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por Rodinei Moura

 

Ginástica moral


Vamos encontrar essa expressão fantástica no livro Obras Póstumas, esse conjunto do trabalho de Kardec, um Espírito ímpar de uma lucidez fantástica, de quem realmente primava pela moralidade sem um moralismo barato. E nada disso é uma tentativa de idolatria, pois não cabe aos estudiosos do Espiritismo diminuí-lo, mas com toda certeza é necessário entender o pensamento e a linha de raciocínio do professor de Lion para compreender a doutrina que é dos Espíritos.

Ginástica moral seria, segundo Kardec, os esforços empreendidos pelos Espíritos em evolução num mundo da categoria do nosso para se transformarem naquilo que se deve ser. Para alinhar seu discurso com suas atitudes e para vencer as influências de Espíritos desencarnados e encarnados, no sentido de ser de propósito, de pensar e escolher agir com nosso consciente e não com a nossa bagagem espiritual que nos sintoniza com o passado de equívocos, ou seja, com nossas más tendências.

Toda academia de ginástica tem um professor que nos ajudará a alcançar os objetivos pretendidos. Ele nos traça um roteiro e, se o seguirmos ao longo de mais ou menos tempo, nós obteremos êxito.

Assim também é o Espiritismo que nos diz não somente o que devemos fazer para encontrar a paz e a felicidade decorrentes de estarmos em harmonia com nosso projeto reencarnatório, mas como fazer. E esse roteiro são as obras básicas de Kardec que por si só trazem material para muito estudo, reflexão e transformação íntima. Além das obras dos Espíritos que publicaram através de Chico Xavier e Divaldo Franco, entre outros.

Como por exemplo, na questão 115 de O Livro dos Espíritos, que nos afirma que fomos criados simples e ignorantes e, portanto, sujeitos a acertos e equívocos. Temos todo direito de fazer nossas escolhas e não precisamos de nos cobrar tanto, principalmente quando agimos de boa-fé. Deus nos ama incondicionalmente e nada do que fizermos será capaz de mudar isso. No entanto, isso não pode servir de desculpa para protelarmos nosso crescimento espiritual, que é o desenvolver de nossa sensibilidade, de nosso potencial criador, de nossa capacidade de amar. Pois a nossa consciência é o guardião colocado em nós por Deus, e, quanto mais tentarmos burlar esse mecanismo, mais sofreremos pelo remorso e busca de expiação de nossa rebeldia perante as leis divinas que apenas instituíram que nos amássemos uns aos outros.

Ah, mas pode argumentar alguém, e com razão, que, pelo fato de já termos errado muito em outras vidas, há tendências que temos imensa dificuldade para vencer. E são, ao mesmo tempo, depois de termos consciência de ser um comportamento inadequado, uma expiação, através do constrangimento de não conseguirmos dominar a nós mesmos. E ainda uma oportunidade única de nos prepararmos para o perdão, quando alguém agir conosco de uma forma que não gostamos, por entendermos que não somos bonzinhos, mas falhos como todo mundo. Errar é oportunidade de desenvolver a empatia.

E um dos exercícios para vencer essas más tendências vamos encontrar em O Livro dos Espíritos, questão 910: Pode o homem achar nos Espíritos eficaz assistência para triunfar de suas paixões? “Se o pedir a Deus e ao seu bom gênio, com sinceridade, os bons Espíritos lhe virão certamente em auxílio, porquanto é essa a missão deles”. Mas a Questão 909 traz luz nesse sentido, falando sobre a influência da vontade: Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações? “Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!”

Um dia um colega me disse que ele tinha muita vontade de passar num concurso público e então eu perguntei se ele estava se preparando para algum, ao que me respondeu que não. Eu então disse a ele que as pessoas que conheci e que passaram num concurso tinham uma coisa em comum, a perseverança, o foco. Elas não desanimavam no primeiro fracasso e nunca deixavam de estudar. A vontade da questão 909, acima citada, naturalmente não é sinônimo apenas de querer, mas de comprometimento com o que se quer.

É muito comum as pessoas começarem na academia e desanimarem, para recomeçar mais tarde, conduzidos agora pela saúde comprometida ou pela aparência que as desagrada. Cada novo recomeço traz o inconveniente do tempo que se passou, além dos problemas já citados. Assim também é a ginástica moral. Vale cansar, mas não desanimar, pois temos a capacidade de nos tornar aquilo que desejamos ser através da insistência, do foco, da perseverança. E, a cada vez que insistimos, estamos mais pertos de alcançar essa meta.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita