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por Gebaldo José de Sousa

 

Lei de Ação e Reação: por que entendê-la?


A existência dessa Lei e o seu real significado é desconhecida por grande parte da humanidade. Fato que levou boa parte dos seres humanos ao egoísmo e ao materialismo feroz. Ambos frutos do desvirtuamento da mensagem de Jesus, ao longo dos séculos, por adulterações e falsas interpretações introduzidas por aqueles que deviam insculpi-la e perpetuá-la nos corações que os ouviam, sedentos de luz.

A conduta humana seria outra, se soubéssemos que tudo que doamos à vida volta para nós: quaisquer pensamentos e atos geram resultados da mesma natureza para nós próprios, com longos e dolorosos períodos de reparações pelos erros cometidos. Não haveria os desatinos que se vê, tempos após o Mestre havê-la enunciado.

“(...) o Filho do homem há de vir (...) e então retribuirá a cada um conforme as suas obras.” Mt, 16:27.

Ou seja, Ele nos retribuirá por nossas ‘obras’, com reações da mesma natureza!

Aqueles a quem coube a pregação da mensagem do Mestre não quiseram; não puderam; não a compreenderam; ou, ainda, a desvirtuaram propositalmente! Fatos escabrosos, desenvolvidos por séculos, por esses ‘religiosos’, justificam essas conclusões!

Noutra parte, de linear clareza, Jesus ilustra esse princípio ao dizer a Pedro:

“(...) Embainha a tua espada; pois todos que lançam mão da espada, à espada perecerão” Mt, 26:52.

João Evangelista (Jo, 18:10) informa que foi Pedro a puxar a espada, cortando a orelha direita de Malco, servo do sumo sacerdote. E é Lucas (Lc, 22:51) quem assinala que o Mestre tocou-lhe a orelha e a curou!

O Mestre sempre exemplificou o que ensinava, em todas as oportunidades.

Neste caso, destaca-se a submissão aos desígnios do Pai. Agredido, ofereceu a outra face. Jamais se vingou! Confiou em Deus até o limite extremo de ‘perder’ a vida física!

Também nós não compreendemos ainda o que nos expôs no Evangelho, eis que não vivenciamos Suas lições sublimes.

Essa é tarefa para múltiplas reencarnações, porque o ‘homem velho’ ainda grita em nosso íntimo, resistindo às mudanças indispensáveis à conquista da verdadeira liberdade. Andamos em círculos, sem ousarmos realizar um ponto de inflexão, na direção da liberdade, buscando outros caminhos e aprendendo a renunciar ao mundo, vencendo-o!

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Porque Deus submete os povos a provações para acelerar sua evolução.

Para compreender os tempos atuais, consultemos o Codificador (1):

[NOTA de Kardec: Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados na linha de frente a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais às produções da terra. (...) Que não fará, então, o homem pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar-se de todos os recursos da sua inteligência e quando, sem prejuízo da sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento de verdadeira caridade para com os seus semelhantes?] (1)

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Importância da Religião, da Fé e da oração

É quase sempre em nosso retorno à vida espiritual que nos damos conta de nossos equívocos, de nosso descaso para aquilo que realmente conta para Espíritos imortais.

Eis o que se revelou sobre André Luiz, Espírito:

“Depois de muito sofrimento, compreendeu que os princípios puramente filosóficos, políticos e científicos apresentavam-se como extremamente secundários para a vida humana. O problema religioso era prioritário. Tinha sede de fé”. (2)

E ele próprio reconhece sua carência de consolo:

“Eu, que detestara as religiões no mundo, experimentava agora a necessidade de conforto místico”. (3)

“Ah! É preciso haver sofrido muito, para entender todas as misteriosas belezas da oração; é necessário haver conhecido o remorso, a humilhação, a extrema desventura, para tomar com eficácia o sublime elixir de esperança.” (3)

Define a oração com magistral beleza: sublime elixir da esperança!

Sua mãe o acompanhava de regiões superiores e intercedeu para que fosse amparado, após extenso período de sofrimentos, de purgação e de pedido de socorro.

Também o Irmão Jacob – espírita por sua vez – anota que não utilizou o tempo como devia. Ele e muitos de seus contemporâneos, com quem se encontrou no além:

“Lastimavam todos, qual ocorria a mim mesmo, não haverem aproveitado as horas no corpo físico, dentro da eficiência desejável. Poderíamos ter concretizado muito mais o nosso idealismo cristão na causa que abraçáramos, se tivéssemos usado a aplicação com o mesmo ímpeto com que procurávamos conforto no campo do ensinamento”. (4)

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Lamentos que serão nossos – quase sem exceção –, no encontro com a própria consciência, no retorno à Pátria verdadeira. Conhecermos essas verdades espirituais, a nós reveladas pela Doutrina Espírita, será agravante às dores morais que sentiremos, eis que:

“Muito se pedirá àquele a quem muito se tiver dado (...)”. Lc, 12:48.

E que dizer dos que falham nos deveres que têm com a comunidade e se omitem? E mais, quando desviam recursos indispensáveis ao amparo e à melhoria das condições de vida das populações a que deviam servir?

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Ao tempo de Allan Kardec havia espíritas vinculados a diversos cultos. Liam e estudavam obras espíritas não só católicos, mas também padres e outros religiosos:

“(...) já dissemos que o clero não é unânime em sua reprovação contra o Espiritismo. Conhecemos pessoalmente vários eclesiásticos muito simpáticos a essa ideia, aceitando todas as suas consequências. Eis uma prova bem característica no fato seguinte, bem recente, (...)

Num vagão de estrada de ferro achavam-se dois senhores, um cientista materialista e ateu extremado, e seu amigo, que, ao contrário, era muito espiritualista. Discutiam calorosamente, cada um sustentando sua opinião. Numa estação subiu um jovem padre, que a princípio escuta e logo depois participa da conversa. Dirigindo-se ao incrédulo, diz-lhe: Parece, senhor, que em nada acreditais, nem mesmo em Deus? – Confesso que é verdade, senhor padre, e ninguém ainda conseguiu me provar que eu esteja em erro. – Pois bem, senhor, eu vos aconselho a ir aos espíritas para crerdes. – Como! Senhor padre, sois justamente vós que me falais assim? – Sim, senhor, e digo isto porque é a minha convicção. Sei, por experiência, que quando a religião é impotente para vencer a incredulidade, o Espiritismo triunfa. – Mas que pensaria o vosso bispo se soubesse o que acabaste de dizer-me? – Pensaria o que quisesse, e eu o diria a ele próprio, pois tenho por hábito não ocultar o meu modo de pensar”.  (5)

E, a seguir, dá outro exemplo: um dos mais fervorosos adeptos da Doutrina Espírita, ao visitar um de seus tios, que era cura de aldeia, viu que ele lia O Livro dos Espíritos. E indaga-lhe se não temia ‘ficar danado’.

“– Ao contrário, esta doutrina me tranquiliza quanto ao futuro, pois hoje compreendo muitos mistérios que não havia compreendido, mesmo no Evangelho.” (5)

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"O Livro dos Espíritos contém as bases fundamentais do Espiritismo; é a pedra angular do edifício; todos os princípios da doutrina aí estão expostos, (...)." (6)

Destacamos alguns desses princípios – detalhados no Cap. VI de sua Introdução:

Existência de Deus;

Existência dos Espíritos e sua imortalidade;

Natureza dos Espíritos. Suas relações com os homens;

Lei da Evolução (Progresso infinito dos Espíritos: criados simples e ignorantes);

Reencarnação (pluralidade das existências e dos mundos  habitados);

Fé raciocinada;

Lei de Causa e Efeito ou de Ação e Reação;

O livre-arbítrio;

Esquecimento do passado;

As leis morais — Reforma íntima.

Observá-los leva-nos à evolução consciente.

Todas são importantes, mas ignorar a Lei de Ação e Reação mantém-nos em círculos de dores superlativas, em múltiplas reencarnações!

O Universo é Moral, e as Leis Divinas o sustentam.

Para adotá-las basta-nos exercitar outra Lei: a do Livre-arbítrio, mas fazendo boas escolhas, atentos às recomendações de Paulo:

“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém!”  1 Co, 6:12.

E nossas dores revelam que buscamos sempre o que não nos convém!

É tempo de mudar e aprendermos a amar a nós mesmos!

 

Referências:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1.  impr. Rio de Janeiro: FEB, 2011, Nota de Kardec à q. 741, p. 459.

2. NOBRE, Marlene. Nossa Vida no Além. 1. ed. São Paulo: FE Editora Jornalística, 1998, p. 86.

3. XAVIER, Francisco C. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz. 61. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010, p. 24.

4. XAVIER, Francisco C. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 7. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 11/1979, Cap. 15, p. 143.

5. KARDEC, Allan. Revista Espírita. Ano sexto – 1863. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. O Espiritismo na Argélia, p. 485/6.

6. KARDEC, Allan. Revista Espírita. Ano oitavo – 1865. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Nota Bibliográficas, p. 378.

 


 


 

 

     
     

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