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por Cláudio Bueno da Silva

O que aconteceu com o meu amigo?


Tentei fazer com que ele me ouvisse, tentei puxá-lo à razão com argumentos para mim muito lógicos. Não queria de forma alguma anular sua escolha, sua opinião. Meu desejo era mostrar uma sequência de raciocínios que levam a conclusões praticamente impossíveis de se recusar. Mas não deu certo, ele estava decidido a não aceitar nada que se opusesse à sua forma de pensar.

Esse meu amigo tem várias qualidades pessoais, tem bom humor, sente prazer em trabalhar, lê de vez em quando, é prestativo. Mas ultimamente afloraram nele umas opiniões que chamaram a minha atenção e principalmente a de pessoas que compartilham do seu dia a dia.

A nossa amizade sempre evidenciou concordâncias e divergências, como é natural com todo mundo. Só que do nada (não sei se do nada) ele veio com aquela de não tomar a vacina. Achei curioso ele, com razoável instrução, se posicionar desse modo. “Você já se vacinou outras vezes?”, perguntei a ele. “Sim, mas dessa vez não vai dar”, me respondeu.

Essa estranha recusa em tomar a vacina contra a perigosa pandemia de Covid-19 me fez pensar “coisas paralelas e horríveis” a seu respeito. Será que ele alimenta um secreto desprezo pela ciência? Será que no íntimo aceita o combo religião/armas como forma de melhorar o mundo? Será que questiona o formato redondo da Terra, só não teve oportunidade de dizer isso a alguém?   

Confesso que essas ideias passaram pela minha cabeça. Meu receio em relação ao meu amigo era o de que esse seu posicionamento pudesse esconder contradições ainda maiores, o que seria um enorme prejuízo para ele. 

Mesmo impactado com a sua escolha, decidi não me precipitar com o julgamento do certo ou errado. Se os argumentos racionais e os fatos públicos acumulados não eram capazes de fazê-lo cumprir com a sua obrigação, isso não era da minha conta.

Por meu lado, além de tomar a vacina que a ciência disponibilizou para proteger o meu corpo, independentemente de questões que envolvam os bastidores dessa pandemia, resolvi me automedicar com a vacina espiritual. Essa vacina consiste em entender que eu não posso convencer alguém que não quer ser convencido. Ela ativa recursos internos que melhoram a compreensão e a tolerância com o tempo de entendimento de cada um. Além disso, combate os vírus do ódio, da raiva, do destempero, causadores de inimizades. O princípio ativo da vacina espiritual é o bom senso, portanto, não tem contraindicações nem efeitos colaterais.

Embora devamos pensar no bem comum sempre, achei melhor deixar o meu amigo em paz com as suas convicções. Se elas trouxerem consequências, que ele esteja pronto para enxergá-las e assumi-las.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita