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por Vladimir Alexei

 

2057, regeneração e a vida do Chico


Embora seja desconhecido no movimento espírita, recebemos alguns e-mails – que muito nos incentivam ao estudo – para comentar a respeito do ano 2057 e o processo de regeneração.

Estudiosos fazem contas interpretando o pensamento de Emmanuel associando datas simbólicas como 1857, 1957 e 2057, a fim de esclarecer movimentos cíclicos de evolução da humanidade e a esses estudiosos e médiuns todo nosso respeito pelo trabalho e entendimento.

Em todo caso, nos valemos do pensamento de Aristóteles para comentar esses e outros pontos subjacentes: “o ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato reflete”.

Em se tratando de Doutrina Espírita, existe uma ordem de importância nos estudos. As obras fundamentais de Allan Kardec detêm a primazia quanto ao que diz respeito a estudo doutrinário.  Contudo, o “aprendizado” se dá de diversas formas e pode ser iniciado com obras consideradas subsidiárias, mediúnicas, de autores consagrados e até livros de autoajuda. Lembrando apenas que, sem a leitura e o estudo atento às obras de Kardec, outras obras podem ajudar, mas não necessariamente levariam o indivíduo a compreender em essência o Espiritismo.

Assim sendo, é possível desenvolver o conhecimento e a inteligência por meio dos livros. Se assim não fosse não existiriam tantas almas transformadas, como ocorreu com Eurípedes Barsanulfo ao ler “Depois da Morte”; um candidato a suicida ao ler “O Livro dos Espíritos” e assim por diante. O aprendizado da teoria é muito útil como recurso para saber lidar na prática com as adversidades. E o estudo nos convida a não aceitar cegamente tudo que dizem, tratando com respeito aquele que diz, limitando a reflexão ao campo das ideias.

Esse entendimento inicial e alongado se faz necessário porque o que fazemos é emitir a nossa opinião e apresentar como ela foi construída, sem a pretensão da infalibilidade. Se estivermos errados, após análise, corrigiremos.

Chico Xavier foi, é e acho que será o maior médium que já passou pelo Brasil. A exaltação ao trabalho do Chico Xavier é para evidenciar sua luta, seus esforços e a sua alegria em servir a Jesus.

Diante do cenário em que alguns estudiosos anunciam que em 2057 teremos a Terra “regenerada”, ainda que a construção dos argumentos e o embasamento sejam os mais legítimos possíveis, com tais apontamentos temos mais dúvidas do que certezas.

Um exemplo expressivo pode ser entendido a partir da obra Libertação, do Espírito André Luiz, pela psicografia do Chico Xavier, quando diz que existem Espíritos recalcitrantes no umbral há mais de “dez mil anos”. Se isso é verdade, a data de 2057 se manifesta muito mais como uma metáfora, uma simbologia do que qualquer outra coisa.

Nesse sentido, cientes de que as Leis Divinas não agem com violência, o progresso dessas almas ocorrerá por meio das sucessivas reencarnações aqui ou alhures. Se for em outro planeta, irão compulsoriamente, caso contrário, a Terra só se regenerará plenamente quando todas as almas tiverem expiado tudo aquilo que precisariam para compreender o verdadeiro sentido da Vida e nosso papel é ajudar a todos aqueles mais necessitados do que nós outros nessa jornada.

Seja como for, questiono com todo respeito, mas também veemência, essa necessidade de se panfletar datas, modos e procedimentos com tanta convicção, quando a segurança que temos é a progressiva mudança espiritual. Beira ao “encantamento de serpentes”, colocar todas as construções filosóficas, das mais profundas e educativas trazidas por Emmanuel pela psicografia do Chico Xavier e enfaixá-las, dar-lhes uma roupagem mística para vender livros, vídeos e programas pagos pela internet – já que os congressos perderam força, graças à pandemia (nada se perde...)...

Um outro ponto é a necessidade de se falar da vida pessoal do Chico Xavier. Tratar a vida do Chico Xavier como celebridade, como ocorre no movimento espírita, ainda que seja para resgatar informações, mensagens e ideias de sua vida, fazendo luz a particularidades de sua privacidade e evidenciando aspectos que sugerem intimidade com o médium, tem servido como combustível para a fogueira das vaidades.

Em tempos de intolerância, fundamentalistas se perdem nos gatilhos psicológicos que os prendem a comportamentos e pensamentos religiosos do passado, exercendo forte pressão sobre a conduta religiosa na atualidade.

A regeneração e as datas que são veiculadas no meio espírita, partindo do princípio que todos se esforçam para compartilhar seus entendimentos, de boa vontade, com fraternidade e desejo sincero de seguir no bem, poderiam ser interpretadas, como um marco, ou seja, uma referência. Previsões podem ser antecipadas, acontecer na época ou serem postergadas, já que estão sujeitas ao movimento de seus respectivos atores. Uma cirurgia de determinada especialidade tem previsão de dez horas de duração. Em virtude do contexto e da condição do paciente, durou dezesseis horas. E os exemplos se arrastam aos montes.

Talvez a regeneração pudesse ser encarada como um processo natural, que já está acontecendo e continuará a acontecer, até que tudo seja consumado, em data não chancelada pelos encarnados. O que se sabe com segurança é que a regeneração acontecerá. Enquanto isso, como cristãos e espíritas, podemos aprender muito com os exemplos de Jesus, seus ensinamentos e a riqueza do trabalho mediúnico de Chico Xavier.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita