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por Hugo Alvarenga Novaes

 

Nosso Anjo Guardião é um Espírito Puro ou não? 

 

1 – Espírito Georges

Rebateremos com duas frases o argumento dos contrários ao nosso texto, por este ter apenas uma fonte que diz respeito ao assunto que exprime o referido título. São estas as sentenças:

1ª. “Basta um único corvo branco para provar que nem todos são negros”.[1]

2ª. “Se você quiser colocar em dúvida a lei de que todos os corvos são negros, você não precisa mostrar que nenhum o é: basta provar que, pelo menos, um deles é branco”. [2]

Antes de entrarmos diretamente no tema deste estudo, citemos também o Espírito Georges, o qual é autor do texto que será baseado o presente artigo.

Ele colabora com 3 participações no livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec e 35 na Revista Espírita, cujo periódico é do mesmo autor e que deveria ser procurado e mais lido entre os Espíritas, pois é uma fonte inesgotável de conhecimentos, mormente sobre a nossa doutrina.

Na “Sexta-feira, 24 de agosto de 1860 – Sessão geral”[3], São Luís, que era Presidente Espiritual da Sociedade Espírita de Paris e morador do planeta Júpiter, no tópico “Comunicações Diversas”, assim se exprime:

4ª.) Dois outros ditados espontâneos, obtidos pela Sra. Costel, um sobre as várias categorias de Espíritos errantes, e o outro sobre os castigos, assinados por Georges. Estas duas comunicações podem ser classificadas entre as mais notáveis, pela sublimidade dos pensamentos, a verdade dos quadros e a eloquência do estilo. (Serão publicadas, assim como as outras comunicações mais importantes.)[4]

Reparem que São Luís achou as duas comunicações acima sublimes, mas vale destacar que ele não deixa de achar as outras igualmente importantes.

Logo adiante, mas agora no tópico “Estudos”, lemos:

1º.) Perguntas dirigidas a São Luís sobre o Espírito Georges. Quando vivo ele era pintor e professor de desenho da pessoa que lhe serve de médium. Sua vida não oferece nenhuma particularidade relevante, a não ser que sempre foi bom e benevolente. Suas comunicações, como Espírito, trazem um selo de tal superioridade que se desejou saber a posição por ele ocupada no mundo dos Espíritos. São Luís responde:

“Ele foi um Espírito justo na Terra; toda sua grandeza consiste na bondade, na caridade e na fé em Deus, que professava. Assim, hoje, encontra-se colocado entre os Espíritos Superiores”.[5]

É de extrema relevância destacar que o Espírito Georges foi elogiado e considerado SUPERIOR pelo Presidente Espiritual da Sociedade Espírita de Paris.

Igualmente, o Chefe do Espiritismo, tece os seguintes elogios ao Espírito Georges:

São geralmente admiradas as belas comunicações do Espírito que assina Georges, mas, em razão mesmo da superioridade de que esse Espírito dá prova, várias pessoas viram com surpresa o que ele diz em sua comunicação O despertar do Espírito, a propósito das relações de Além-Túmulo.[6]

De nenhuma forma exageraremos ao dizer que nem todas as pessoas, talvez a maioria delas, compreendem a profundidade das mensagens por ele, Espírito George, exaradas.

No ano posterior, Allan Kardec dirige um agradecimento aos Espíritos que colaboraram no ano que se foi, dizendo: “Não queremos terminar o ano sem dirigir os nossos agradecimentos aos Espíritos bons, que tiveram a bondade de nos instruir. [...]; Georges, cujas belas comunicações têm sido admiradas por todos os leitores da Revista; [...]”[7].

Anos mais tarde na matéria que leva a inscrição de “Sessão comemorativa na Sociedade de Paris”, seu Ilustre Presidente profere uma linda prece e a seguir o presidente dirige a seguinte alocução aos Espíritos:

Caros Espíritos de nossos antigos colegas: Jobard, Sanson, Costeau, Hobach e Poudra:

Convidando-vos a esta reunião comemorativa, nosso objetivo não é apenas vos dar uma prova de nossa lembrança, que, como sabeis, é sempre cara à nossa memória; viemos, sobretudo, felicitar-vos pela posição que ocupais no mundo dos Espíritos e agradecer as excelentes instruções que, de vez em quando, nos vindes dar desde a vossa partida.

A Sociedade se rejubila por vos saber felizes; ela se honra por vos haver contado entre os seus membros, e de vos contar agora entre os seus conselheiros do Mundo Invisível.

Apreciamos a sabedoria de vossas comunicações e seremos sempre felizes todas as vezes que julgardes por bem vir participar de nossos trabalhos.

A esse testemunho de gratidão associamos todos os Espíritos bons que, habitual ou eventualmente, vêm trazer-nos o tributo de suas luzes: João Evangelista, Erasto, Lamennais, Georges, François-Nicolas Madeleine, Santo Agostinho, Sonnet, Baluze, Vianney o cura d’Ars, Jean Raynaud, Delphine de Girardin, Mesmer e os que apenas tomam a qualificação de Espírito.[...] (Grifos nossos).[8]

Repararam a presença do Espírito Georges? Observaram bem entre quais Espíritos ele se encontra?

Estamos cientes de que o próprio Codificador do Espiritismo, sabiamente nos ensina em junho de 1859 que:

[...] Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns.[9] (Grifos nossos).

Por tudo que nos foi exposto, acreditamos fortemente que a afirmativa enunciada por aquele que foi o mais ilustre discípulo do reformador educacional, Johann Heinrich Pestalozzi, não é devida nos casos de Espíritos que possuem uma certa elevação como é a do Espírito Georges. Pensamos que este AVISO DOUTRINÁRIO “se assim podemos nos expressar”, se deve mais aos Espíritos que se encontram na Terceira Ordem, que estão bem ligados à Gleba Terrestre.

Seria incoerência de nossa parte querer que o “nosso parecer”, visto que somos Espíritos “tão, tão distantes” da Segunda Ordem, fosse contrário ao do Espírito George, que além de ter tido o agradecimento do Mestre de Lyon, também mereceu os elogios do Codificador da Doutrina Espírita e do Presidente Espiritual da Sociedade Espírita de Paris.

Seria como comparar:

a) Rui Barbosa x estudante do ensino básico.

b) Sigmund Freud x estudante de psicologia.

c)  Albert Einstein x estudante de física.

Não teria o menor cabimento.

 

2 - Análise da comunicação dada pelo Espírito Georges

Sem mais delongas, falemos agora do corrente escrito:

Os Espíritos puros

(Médium: Sra. Costel)

Os Espíritos puros são aqueles que, chegados ao mais alto grau da perfeição, são julgados dignos de ser admitidos aos pés de Deus. O infinito esplendor que os envolve não os dispensa de ser úteis nas obras da Criação: as funções que devem preencher correspondem à extensão de suas faculdades. Esses Espíritos são os ministros de Deus; sob suas ordens, regem os mundos inumeráveis; dirigem do alto os Espíritos e os humanos; estão ligados entre si por um amor sem limites, e esse ardor se estende sobre todos os seres que procuram atrair para se tornarem dignos da suprema felicidade. Deus se irradia sobre eles e lhes transmite suas ordens; eles o veem sem serem ofuscados por sua luz.

Sua forma é etérea, nada tendo de palpável; falam aos Espíritos Superiores e lhes comunicam sua ciência; tornam-se infalíveis. Em suas fileiras é que são escolhidos os anjos da guarda, que bondosamente baixam o olhar sobre os mortais e os recomendam aos Espíritos Superiores que os amaram. Estes escolhem os agentes de sua direção nos Espíritos de segunda ordem. Os Espíritos puros são iguais, e nem poderia ser de outro modo, pois somente são chamados a essa posição depois de haverem atingido o mais alto grau de perfeição. Há igualdade, mas não uniformidade, porquanto não quis Deus que nenhuma de suas obras fosse idêntica. Os Espíritos puros conservam sua personalidade, que apenas adquiriu a perfeição mais completa no sentido de seu ponto de partida.

Não é permitido dar mais detalhes sobre esse mundo supremo. (Grifos nossos) Georges[10]

Analisemos: o primeiro parágrafo da comunicação, apenas nos fala dos Espíritos puros.

Agora vejamos estas 4 frases que foram retiradas do segundo:

1. Sua forma é etérea, nada tendo de palpável;

2. falam aos Espíritos Superiores e lhes comunicam sua ciência; tornam-se infalíveis.

3. Em suas fileiras é que são escolhidos os anjos da guarda, que bondosamente baixam o olhar sobre os mortais e os recomendam aos Espíritos Superiores que os amaram.

4. Estes escolhem os agentes de sua direção nos Espíritos de segunda ordem.[11] 

Vejamos: a primeira frase ainda está se referindo aos Espíritos puros.

Na segunda, também, mas agora temos uma informação estra: a que eles, os Espíritos puros, se comunicam com os Espíritos superiores.

Na terceira é que se faz confusão, pois ela começa dizendo que “em suas fileiras”. Mas pode-se perguntar: fileiras de quem? Respondemos: caros leitores, não estamos falando dos Espíritos puros, então é claro que essas fileiras pertencem a eles. Continuando, são nessas fileiras que os anjos da guarda são escolhidos. Ainda nesta mesma frase também podemos verificar que quem “bondosamente baixa o olhar sobre os mortais” são os anjos da guarda descritos logo atrás. A grande confusão vem agora, com a frase: “e os recomendam aos Espíritos Superiores que os amaram”. Muitos pensam que esses “Espíritos superiores” são os mesmos daqueles citados na segunda frase. Mas não, esses são apenas superiores aos mortais de quem falamos logo anteriormente.

Na quarta é retomada a narrativa do assunto original. Tanto que é dito: “Estes escolhem os agentes de sua direção nos Espíritos de segunda ordem”. Perguntarão alguns: “mas estes quem?” Não se está falando dos PUROS ESPÍRITOS, então é deles que se refere a frase em questão.

O restante continua nos mostrando os Espíritos puros.

 

3 - Conclusão

Não há a menor dúvida de que esta interpretação de texto está correta. E acrescentamos: “Quem tem ouvidos, ouça”.[12]

Podemos dizer que a “chave do problema” está na terceira frase. Mas para a explicar devidamente, tivemos que acrescentar as 4 primeiras do segundo parágrafo.

Vale dizer a todos que na comunicação do Espírito Georges, aqui exposta acima, não teve nenhuma crítica ou censura da parte de Allan Kardec.

Sendo assim, como nos diz o adágio popular: “quem cala consente”, está mais que aprovada a assertiva, ou seja, de que: “os nossos “anjos da guarda” são escolhidos entre os ESPÍRITOS PUROS ou PUROS ESPÍRITOS”.

Como quiserem.


 


[1] (LEOFFLER, C. F. Fundamentação da Ciência Espírita, p. 255.).

[2] (William James, citado por: Joel L. Whitton e Joe Fisher, Vida transição vida – Explorações científicas no tempo de transição entre uma encarnação e outra. São Paulo: Pensamento, 1992, p. 85.).

[3] KARDEC, A. Revista Espírita set/1860, FEB, (PDF), p. 386.

[4] Id. pp. 387-388.

[5] Id. pp. 388-389.

[6] KARDEC, A. Revista Espírita nov/1860, FEB, (PDF), p. 493.

[7] KARDEC, A. Revista Espírita fev/1861, FEB, (PDF), pp. 62-63.

[8] KARDEC, A. Revista Espírita dez/1864, FEB, (PDF), pp. 470-471.

[9] Biografia de Allan Kardec, escrita por Henri Sausse em O que é o Espiritismo, FEB, (PDF), 56a edição – 7a impressão – 1,2 mil exemplares – 11/2019, p. 13.

[10] KARDEC, A. Revista Espírita out/1860, FEB, (PDF), pp. 463-464.

[11] Id. p. 463.

[12] Mateus 11,15 - Jesus.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita