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por Martha Triandafelides Capelotto

 

A autoilusão


“Abandonai a ilusão, antes que a ilusão vos abandone.”


Observando o comportamento da nossa humanidade, principalmente no meio religioso, vamos perceber que muitos de nós, para não dizer a grande maioria, vivemos iludidos no tocante à nossa condição, ilusões decorrentes das nossas limitações que impedem a percepção dos sentimentos que criam ou determinam nossos raciocínios.

Para que o conteúdo desse texto se faça compreensível, precisamos definir ilusões como aquilo que pensamos, mas que não corresponde à realidade e que nos distancia da Verdade. Em todos os setores da vida, e não só no religioso, observamos que muitos dos entraves, das dores, das decepções, traumas, culpas, frustrações e todo um conjunto de inclinações e tendências encontram sua matriz nas ilusões. Na verdade, a ilusão é um mecanismo de defesa face às dificuldades que encontramos para lidar com as emoções. Escondemo-nos por detrás de uma imagem que criamos de nós mesmos para resguardarmos autoridade social ou outro qualquer valor que desejamos manter.

Assim, podemos depreender que o iludido se esconde de si mesmo, criando um “eu ideal” para abrandar o sofrimento que lhe causa a angústia de ser o que é, fugindo de si mesmo. E qual a razão para essa fuga? O sentimento de inferioridade que ainda assinala a caminhada da maioria dos habitantes da Terra, que somente será abrandado depois de sucessivas reencarnações, nas quais deveremos trabalhar referido sentimento, sob pena de falência nos planos de ascensão espiritual.

Emmanuel, prefaciando o livro “No Mundo Maior” de André Luiz, diz-nos que “Todos os dias, nos quatro cantos da Terra, partem viajores humanos, aos milhares, demandando o país da Morte. Vão-se de ilustres centros da cultura europeia, de tumultuárias cidades americanas, de velhos círculos asiáticos, de ásperos climas africanos. Procedem das metrópoles, das vilas, dos campos... Raros viveram nos montes da sublimação. A maioria constitui-se de menores de espírito, em luta pela outorga de títulos que lhes exaltem a personalidade”. A morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste e nunca seremos promovidos a anjos, sem antes derrubarmos todas as máscaras das ilusões que criamos, desejando que os outros creiam sobre nós o que ainda não somos.

Também encontramos judiciosa lição no livro “Reforma Íntima sem martírios”, de Ermance Dufaux, quando ela exemplifica os vários comportamentos revestidos de ilusão, dizendo: “O iludido, quando ambicioso, chega às raias da usura; quando dominador, chega aos cumes da manipulação; quando vaidoso, guinda-se aos pântanos da supremacia pessoal; quando cruel, atola-se ao lamaçal do crime; quando astuto, atira-se às vivências da intransigência; quando presunçoso, escala os cumes da arrogância; e, mesmo quando esclarecido espiritualmente, lança-se aos píncaros do exclusivismo, ostentando qualidades que, muita vez, são adornos frágeis com os quais esnoba superioridade que supõe possuir.

Desse modo, urge que nós iniciemos um processo de destruição dessas máscaras para encontrarmos o “eu real” que estamos ignorando há milênios, despertando a luz que ignoramos estar em nossa intimidade à espera da vontade para utilizá-la, lembrando que a nossa evolução não se opera em saltos, mas gradativamente. O processo educacional da alma é paulatino.

Paulo, o apóstolo da renovação, indica-nos uma sublime recomendação: “Olhais para as coisas segundo a aparência? Se alguém confia de si mesmo que é de Cristo, pense outra vez isto consigo” (...) – Coríntios, 10:7.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita