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por Rodinei Moura

 

Com o sucesso nada se aprende


Na animação A Família do Futuro, da Disney, um dos personagens diz uma coisa fantástica: com o sucesso nada se aprende, mas com o fracasso sim. E queremos aqui explorar essa preciosa lição do ponto de vista moral, que é o que mais interessa ao espírito imortal que é na verdade o que nós somos.

Um contemporâneo de Freud, Alfred Adler, que fundou a psicologia do desenvolvimento individual, contraria o pai da psicanálise e diz que, na verdade, mais importante do que a sexualidade na vida do ser humano é o desejo pelo poder, tema que precisa ser estudado e entendido. E ele desenvolve essa ideia de uma forma brilhante, mostrando inclusive que a busca de superioridade é inata ao ser humano e nem sempre é algo necessariamente ruim. Vale lembrar que não entraremos no mérito de qual tese é mais brilhante, a de Freud ou a de Adler.

A busca pela superioridade seria, nesse contexto, a busca pela perfeição, o que segundo a doutrina espírita é a meta de todos nós. Como cada um de nós vai lidar com isso é questão de livre-arbítrio, de esforço próprio, do grau de evolução que cada um já alcançou.

E até porque essa busca pela perfeição para muitos de nós é mais fácil, devido ao nosso orgulho, um pequeno desvio nesse processo, sermos gentis e agradáveis quando estamos bem, quando estamos certos, quando temos a razão. Por exemplo, é mais fácil perdoar alguém que comete um mau ato contra nós do que admitir quando nós cometemos um ato mau. Nós achamos que estamos agindo sempre certo e quando deslizamos, ainda que sem má-fé, temos extrema dificuldade em lidar com essa situação. Muitos realmente nem conseguem enxergar que erraram.

Outros até admitem. E a consciência nos cobra, pois, segundo a questão 621 de O Livro dos Espíritos, é nela que estão escritas as leis divinas, e entramos em choque conosco mesmos, ficando até mesmo deprimidos. Daí a importância de perdoamos sim, sempre, mas pela razão cristã, pela razão lógica que nos ensina a doutrina dos Espíritos. Devemos perdoar não como um ato de orgulho de quem se acha superior, mas de quem já entendeu que errar faz parte da caminhada do Espírito em evolução rumo à perfeição.

Inclusive o ato de conversar conosco mesmo nesse sentido é extremamente saudável, nos interrogando sobre o porquê de perdoarmos aos outros e não perdoarmos a nós mesmos. Sempre lembrando a nós mesmos através desses diálogos que somos seres ainda em evolução, com defeitos, mas também com inúmeras qualidades. E que Deus já nos ama incondicionalmente e que por isso mesmo devemos nos amar dessa forma, ou seja, apesar dos nossos equívocos. O que não significa fugir das responsabilidades desses erros.

Num prisma mais amplo, estaremos construindo, dessa forma, uma sociedade mais saudável do ponto de vista psicológico, mais tolerante consigo mesma e, por consequência, mais tolerantes com seus semelhantes. Uma sociedade que não se julga e por isso mesmo não julga ninguém. Uma sociedade que busca agir sempre de boa-fé, é evidente.

A despeito do título, não podemos afirmar que com o sucesso nada se aprende, sob pena de sermos radicais. Na animação que usamos acima para ilustrar a questão que abordamos foi usado de licença poética, algo totalmente natural numa obra de arte. Mas nós podemos afirmar com toda tranquilidade, principalmente diante dos ensinamentos espíritas, que podemos e devemos aprender muito com o fracasso. Já disse alguém, aliás, que o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita