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por Juan Carlos Orozco

 

O jejum espiritual


“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; e, chegando-se a ele o tentador, disse: se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: está escrito: nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” 
(Mateus, 4: 1-4.)


Jesus disse: “Eu sou o pão da vida. (...) Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (João, 6: 48 e 50-51).


“O fariseu, em pé, orava no íntimo: Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.” 
(Lucas, 18: 11-12.)


“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.”
 (Mateus, 6: 16-18.)


“Jesus repreendeu o demônio; este saiu do menino que, daquele momento em diante, ficou curado. Então os discípulos aproximaram-se de Jesus em particular e perguntaram: Por que não conseguimos expulsá-lo? Ele respondeu: porque a fé que vocês têm é pequena. Eu asseguro que, se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: vá daqui para lá, e ele irá. Nada será impossível para vocês, mas esta espécie só sai pela oração e pelo jejum.” 
(Mateus, 17: 18-21.)


Muitos realizam jejum de alimentos para exames laboratoriais, em dietas saudáveis, nas práticas exteriores e religiosas ou por outro motivo.

Contudo, não abordaremos esses tipos de jejuns materiais, mas sim buscaremos refletir sobre o jejum moral, da alma, do Espírito encarnado ou espiritual, que conduz à necessária introspecção para não se alimentar de ressentimentos, sentimentos inferiores, paixões viciosas e tentações que nos desviam dos caminhos da fé inabalável, do bem, da caridade, da cura e da libertação da alma. Isto porque “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mateus, 4: 4). Logo, a força moral do Espírito encarnado decorre do jejum da alma.

No ser integral, constituído de corpo físico, Espírito e perispírito, temos o alimento do corpo, para a nossa sobrevivência e saúde físicas, e o da alma, para impulsionar a nossa evolução moral e a saúde espiritual. Assim, há diferença entre o jejum do corpo e o jejum espiritual, o que veremos a seguir.

Antônio Luiz Sayão, em “Elucidações evangélicas: à luz da Doutrina Espírita”, esclarece: “A alimentação material é necessária ao homem, isto é, ao Espírito encarnado em corpo material. Quando, porém, tem de penetrar num mundo superior, onde os corpos dos respectivos habitantes não são carnais como os nossos e sim de natureza perispirítica, o Espírito se incorpora fluidicamente. A sua nutrição aí, para a vida do corpo de que se acha revestido, opera-se pela absorção dos fluidos ambientes, apropriados àquele efeito ...”. Por conseguinte, o alimento do Espírito em evolução para ascender ao mundo mais elevado não é material.

Jesus disse: “Eu sou o pão da vida” (João, 6: 48). Mas, a que pão o Mestre se referia?

Na história da Humanidade, o pão sempre representou o alimento básico que nutre o corpo físico e mantém a vida humana. Mas “o pão da vida” de Jesus Cristo tem um sentido espiritual, sendo o alimento essencial que nutre a fé, a esperança e dá sustento moral ao Espírito. É o pão que sacia a fome espiritual dos que se aproximam do Mestre, suprindo-os fartamente em harmonia, equilíbrio, bom ânimo e força moral.

Em nossas existências, sempre estamos alimentando-nos de sentimentos e paixões inferiores, pensamentos negativos, de tudo aquilo que contamina a saúde do Espírito, causando quedas morais, doenças, sofrimentos, obsessões, dentre outras. Daí a importância de orar e realizar o jejum espiritual contra as imperfeições que ainda possuímos.

Na época de Jesus, os fariseus realizavam o jejum de alimentos para sustentar as suas hipocrisias, colocando-se em evidências por meio de práticas exteriores, acreditando estar cumprindo as leis de Deus, mas se esqueciam de fazer o jejum dos maus pensamentos, das palavras que ferem os semelhantes e das ações contrárias ao bem.

A respeito da prática de jejum material pelos fariseus no Evangelho de Mateus (6: 16-18), Antônio Luiz Sayão, em “Elucidações evangélicas: à luz da Doutrina Espírita”, esclarece:

Nenhum mérito tem aos olhos de Deus o que a criatura faça por ostentação, para ser vista, apreciada e louvada pelos homens.

Jesus aconselhava e os seus mensageiros presentemente aconselham o jejum, mas o jejum espiritual, que consiste na abstenção de todo mal, isto é, de todo mau pensamento, de toda má palavra, de todo ato que nos degrade aos olhos do nosso Criador. Jamais façamos consistir a prática do amor a Deus e ao próximo, mandamento que encerra toda a lei e os profetas, como o disse o Mestre Divino, na observância daquela e de outras formalidades idênticas, que nada valem, porque em nada concorrem para a melhora espiritual das criaturas”.

Interpretando outras passagens evangélicas (Mateus, 15: 1-20; e Marcos, 7: 1-23), Antônio Luiz Sayão comenta:

“O ensino de Jesus mostra que todos os preceitos relativos aos alimentos, à natureza destes, à prática do jejum material e das privações corporais, destituídos de utilidade e proveito para o próximo, são vãs e inúteis aos olhos de Deus, a quem só há um jejum agradável: o jejum moral, espiritual, que o Divino Pastor recomendou às suas ovelhas e que consiste na abstenção de tudo o que seja mal, isto é, de tudo o que, nos pensamentos, nas palavras e nos atos, seja contrário à lei divina, evangelicamente revelada, de justiça, de amor, de caridade e fraternidade”.

No mesmo sentido, acerca da oração e do jejum para expulsar o “demônio” de um menino, que os discípulos não lograram êxito, no Evangelho de Mateus (17: 18-21), Antônio Luiz Sayão nos dá a explicação:

“A fé, alavanca poderosa, capaz por si só de levantar o mundo, constitui o meio único de que podemos lançar mão eficazmente para afastar os Espíritos atrasados e sofredores. Da fé nasce a prece que, se, além de fervorosa e perseverante, é acompanhada do jejum espiritual, acaba sempre por tocar o Espírito culpado, o esclarecer e encaminhar para a verdade. (...)

O jejum que Jesus nos recomendou consiste em nos abstermos de pensamentos culposos, inúteis, frívolos mesmo; em sermos sóbrios na satisfação das nossas necessidades materiais, reservando o supérfluo para o repartirmos com os nossos irmãos a quem falte o necessário; em sermos sinceros na modéstia, na regularidade dos costumes, na austeridade do proceder.

Tais são o jejum e a prece que expelem os ‘demônios’ da pior espécie, os ‘demônios’ que nos tornam cegos, surdos e mudos”.

Por tudo isso, além da dieta saudável tão necessária para o corpo físico, devemos realizar o jejum espiritual, não permitindo ingerir os alimentos contrários às leis de Deus que contaminam a moral do Espírito, estagnando o nosso processo evolutivo na busca da perfeição.

Para tanto, precisamos nos alimentar do “pão da vida”, representado pela Palavra, pelos ensinamentos e exemplos do nosso Mestre Jesus, seguindo as suas pegadas pelo caminho da verdade e da vida em direção ao Pai.

 

Bibliografia:

BIBLIA SAGRADA.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

Sayão, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas: à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita