Brasil
por Jorge Leite de Oliveira

Ano 15 - N° 746 - 7 de Novembro de 2021


 

Entrevista com Zilda Gama, a médium que psicografou o Diário dos Invisíveis


Como havia escrito algo sobre a médium Zilda Gama, há pouco tempo, e por admirar esse Espírito, resolvi entrevistá-la num dos meus devaneios lúcidos. Desse modo, vi-me na escola do plano espiritual dirigida por ela e, ao entrar no corredor que dá para a diretoria, avistei-a. Ela estava belíssima.

Trazia nas mãos um exemplar da obra Diário dos Invisíveis, ainda em sua primeira edição, de 1929. Na capa, li o seguinte, ainda na
ortografia antiga: "Livro psychographado pela autora". Essa edição da obra foi publicada pela Editora O Pensamento, de São Paulo.

Aproximando-me, perguntei-lhe se ela poderia responder-me duas ou três perguntas. Ela disse-me que sim e acrescentou:

— Fique à vontade para perguntar o que quiser. Responderei o que souber.

Agradeci-lhe e fiz a primeira pergunta:

— Quando foi que a senhora se tornou espírita?

— Meu jovem... Posso chamá-lo assim, pois se somados 91 anos, aproximados, que tive em minha última encarnação, com 52 em que estou no plano espiritual, tenho mais do que o dobro da sua idade atualmente. Então, dispense o "senhora", menino. Desde que fui criança, sentia a presença e influência dos Espíritos. Filha de pais católicos, embora eu já estudasse as obras de Allan Kardec e houvesse psicografado algumas mensagens, ainda receava dizer-me espírita, principalmente naquela época, em que se demonizavam os espíritas e nossa santa doutrina. Um dia, porém, conversando com o doutor Cunha Salles, médico, médium e músico muito conhecido em Minas Gerais, ele perguntou-me: — Você é espírita? — Não! — respondi-lhe, vacilante. Ele olhou fixamente nos meus olhos e falou-me com grave entonação: — Você não somente é espírita, como ainda vai psicografar algumas obras de grande valor espiritual. Detalhe: o Dr. Cunha acabara de conhecer-me... Poucos anos depois dessa conversa, o Espírito Mercedes, um dos meus guias espirituais, confirmou as palavras do Dr. Cunha Salles, anunciando-me que Espíritos elevados iriam transmitir-me, pela psicografia, obras de grande cunho moral... Dias após essa revelação, passei a psicografar as belas novelas mediúnicas ditadas pelo Espírito Victor Hugo.

— Que Espíritos narram essa obra que você traz nas mãos? – perguntei-lhe novamente, e Zilda respondeu-me:

— O primeiro é Allan Kardec, cuja mensagem inicial ele ditou-me em 1912.

— Quê?! Você foi médium do Codificador da Doutrina Espírita?

— Sim. Nesse primeiro contato, que me emocionou, ele preveniu-me: "Sobre tua fronte está suspenso um raio luminoso, que te guiará através de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, e será a tua glória ou tua condenação — conforme o desempenho que deres aos teus encargos psíquicos..."


Segundo encontro

Dias após o primeiro encontro, fui recebido por Zilda Gama no gabinete da diretoria. Continuando nossa entrevista, ela disse-me que, finalizando suas orientações, Kardec lhe recomendou: "Cinge-te de coragem, fé, benevolência, cumpre sem desfalecimento, e sem deslizes, todos os teus deveres sociais e divinos, e conseguirás ser triunfante.”

— Zilda, as orientações de Kardec foram úteis para você? — perguntei-lhe.

— Tudo quanto me foi revelado, na época, ocorreu como Kardec disse. Passei por grandes dificuldades para imprimir as primeiras obras mediúnicas, entretanto, ao serem publicadas, elas obtiveram grande sucesso. Milhares de leitores enviaram-me cartas comoventes, em que prometiam pôr em prática seus elevados ensinamentos.

— Que outros Espíritos se comunicaram em Diário dos Invisíveis, além de Allan Kardec?

— Recebi mensagens de grande elevação dos Espíritos Victor Hugo, D. Pedro II, Maria, Pedro, Marietta (Maria Antonietta Gama, irmã falecida), Mercedes e Affonso.

— É verdade que o Espírito Marietta lhe ditou vários poemas?

— Sim. Minha irmã desencarnada sempre gostou de ler e escrever poemas. Sua poesia mediúnica é de grande beleza e consolo para nós, os que ainda transitamos na matéria.

— Você poderia citar-nos um dos poemas dela que nos oriente sobre a prece antes de adormecermos à noite, para que tenhamos a proteção divina contra as más influências espirituais durante nosso sono?

— Boa pergunta. Muitas pessoas deitam-se, a cada noite, sem a preocupação com o que lhes poderá ocorrer nessas horas em que já não se encontram despertas. Não nos podemos esquecer de que algumas pessoas desencarnam durante esse período da vida. Caso não se preparem para sua desencarnação, em especial à noite, poderão passar por grande confusão mental. Além disso, a prece atrai a companhia dos bons Espíritos que simpatizam conosco, assim como a proteção divina. Então, o Pai Nosso ou este soneto de Marietta são modelos de súplicas a Deus recomendáveis à noite:

 

Prece Noturna

 

Pai, minh'alma contrita e reverente,

após do dia as lutas tormentosas,

eleva-se à amplidão resplandecente

onde abrolhastes sóis e nebulosas...

 

Acolhei-a, Senhor, piedosamente,

tal como um ninho, às aves temerosas;

Não na deixeis rolar penosamente

ao abismo das faltas tenebrosas...

 

Dai-lhe, Senhor, conforto às duras penas,

dai-lhe coragem, fé, tenacidade,

pra resistir às turbações terrenas;

 

Inundai-a de bênçãos e de luz,

dai-lhe pureza, paz, serenidade,

até depor no Céu a sua cruz!

 

— Que linda prece, Zilda! Preciso refletir em cada estrofe dela, para que possa dormir sob a proteção divina. Muito obrigado.

—  Agradeço-lhe igualmente, Jó, pelo seu carinho e alta consideração. Também preciso preparar uma aula sobre a prece, que pedirei à minha irmã Marietta ajudar-me a expor a todos os nossos irmãos que, neste momento, dormem.

— Adeus, irmã, breve nos reencontraremos.

— Saúde, paz e caridade, Jó. Você ainda precisa trabalhar bastante, antes de nos reencontrarmos. Então, sempre a sua disposição, despeço-me com fraternal abraço.

— Disso não tenho dúvida. Até breve.

 

*

 

Leitor amigo, como eu disse no início, esta é uma entrevista fictícia, mas baseada em fatos reais, lidos na obra supracitada, desse Espírito elevado, Zilda Gama, desencarnada com 90 anos, após realizar um extraordinário trabalho mediúnico em que, além dos textos citados no livro deste artigo, psicografou outras cinco obras, editadas pela FEB, ditadas pelo luminoso Espírito Victor Hugo: Na Sombra e na LuzDo Calvário ao InfinitoRedençãoDor Suprema; e Almas Crucificadas. Pela EDICEL, publicou outra obra psicografada: Na Seara Bendita, também ditada por Victor Hugo e prefaciada pelo saudoso Francisco Klörs Werneck, advogado, historiador, escritor, jornalista, conferencista, prefaciador e tradutor de obras espíritas desencarnado no Rio de Janeiro em 10 de março de 1986, com 81 anos de idade.

 
 

 


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita