Brasil
por Ana Moraes

Ano 14 - N° 707 - 7 de Fevereiro de 2021

Auta de Souza, uma das glórias da poesia brasileira


Num dia como hoje, 7 de fevereiro, em Natal (RN), desencarnou em 1901, aos 24 anos de idade, a poetisa Auta de Souza.

Auta de Souza integra o grupo de poetas desencarnados que participaram da primeira obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier, Parnaso de Além-Túmulo, publicada pela Federação Espírita Brasileira no ano de 1932, quando o saudoso médium contava apenas 22 anos de idade. Desde então, ela participou ativamente do trabalho realizado por Chico Xavier no campo da mediunidade, destacando-se pelos lindos sonetos que compõem sua obra literária post mortem.

Nascida em 12 de setembro de 1876, em Macaíba (RN), Auta de Souza teve como pais Eloi Castriciano de Souza, desencarnado aos 38 anos de idade, e Henriqueta Rodrigues de Souza, desencarnada aos 27 anos, ambos vitimados pela tuberculose. Antes de haver completado 3 anos ela ficou órfã de mãe e aos 4 anos de pai.

Ela e seus quatro irmãos foram criados em Recife (PE), no velho sobrado do Arraial, por sua avó materna Silvina Maria da Conceição de Paula Rodrigues e seu esposo Francisco de Paula Rodrigues, que desencarnou quando Auta tinha apenas 6 anos.

Antes dos 12 anos, foi matriculada no Colégio São Vicente de Paulo, no bairro da Estância, onde recebeu carinhosa acolhida por parte das religiosas francesas que o dirigiam e lhe ofereceram primorosa educação: Literatura, Inglês, Música, Desenho e também o Francês, o que lhe permitiu ler no original obras de Lamartine, Victor Hugo, Chateubriand e Fénelon.

De 1888 a 1890, a jovem Auta estudou, recitou, versejou, ajudou as irmãs do Colégio e aprimorou a beleza de sua fé, na leitura constante do Evangelho.

Desde muito cedo, porém, enfrentou seguidas vicissitudes. Aos quatorze anos, quando lhe apareceram os primeiros sintomas da tuberculose, que a vitimou, ela já havia experimentado a orfandade e, aos dez anos, a perda de seu querido irmão Irineu Leão Rodrigues de Souza, vitimado pelo fogo produzido pela explosão de um lampião de querosene, na noite de 16 de fevereiro de 1887.

O que a confortou e a salvou do desespero foi a fé religiosa e o resignado exemplo da ignorada heroína para quem escreveu o soneto A minha Avó.

Auta de Souza publicou um único livro, Horto, que é, em verdade, a história de uma grande dor, fato que concorreu para acentuar sua maravilhosa sensibilidade.

A primeira edição do livro, prefaciado por Olavo Bilac, apareceu em 1900 e se esgotou em três meses. A segunda edição, ocorrida em Paris em 1910, traz uma biografia da autora escrita por seu irmão Henrique Castriciano. Em 1936 foi publicada a 3ª edição, prefaciada por Alceu de Amoroso Lima, e em 1970, com patrocínio da Fundação José Augusto, da capital norte-riograndense, foi publicada a 4ª edição. Em 14 de novembro de 1936 houve a instalação da Academia Norte-Rio Grandense de Letras, com a poltrona XX, dedicada a Auta de Souza.

A primeira edição de Horto foi recebida com elogios pela melhor crítica do país; leram-no os intelectuais com avidez; mas a verdadeira consagração veio do povo, que se apoderou dele com devotado carinho, passando a repetir muitos de seus versos ao pé dos berços, nos lares pobres e até nas igrejas.

No ano seguinte ao surgimento do livro ocorreu em fevereiro o falecimento da poetisa.

Livre do corpo, totalmente desgastado pela enfermidade, Auta de Souza, irradiando luz própria, lúcida e gloriosa alçou voo em direção à Espiritualidade Maior. Mas a compaixão que sempre sentira pelos sofredores fez com que ela, em companhia de outros Espíritos caridosos, visitasse constantemente a crosta da Terra. E foi então, através de Chico Xavier, que ela, pela primeira vez, revelou sua identidade, transmitindo suas poesias que foram enfeixadas em 1932, na primeira edição do Parnaso de Além-Túmulo.

Em 1976 foi publicado o livro Auta de Souza, com poemas de sua autoria psicografados por Chico Xavier. Nessa obra é reproduzido o relato feito pelo médium ao dr. Elias Barbosa a respeito do primeiro encontro que ele teve com o Espírito de Auta Souza. Chico disse-lhe na oportunidade:

“Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou de mim o espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a chorar de emoção, sem saber, naquele momento, se meus olhos eram os dela ou se os olhos dela eram os meus. Mais tarde, soube, por nosso caro Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio Grande do Norte".

O soneto a que Chico Xavier se referiu intitula-se "Nossa Senhora da Amargura", que, segundo o médium, foi publicado pelo Almanaque de Lembranças, de Lisboa, na sua edição de 1932.

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita