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por Leda Maria Flaborea

 

A verdade nos libertará, certeza de Jesus


“O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam em não me entregarem aos judeus. Mas agora meu reino não é daqui.” – Jesus (João, 18:36.)


Estas foram as palavras de Jesus a Pôncio Pilatos quando este perguntou ao Mestre se Ele era rei.

Jesus fala nesta passagem do reino de Deus e, a fim de entendermos a essência desse ensinamento, procuremos compreender o que essa expressão significa. Tomemos a expressão reino de Deus como sinônimo de felicidade plena (conceito espiritual) e felicidade como sendo igual à ausência de problemas (conceito humano).

Todos nós imaginamos que uma vida feliz é uma vida sem dificuldades, sem sustos ou medos. Enfim, uma vida sem preocupação. E isso é tão verdadeiro que costumamos dizer que nossa vida, quando não existem tropeços, é um céu ou um mar de rosas. Por causa desse conceito de felicidade, muitos trabalhadores da seara de Jesus, enganados por ilusões transitórias, afastam-se da vida do mundo passando a viver uma existência contemplativa, esquecendo-se de que Jesus fez essa afirmação, mas não se afastou do planeta. Levou até o final a sua missão. Isto nos faz perceber, claramente, que a vida terrena é de fato cercada de dificuldades e só terá sentido vivê-la se nos conscientizarmos disso. Então, a vida planetária e dificuldades caminham juntas. Se assim não fosse, Jesus teria afastado de si todos os obstáculos para que Ele mesmo não sofresse o que sofreu.

Existem ainda outros companheiros que acreditam ser a vida na Terra um mar de sofrimentos, e que só serão felizes quando passarem a viver no mundo espiritual. Costumam dizer: “Aí, sim, vou descansar”. Entretanto, aprendemos através de leituras, palestras e cursos, enfim, das mais variadas formas de comunicação, que a vida espiritual não é um campo florido onde permanecemos na ociosidade, no gozo das benesses divinas, simplesmente pelo fato de não estarmos mais no corpo físico. Muito pelo contrário, já temos conhecimentos suficientes para saber que seremos lá o que formamos aqui e que as benesses divinas virão de acordo com nossas reais necessidades.

Parece-nos, então, que o nosso conceito de felicidade está errado ou pelo menos não estamos entendendo o significado das afirmações de Jesus.

Vamos agora prestar atenção à segunda parte da frase: “mas agora meu reino não é daqui”. Podemos perceber que em momento algum Jesus disse que Seu reino não seria na Terra. Ele afirma que naquele momento pelo qual o planeta passava, seu reino não estava estabelecido. Entretanto, a confiança dele de que em algum momento isso efetivamente aconteceria, não deixa margem de dúvida ao usar a palavra “agora”.  Ele confia nessa mudança através da transformação do homem, e tanto isso é verdadeiro que permanece nos amparando, curando nossas feridas morais, lembrando-nos de que os problemas humanos no planeta são transitórios, apesar das enormes dificuldades que atravessamos.

Isto nos faz entender que a presença do reino de Deus em nossa vida está ligada à proposta de mudança do nosso ponto de vista em relação à verdadeira realidade, e não a que supostamente imaginamos que seja ela. E como poderemos realizá-la? Podemos, primeiramente, estabelecer o que realmente necessitamos e não o que imaginamos necessitar para sermos felizes. Depois, com base nisso, determinar o que é possível fazer para que essa conquista aconteça: nossos limites e não nossas ilusões deverão nortear essas ações. É necessário não nos esquecermos de que tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém e que é importante conhecermos tudo, mas retermos apenas o bem, conforme nos lembra o apóstolo Paulo de Tarso.

Essas atitudes mentais modificantes nos levarão, certamente, a iniciar um maior conhecimento de nós próprios, ou seja, conhecermos a verdade sobre nós. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma postura mental difícil de ser mantida, mas não impossível de se conquistar. Necessitamos para isso de vontade firme e sensibilidade para perceber que a hora da mudança chegou. E, somando-se a isso, não ter medo de fazer o que deve e precisa ser feito.

Estamos cansados de sofrer, de sentir medo, de viver aflitos e às vezes desesperançados. É necessário iniciarmos a viagem para dentro de nós mesmos, a fim de que possamos aprender a nos conhecer e, nos conhecendo, aprendermos a nos amar.

Queremos sempre saber o que o outro sente, como pensa e tememos encarar nossos verdadeiros sentimentos, nossos medos, nossos desejos. Passamos grande parte da nossa existência nos culpando por muitas coisas, punindo nosso corpo, tornando-nos infelizes. Por isso Jesus nos disse que conheceríamos a verdade e ela nos libertaria. Conheceríamos a verdade sobre nós mesmos e que esse conhecimento nos libertaria das culpas, dos medos das angústias. Porque quanto mais nos conhecermos mais nos amaremos e, consequentemente, também amaremos o nosso próximo e a Deus.

O amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo exige de cada um de nós um caminho inverso a ser seguido – de nós para Deus – para atingirmos a felicidade plena e instalar para sempre o reino de Deus em nossos corações. O que isso significa? Significa que essa conscientização surgirá quando aprendermos a utilizar as informações recebidas como instrumentos para nossa iluminação.

O reino de Deus ao qual Jesus se refere como não sendo deste mundo de ilusões materiais, de necessidades vãs, onde o egoísmo e o orgulho têm morada fixa, pertence a todos aqueles que já praticam Seus ensinamentos, que não têm medo de se manterem firmes nessa escolha, concretizando caminhos novos, sonhando sonhos possíveis e tornando-os realidade. O reino de Deus pertence, sim, a todos aqueles que aceitaram o convite de Jesus de irem até Ele para aliviar suas dores.

 

Bibliografia:

KARDEC, Allan - O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. II

XAVIER, F. C. - Pão Nosso, ditado pelo Espírito Emmanuel, lição 33.

OLIVEIRA, Wanderley S. - Mereça ser Feliz, ditado pelo Espírito Ermance Dufaux- 2ª edição – Editora INEDE - Belo Horizonte/MG - 2003 – Capítulo IV.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita