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por Lillian Rosendo

 

Dormir para não sentir fome


A arte possibilita uma estada mais amena em nossa viagem neste Lar planetário, a sensibilidade e a criatividade trabalham para suavizar a alma, e quando é aliada ao progresso da comunidade tem um valor ainda mais gratificante e, por falar em progresso, trataremos sobre a arte da combinação de sons e silêncio, a manifestação presente em nossas vidas desde os tempos primitivos, essa capacidade de traduzir sentimentos e valores quer seja de um grupo, de uma cidade, de um país, ou do mundo, quer seja de um ideal, de um movimento, quer seja de uma religião.

Allan Kardec, interessado em compreender a influência da música, pergunta aos Instrutores da Vida Maior se os Espíritos são sensíveis a ela1, e tem como resposta:

“– Quereis falar de vossa música? O que é ela perante a música celeste cuja harmonia nada na Terra vos pode dar uma ideia? Uma está para a outra como o canto de um selvagem está para uma suave melodia. Entretanto, Espíritos vulgares podem sentir um certo prazer ao ouvir vossa música, porque ainda não são capazes de compreender uma mais sublime. A música tem para os Espíritos encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas bastante desenvolvidas. A música celeste é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave”.

Refletindo sobre essa elucidação dos benfeitores posso compreender que a elevação de pensamentos e de equilíbrio emocional poderá revelar esta estética suave, o encanto que ainda não amadurecemos o sentimento para perceber a melodia que conquistaremos com as atitudes rítmicas e os valores harmônicos que estamos por desenvolver.

A intenção norteia os mais íntimos desejos e determina o valor dos atos, o timbre dessa linguagem, a intensidade da comunicação universal quando utilizada gravemente para uma causa nobre e sua duração, bem como ajudar o outro movimentando a altura do querer bem, a fraternidade.

O Instituto Baccarelli, criado em 1996 após o incêndio que queimou parte dos barracos da favela de Heliópolis em São Paulo, tem como intuito ensinar músicas, ensejar um futuro para as crianças e promover ações sociais para a comunidade. 2

Devido à pandemia, as aulas presenciais estão suspensas e um aluno não havia participado da aula on-line; questionado sobre o motivo, o garoto justificou que estava dormindo, pois “quando dorme não sente fome”, então, o Instituto se movimentou doando alimentos para a família e lançou a campanha de arrecadação de alimentos para as famílias que estavam atravessando situação semelhante. A Instituição não é autossustentável materialmente, entretanto, ela conta com voluntários que se sensibilizam com a comunidade e concentram suas energias, força e esforços para que elas tenham contato com a música, tocando um instrumento e, assim como muitos alunos, conseguirem viver da arte, não precisando dormir para enganar a fome.

Quando estou a par de tais movimentos caritativos, me sinto mais reconfortada também quando participo, mas não deveria. Os Benfeitores elucidam o que nos parece magnifico; não é grande coisa para eles, que nos observam como simples estudantes. O que faço é fraco e curto; os trabalhadores do Cristo têm consideração quando contribuímos para a elevação de nossos semelhantes e, por seu progresso3, a assistência material não é o bastante assim como a nossa música, que requer a fonte sonora sublime. Mas posso tocar através das ondas que propagam as frequências da amizade, vibrando compreensão, alegria e gratidão.

 

Referências bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile. 175° questão 251. Edição. Araras. São Paulo. Editora IDE. 2007.

2. Regiane Soares. Música vira instrumento de solidariedade em Heliópolis, zona sul de SP. Disponível em: link-1  Acesso em: 6 de set, 2020.

3. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile. 175° questão 316. Edição. Araras. São Paulo. Editora IDE. 2007.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita