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por Bruno Abreu

 

A criação do sofrimento


A maioria de nós foge de forma desesperada do sofrimento que lhes aparece na vida. Não me refiro ao sofrimento físico, mas ao sofrimento psicológico.

O sofrimento físico é aquele que aparece em consequência de um problema biológico, ou seja, de uma ferida, de uma fratura ou até de uma doença. Este é de grande importância, pois é uma sequência, após alteração biológica, para nos alertar de um perigo, por exemplo a gastrite e as dores abdominais.

O sofrimento psicológico são todos os outros que não se enquadram no sofrimento físico, embora existam muitos casos em que os sofrimentos psicológicos causam dores físicas, tal como causam doenças, mas não vamos entrar nesta correlação entre a parte psíquica e o corpo físico.

O sofrimento psicológico é uma constante terrena, causada pela própria humanidade e este está relacionado com a necessidade de evolução e a sua forma de acontecer.

Já todos ouvimos falar que criamos a nossa realidade, isto dito pelas ciências psíquicas terrenas, como espíritas, aprendemos que passamos por aquilo que necessitamos de passar.

O que necessitamos de passar é o que ainda não compreendemos, o que falhamos no passado. Como falhamos em nosso passado, este se torna o nosso carma, para que voltemos a passar por experiências semelhantes. O carma ou Lei de Causa Efeito gera este sistema, o que fazemos dita o nosso futuro, o que vai de encontro a criação da realidade que as ciências psíquicas concluíram.

Por que temos tendência ao sofrimento?

O ser humano não tem uma tendência ao sofrimento, na verdade, ele cria o sofrimento, ou seja, ele não percorre em direção ao sofrimento, quando dizemos tendência, parece-nos que se dirige a este, mas ele envolve-se deste, criando-o de dentro para fora.

O sofrimento não foi criado na altura que o vivemos, mas criado ao longo da vida terrena, mesmo que este ainda não tenha acontecido, funciona um pouco como a morte do corpo físico, esta é criada quando o bebé nasce, não quando acontece, pois, com o nascimento acontece a obrigação do desencarne, são as duas faces de uma mesma moeda.

Temos o hábito de nos afirmarmos como espíritos reencarnados, mas depois confundimo-nos com a personagem terrena que vivencia a reencarnação. Esta personagem não é mais do que, um conjunto de vontades e apegos, que acolhemos das experiências ao longo da vida. Quando nós desenvolvemos o nosso caracter, este é constituído de certos e errados, de desejos e fugas, de opiniões e por aí fora.

A maior prova disso é a reencarnação, pois para a próxima serei uma personagem diferente no maior palco de teatro humano, que é a vida terrena, como lhe chamava Shakespeare.

De todos os apegos que temos, o mais estridente, é a esta personagem, de tal forma que acreditamos que o somos, logo, o desejo mais importante para nós é que a vida corra como queremos, pois, esta personagem é constituída por desejos, e este é a maior causa do sofrimento humano.

É fácil de percebermos que num planeta, com sete mil milhões de seres humanos, repletos de desejo que a sua vida corra do seu jeito desejado, terá de existir caos e sofrimento, pois este nasce da existência da individualidade.

Nós somos seres muito limitados, qualquer pessoa tem consciência disto, mas queremos que este movimento da vida, caiba dentro do desejo de como queremos que esta decorra.

A vida vai decorrendo, sem que nos pergunte como deve acontecer, apresentando os seus obstáculos. Estes obstáculos são naturais, muitos aparecem como consequência de nosso passado, outros são apenas obstáculos para nos fazerem mexer e crescer.

Nós adoramos controlar, por isso desejamos que tudo aconteça como imaginamos, para que não fuja ao nosso controle. Quando nos deparamos com os obstáculos, revela-se este enorme desejo, mãe da indignação, que nasce impulsivamente perante a situação. É fácil perceber que daí vem o sofrimento, pois aconteceu diferente do que queria.

O sofrimento é a consequência de medirmos forças com a vida, de um lado o braço de ferro do desejo de como sabemos e queremos controlar a nossa vida, do outro a vida, que não gosta de usar coleira para ser conduzida.

Algumas vezes, acabamos por desencarnar sem nunca termos permitido que a vida pudesse agir sem que nós desejássemos diferente, ou seja, não é que nós não permitamos a vida, pois este enorme movimento não precisa de permissão, mas que a tenhamos vivido sem que houvesse indignação de nossa parte, então acontece uma reencarnação de muito sofrimento.

Por vezes, pessoas que sentem que tem tudo, vivem angustiadas por dentro e não percebem por quê.

Quando refiro ao movimento da vida, refiro também aos outros, ao desejo que temos que os outros sejam como queremos e a forma como, inconscientemente, os obrigamos a agir, conforme nossos parâmetros. Pode-nos parecer que não andamos atrás de ninguém, a exigir que seja como queremos, mas a sensação que sentimos de ofensa, de raiva ou de zanga, de contrariedade que nasce na indignação, tem origem nos parâmetros desejados por nós, consciente ou inconsciente.

Esta forma de viver, para além de ser turbulenta para nós, também o é para os outros.

Nós temos muita dificuldade em ser diferentes, porque também somos assim para nós próprios, passamos a vida a nos cobrar, a nos magoar, a ofender, porque criamos os tais parâmetros de forma inconsciente, na nossa forma de caracter, idealizamos a vida e depois andamos de “vara curta” com nós próprios, maltratando-nos, gerando a angustia sem culpa aparente.

Confiar que vivemos o que temos de viver e vivenciá-lo pacificamente é a principal forma de abandonarmos a criação do sofrimento, pois desejar que a vida seja como queremos é colocarmos um oceano em um aquário, a única coisa que podemos fazer é tentar.     
 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita