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por Cláudio Bueno da Silva

 

Podemos dizer tudo o que pensamos?


Em nome da “liberdade de expressão” muita gente tem falado à vontade, sem medo, sem pudor. Pessoas antes anônimas, tímidas, inseguras se lançaram no mundo da opinião, com a porteira aberta que a internet propicia, e passaram a dizer tudo o que vem à cabeça, sem preocupação com as consequências. Com ousadia, têm dito o que querem, não importando o que e como dizem, achando-se protegidas pela falsa compreensão do que seja essa liberdade.

Notamos esse comportamento nas redes sociais, que são hoje uma espécie de espelho do que há na alma das pessoas, mas sabemos que esse destempero verbal e emocional também se dá em família e na sociedade em geral. Até a mídia impressa e falada, que deveria ter responsabilidade ética pela influência que tem sobre as massas, mostra o despreparo de muitos profissionais, escrevendo ou falando. Uns caem na antipatia do público, alguns perdem o emprego, outros sujam de indignidade a história profissional e pessoal.

A liberdade de expressão é uma conquista da civilização e deve ser garantida como um direito de todos, sem que isso justifique as opiniões descontroladas, as manifestações que legitimem o preconceito, a mentira e a difamação. Esse é o pensamento espírita.  

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, nas questões 833 e 834, trata da liberdade de pensamento, inalienável do ser, onde se lê que “É pelo pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque o pensamento não conhece entraves” (...). À pergunta: “O homem é responsável pelo seu pensamento?”, os Espíritos dizem: “Ele é responsável perante Deus. Só Deus, podendo conhecê-lo, condena-o ou absolve-o, segundo a sua justiça”.

Portanto, temos a liberdade sem limites quanto ao pensamento, mas não quanto à expressão dele. Normalizar ideias preconceituosas, insultar a dignidade do outro, expressar violência, tudo isso fere o mais elementar princípio de respeito ao próximo. E mostra também a precária educação de quem assim se comporta.

Somos responsáveis pelos “escândalos” que provocamos em sociedade com expressões e comportamentos infelizes e imaturos.

Pobre “livre expressão” a que o homem deu seu jeito, longe da educação, bem distante do direito, e que é puro ornamento se aplicada sem respeito. Parece poesia, mas é a triste realidade de muitas mentes.

Liberdade de expressão, para mim, é amor no coração, que deve chegar primeiro, antes da ideia ser exposta. É o verbo justo e certo, que não fere quem está perto e tampouco o ausente. Liberdade de expressão sem responsabilidade ética é um equívoco, com implicações morais e jurídicas, é bom lembrar.

Podemos então dizer tudo o que pensamos? Sim, desde que observemos a ocasião, o conteúdo, a forma e a linguagem.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita