

2) Reeducar nossas emoções, de forma a percebermos os acontecimentos por um outro prisma, deixando de ser reféns das nossas paixões;

3) Estudar, promover um autoconhecimento e colocar em prática o que se aprende na relação com os outros, principalmente sendo resiliente diante dos desafios da vida.

4) Usar o exemplo deixado por Santo Agostinho:

Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar”. (Questão 919; L.E.)2

Fazendo uma reflexão descontraída como espírita ao longo de tantos anos, sou obrigado a admitir que a grande maioria de companheiros do movimento espírita tem o conhecimento da verdade, porém ainda não tem a consciência dela, ou seja, não colocam em prática. Mesmo sabendo que somos Espíritos imortais, de posse de um corpo de carne perecível, que nos foi oferecido pelo Mundo Maior para evoluir, não vivemos de acordo com as informações que já somos possuidores, dessa forma podemos deduzir que há muito tempo estamos convencidos da verdade, porém, muito poucos estão convertidos, a ponto de dar um testemunho dos nossos atos à nuvem de Espíritos que nos acompanha.

“E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará". João (8:32).

 

Referências:

1) Allan Kardec; O Evangelho segundo o Espiritismo; FEB; Cap. VI, it. 5.

2)  ___________; O Livro dos Espíritos; FEB; Cap. XI, it. 8.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita