Joias da poesia
contemporânea

Autor: Cornélio Pires

 

Questão de sorte


Respondo a sua pergunta

Caro Juca Penaforte,

Quanto ao que penso no Além

Do que aceitamos por sorte.

 

Sorte, meu caro, na essência,

É aquela força tenaz

Que surge e vive conosco

Daquilo que a gente faz.

 

Repetimos comumente:

“Sorte má, sorte feliz ...”

Sem ver que o dono da sorte

Encontrou o que mais quis.

 

A vida é um campo infinito,

O tempo é terreno igual,

Nossos atos são sementes

Produzindo bem ou mal.

 

Um pensamento, um projeto,

Algum gesto pequenino ...

Depois ... palavras e ações

Apresentando um destino.

 

Quanto queira, estude a sorte

Por predição ou baralho,

Mas ouça: fazer a sorte

Nunca dispensa o trabalho.

 

Quanto à sorte generosa,

Como se quer entender,

A direção que se tome

É a nota que vai dizer.

 

Não fique aguardando o tempo,

Todo tempo vai-se embora,

Na criação que se faça,

O tempo chama-se agora.

 

Pessoa parada sempre

Deixando o tempo passar

Sem gastar-se por servir

Que não se queixe do azar.

 

Recorde: só via ouro

O nosso amigo Aristeu,

Acabando-se a fortuna,

Teve a luta que escolheu.

 

Largou-se de todo encargo

O nosso amigo João Massa,

Depois não soube viver

Senão em sono e cachaça.

 

Lembre Donana... Era ativa

Mas sempre em grito e querela

Por fim, morreu solitária,

O povo fugia dela.

 

Abrahão era obreiro firme

Mas áspero e respondão ...

O resultado foi este:

Ninguém gostava de Abrahão.

 

Lilia quando empregada

Cultivava a rebeldia,

Vimos nós em pouco tempo

Dez demissões de Lilia.

 

Por reclamar e ferir

O nosso Adalberto Fava

Nunca teve boa sorte

Nas empresas que criava.

 

Vitorino, o costureiro,

Pôs tanto aperto no ensino,

Que não se viu mais ninguém

Nas aulas do Vitorino.

 

João da Extrema quis casar-se,

Mas dava tanto problema

Que não houve moça alguma

Que quisesse João da Extrema.

 

Dona Rita, grande dama,

Sempre nervosa e esquisita ...

Anote: ninguém parava

Na casa de Dona Rita.

 

É isso aí, caro amigo,

Digamos em alta voz:

Deus nos cria o tempo e a vida,

A sorte fazemos nós.

 

Em todo lugar do mundo,

Serviço é o melhor troféu,

Não busque o favor da sorte,

Que a sorte não cai do Céu.

 

Do livro Conversa firme, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita