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por Temi Mary Faccio Simionato

 

Trilha para o desapego


“Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele.
” Paulo (1 Timóteo, 6:7.)


Se desejarmos emancipar a alma das algemas escuras do eu, comecemos o curso da autolibertação aprendendo a viver como se tivéssemos tudo, mas não tendo nada. Será necessário, então, não encarcerarmos o Espírito ao apego dos patrimônios transitórios do plano material que, muitas vezes, não passam de sombra coagulada em torno do coração. Observemos, assim, o infortúnio de quantos se prenderam à paixão das posses, nos territórios do sentimento, supondo-se donos das criaturas que amavam; porém, ante os primeiros sinais de emancipação a que se mostraram dispostas, não vacilaram em abatê-las sob o golpe homicida.

Chegamos à Terra na condição de peregrinos necessitados de aconchego e socorro, e, se sabemos que nos retiraremos dela sozinhos, precisamos aprender a nos resignar, servindo a todos em favor do nosso crescimento espiritual para a imortalidade. Lembremos de que, por força das leis que governam os destinos, cada criatura está ou estará em solidão, a seu modo, adquirindo a ciência da autossuperação - transformação interior - desenvolvendo virtudes (grifo nosso). Desta forma, consagremo-nos ao bem, não só pelo bem de nós mesmos, mas, acima de tudo, por amor ao próprio bem.

Precisamos ser sóbrios, prudentes, respeitáveis, amáveis, pacíficos, ter cuidado conosco, trabalhando para a nossa evolução espiritual e também para com a do outro, pois este é o caminho lógico na aquisição de valores eternos. O discípulo sincero do Evangelho vive em silenciosa batalha no campo do coração, no entanto, para alcançar a vitória do Espírito, precisaremos de esforço integral. Mais tarde, seremos convidados a testemunhos mais ásperos compelidos à batalha solitária, sem o recurso de outros tempos.

Na Lei de Renovação, o roteiro é modificado subtraindo-nos as ilusões, selecionando os ideais. Quando como aprendizes recebermos a dor, compreendendo a sua santificante finalidade, aceitando e exercendo a justiça acima de toda preocupação, estaremos atingindo a sublime posição de triunfo no combate contra o mal.

As aquisições materiais não nos acompanharão quando partirmos para o mundo espiritual, como lembra o evangelista Mateus, no capítulo 6, versículos 19 a 21: “Não ajunteis para vós tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem os corroem, e onde os ladrões arrombam e roubam; pois onde está o vosso tesouro aí estará também o vosso coração”. São os homens prudentes que se empenham em adquirir tesouros eternos, não os transitórios.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 16, item 12, um Espírito protetor relata: “Quando considero a brevidade da vida, fico dolorosamente impressionado pela incessante preocupação da qual o bem-estar material é para vós o objeto, ao passo que ligais tão pouca importância e não consagrais senão pouco ou nenhum tempo ao vosso aperfeiçoamento moral, que deve vos ser contado para a eternidade. Crer-se-ia, ao ver a atividade que desdobrais, que ela se prende a uma questão do mais alto interesse para a Humanidade, enquanto que não se trata, quase sempre, senão em vos esforçar para satisfazer necessidades exageradas, à vaidade, ou vos entregar aos excessos. Quantas penas, cuidados e tormentos se inflige, quantas noites sem sono para aumentar uma fortuna, frequentemente, mais do que suficiente! Por cúmulo da cegueira, não é raro ver aqueles a quem um amor imoderado da fortuna e dos gozos, que ela proporciona, sujeita a um trabalho penoso, orgulhar-se de uma existência dita de sacrifício e de mérito, como se trabalhassem para os outros e não para si mesmos. Insensatos! Credes, pois, realmente, que vos será tido em conta os cuidados e os esforços dos quais o egoísmo, a cupidez ou o orgulho são os móveis, enquanto que negligenciais o cuidado do vosso futuro, assim como os deveres da solidariedade fraternal impostos a todos os que gozam das vantagens da vida social! Não haveis pensado senão em vosso corpo; seu bem-estar, seus gozos foram o único objeto de vossa solicitude egoística; por ele que morre, haveis negligenciado o vosso Espírito que viverá sempre. Assim, esse senhor tão estimado e acariciado tornou-se o vosso tirano; comanda o vosso Espírito que se fez seu escravo. Estava aí o objetivo da existência que Deus vos havia dado?”.

Ao observarmos homens e mulheres despojados de qualquer escrúpulo moral, detendo valores transitórios do mundo, tenhamos piedade deles. A galeria da evidência carnal sempre será efêmera; beleza física, poder temporário, propriedade passageira e fortuna amoedada podem ser simples atributo da máscara humana, que o tempo transforma infatigavelmente.

Sem o tesouro da educação pessoal é inútil a nossa penetração no céu, porquanto estaríamos órfãos da sintonia para corresponder aos apelos da Vida superior. Cresçamos na virtude e incorporemos a verdadeira sabedoria, porque amanhã seremos visitados pela mão niveladora da morte e possuiremos tão somente as qualidades nobres ou aviltantes que tivermos instalado em nós mesmos.

Desanuviemos a mente a cada manhã e sigamos para adiante na certeza de que acertaremos as nossas contas com quem nos emprestou a vida, e não com os homens que a malbarataram. Deixemos que a realidade nos auxilie a visão e encontraremos a divina felicidade do anjo anônimo, que se confunde na glória do bem comum.

Assim sendo, usemos as possibilidades e oportunidades desta caminhada, sem a presunção de nos assenhorarmos daquilo que Deus nos empresta. Nessa ou naquela vantagem efêmera que nos felicite o caminho entre os homens, aprendamos a ser sós, para sermos mais livres no desempenho do dever que nos une a todos e, de pensamento voltado para o Amigo Celeste que esposou o caminho estreito da cruz, recordemos da advertência do apóstolo Paulo de Tarso, quando diz, com alusão a quaisquer patrimônios de ordem material, nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada poderemos levar dele.

 

Bibliografia:

XAVIER, Francisco C. Palavras de Vida Eterna. Pelo Espírito Emmanuel. 35 ed. Uberaba: Edição Comunhão Espírita Cristã. 2010. Lição 119.

__________________ Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27 ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira Editora. 2011. Capítulo 79.

__________________ Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36 ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira Editora. 2011.  Capítulos 47 e 177.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita