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por Temi Mary Faccio Simionato

 

Esquecimento do passado


Examinando o esquecimento temporário do pretérito no campo físico, é importante considerar cada existência por estágio de serviço, em que a alma readquire no mundo o aprendizado que lhe compete. Surgindo o período entre o berço que representa o início da caminhada na Terra e o túmulo que determina a cessação desta jornada, reconheceremos nossa ligação com a vida imortal.

Ao iniciarmos uma nova existência corpórea receberemos implementos cerebrais completamente novos no domínio das energias físicas e, para que a memória seja adormecida, há hipnose natural como recurso básico, uma vez que, em muitas ocasiões dormimos em pesada letargia, muito tempo antes de sermos acolhidos ao abrigo materno.

Assim o Espírito reencarnado retoma a herança de si mesmo, reavendo patrimônio das realizações e das dívidas que acumulou a se agravarem no ser, em forma de tendências inatas. Reencontrando, desse modo, pessoas e circunstâncias, simpatias e aversões, vantagens e dificuldades com as quais se ache comprometido.

Desta forma, mergulhado (Espírito) na vida corpórea, perde momentaneamente, a lembrança de existências anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia, conserva algumas vezes vaga consciência dessas vidas que, em certas circunstâncias, poderão ser reveladas. Porém, esta revelação somente os Espíritos superiores poderão fazer espontaneamente, com um fim útil, nunca para satisfazer a vã curiosidade.

Durante a vida corpórea não temos lembrança exata do que fomos, nem do bem e do mal que fizemos em existências anteriores, mas de tudo isso temos a intuição, que é a nossa consciência e o desejo de não mais reincidir nas faltas cometidas anteriormente.

O livro O Consolador, questão 370, esclarece: “Será lícito investigarmos com os Espíritos amigos as nossas vidas passadas? Essas revelações quando ocorrem traduzem responsabilidade para os que a recebem? Resposta: Se estais submersos em esquecimento temporário, esse olvido é indispensável à valorização de vossas iniciativas. Não deveis provocar esse gênero de revelações, porquanto os amigos espirituais conhecem melhor as vossas necessidades e poderão provê-las em tempo oportuno, sem quebrar o preceito da espontaneidade exigido para esse fim. O conhecimento do pretérito, através das revelações ou das lembranças, chega sempre que a criatura se faz credora de um benefício como esse, o qual se faz acompanhar, por sua vez, de responsabilidades muito grandes no plano do conhecimento; tanto assim que, para muitos, essas reminiscências costumam construir um privilégio doloroso no ambiente das inquietações e ilusões da Terra”.

Portanto, traria gravíssimos inconvenientes nos lembrarmos das nossas individualidades anteriores. Em certos casos, seria sobremaneira humilhante, e, em outros, nos exaltaria o orgulho sufocando-nos em consequência do livre-arbítrio. Todavia, para nos melhorarmos, Deus nos dá exatamente o que é necessário e bastam: a voz da consciência e os pendores instintivos, privando-nos do que nos prejudicaria.

Se em cada existência é lançado o véu sobre o passado, o Espírito nada perde do que granjeou no pretérito, só esquece a maneira como o adquiriu. Assim, ao reencarnarmos trazemos por intuição e com ideias natas o que alcançamos em ciência e em moralidade, pois se durante uma existência houve uma melhora, se as lições da experiência foram aproveitadas, ao voltarmos seremos instintivamente melhores. Assim, o Espírito, amadurecido na escola do sofrimento e do trabalho, terá mais solidez.

Por isso é importante lembrar que o esquecimento temporário é um benefício da Providência. A experiência é muitas vezes adquirida por rudes provas e terríveis expiações, cuja lembrança seria muito penosa e viria somar-se às angústias das tribulações da vida presente. Entendemos, então, que a lembrança do passado traria perturbações às relações sociais e seria um entrave ao progresso. Portanto, agradeçamos o carinho dos Espíritos generosos, encarnados e desencarnados, que nos amparam a experiência, aplicando-nos as lições de que são mensageiros, no entanto, apenas a presença deles não nos basta para o nosso aprimoramento individual. Recordemos que nem os companheiros da glória do Cristo escaparam ao impositivo do serviço constante.

Os apóstolos que conviveram com Jesus não repousaram ante as flamas do Pentecostes, mas seguiram luta adiante, de renúncia em renúncia, adquirindo pouco a pouco a grande libertação. Desta forma, lembremo-nos de Saulo de Tarso que, visitado pelo Mestre, não parou sob o jorro solar da senda de Damasco, mas avançou de suplício em suplício assimilando, a preço de sofrimento, o dom da divina luz.

Assim sendo, guardemos a convicção de que todos os benfeitores desencarnados são agentes do bem para todos e com todos. Disse Jesus: “Quem me segue não anda em trevas”. João, 8:12.

Se acompanharmos os bons Espíritos que em tudo se revelam companheiros fiéis do Cristo, deixaremos para sempre as sombras da retaguarda e avançaremos para Deus sob a glória da luz.


Bibliografia
:

XAVIER, Francisco Cândido – Seara dos Médiuns – ditado pelo Espírito Emmanuel – 20ª edição – Editora FEB – Brasília/DF – lições 8 e 90 – 2015.

Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos – 16ª edição – Editora FEESP – São Paulo/SP – questões: 392, 393, 394 e 399 – 2015.

XAVIER, Francisco Cândido – Religião dos Espíritos – ditado pelo Espírito Emmanuel – 22ª edição – Editora FEB – Brasília/DF – lição 45 – 2013.




 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita