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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Otimizando a vida


Nem sempre as pessoas valorizam a vida, assim como os benefícios espirituais que ela proporciona. Não raramente reclamamos com intensidade e veemência de quase tudo o que nos cerca. Razões para tal não nos faltam, pois, afinal de contas, habitamos um mundo sofrido, desorganizado e caótico. Mas é preciso também reconhecer que, se tivermos um mínimo senso de justiça, a intervenção humana está longe de refletir os ideais divinos. E não é por outra razão, portanto, que se divisam ainda paisagens tão aflitivas na Terra.

Mesmo recebendo oportunidades extraordinárias ao seu êxito, as criaturas humanas insistem em não avançar. A via da razão e da lógica parece não motivar a maioria que, assim, acaba se perdendo por causa de condutas doentias. Em consequência, a espiritualidade se vê na necessidade de ministrar remédios mais amargos aos Espíritos recalcitrantes. Quantos retornam aos palcos da vida corpórea cercados de carinho, saúde, oportunidades, mas acabam desperdiçando tais dádivas? Certamente um número significativo.

Posto isto, chamou-me a atenção o desencarne, por problemas respiratórios, em novembro passado, de Paulo Henrique Machado (1967-2020), paciente do Hospital das Clínicas de São Paulo por 51 anos. Paulo contraiu poliomielite pouco tempo depois de reencarnar – sua mãe faleceu dois dias depois do seu nascimento –, e desde um ano e meio de idade vivia no famoso hospital. O aparelho de respiração artificial fora seu fiel companheiro por longos anos.

Apesar das suas inúmeras dificuldades e limitações devido à doença, Paulo dedicou-se com afinco aos estudos, conseguindo aprender a ler e escrever. Chegou a concluir o ensino médio, assim como fez diversos cursos de informática na área de softwares, assunto pelo qual, aliás, era extremamente apaixonado. Ele divulgava a sua experiência de vida no seu canal do YouTube e em sua página do Facebook. A sua paixão por tecnologia, games e cultura geek (que foca em pessoas altamente interessadas por tecnologia, assim como em tudo que é novo) somados à sua própria vivência, levou-o a criar uma série de desenhos animados voltados ao público infantil. Assim sendo, As Aventuras de Léca e Seus Amigos relatam a história de sete crianças portadoras de deficiência física e igualmente recordam amigos de Paulo que sucumbiram à penosa doença.

Paulo, por razões óbvias, saía muito pouco do hospital. “Vale muito a pena viver” era o seu bordão preferido ao iniciar os vídeos que apresentava nas redes sociais. Infelizmente, não tive a oportunidade de conhecê-lo, mas sei que ele tinha razão. Afinal, a vida é uma bênção que precisamos valorizar e agradecer todos os dias. Ele certamente soube extrair o melhor de seu interior para saudá-la. Nesse sentido, Paulo foi um exemplo incrível! Ele mostrou que todos nós podemos dar algo em troca pela excepcional oportunidade de viver.

Como espírita, imagino a duríssima e redentora trajetória desse irmão nesta encarnação. Imagino ainda a surpresa de Paulo, se ainda não ocorreu, de se ver cercado de entidades carinhosas, parentes e amigos que o antecederam no além-túmulo. Imagino ainda a alegria dele ao poder retomar a abençoada oportunidade de andar livremente. Imagino a sua surpresa ao ser informado dos antecedentes de tão difícil experiência, assim como da necessidade de empreender uma reencarnação reparadora. Imagino a sua alegria em saber que não fora, em momento algum, abandonado pela misericórdia divina. Imagino a sua felicidade em poder respirar a longos haustos o ar quintessenciado da dimensão espiritual. Imagino, por fim, o seu olhar ao receber a notícia de que é, enfim, um Espírito Vencedor.

Seja feliz, Paulo!


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita