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por José Lucas

 

Qual o partido dos espíritas?


Temo-nos apercebido de algumas dificuldades apresentadas, por alguns espíritas, em lidar com opiniões diferentes, o que, aparentemente, é um paradoxo.

No nosso quotidiano, temos, inclusive, pessoas que nos questionam acerca da nossa maneira de proceder como Ser social, apenas porque somos espíritas.

1 – O que é o Espiritismo?

Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, no seu livro “O que é o Espiritismo” define-o como “a ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal”.

No Espiritismo não existem chefias, líderes, paramentos, rituais.

Nenhuma entidade pública ou privada pode outorgar-se o direito de falar em nome do Espiritismo.

Somos livres pensadores.

2 – O espírita não se mete em política?

Muitos espíritas acham que os seus pares, os outros espíritas, não se devem meter em política e criticam mesmo quem o faz.

Encontramos na Wikipédia a definição de política: “O termo política é derivado do grego antigo πολιτεία (politeía), que indicava todos os procedimentos relativos à Pólis, ou cidade-Estado grega. Por extensão, poderia significar tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana”.

Ora, o espírita, como Ser social, não só tem o direito como tem o dever de se inserir na organização social, sendo ativo na prossecução de objetivos comuns, que tornem a Sociedade mais justa, pacífica, fraterna, onde haja pão, habitação, trabalho, igualdade de oportunidades para todos.

3 – Qual é o partido dos espíritas?

O espírita é o adepto da doutrina espírita (ciência, filosofia e moral), que os Espíritos trouxeram à Terra, através de inúmeros médiuns, e codificada por Allan Kardec.

Nesse sentido, os espíritas têm como programa político (para a cidade-Estado, para a comunidade, Sociedade) a mensagem ético-moral que Jesus de Nazaré deixou há dois mil anos, modernamente explicada em “O Livro dos Espíritos” (de A. Kardec).

Podemos dizer que o partido político dos espíritas é o Espiritismo em si mesmo, a sua mensagem social. Nesse sentido, na Sociedade organizada pelo Homem, o espírita procurará o partido político que melhor se enquadre, em consciência, com a mensagem espírita, votando em branco no caso de nenhum partido político ter as bases da filosofia espírita. O espírita consciente fará tudo para que os governantes se preocupem em aproximar-se da ideia espírita, na simples quão profunda assertiva do “não faças ao próximo o que não desejas para ti”.

Não faz sentido ser-se espírita e votar em partidos essencialmente materialistas, que anelam por uma Sociedade oposta àquilo que o Espiritismo defende, pugna.

A essência filosófica do espírita está no Espiritismo.

O partido político que eventualmente escolha nas eleições é, quando muito, pequena aproximação ao que o espírita desejaria ver implementado.

Assim sendo, não faz sentido o espírita tomar a parte pelo todo, tentar eleger pessoas e partidos que não estejam minimamente em consonância com a filosofia espírita.

O oposto, sim, deve ser o desiderato do espírita, tentar que os partidos políticos apliquem as posições sociais (as leis morais) que Kardec apresenta em “O Livro dos Espíritos”.

4 – Os espíritas e as questões fraturantes.

O espírita, para o ser, precisa ler a obra de Allan Kardec (mais de 20 livros), estudar essa obra e tentar colocar em prática no quotidiano. Mesmo assim, arrisca-se a não atingir o seu entendimento ideal, pois tal depende do estudo contínuo, em grupo, com pessoas díspares, bem como da capacidade de entendimento de cada um.

Se um espírita estudar com seriedade o Espiritismo, mesmo que existam questões fraturantes na Sociedade (como o suicídio, aborto, pena de morte, eutanásia etc.), essas questões jamais poderão ser motivo de questiúnculas entre os espíritas, pois que estando o Espiritismo bem documentado, bem codificado, facilmente se consegue enquadrar o pensamento espírita, de modo a ter uma opinião assente não só na doutrina deixada por Kardec, como também no bom senso, na caridade, na tolerância, na indulgência.

Jamais a obra de Kardec pode ser objeto de estudo seletivo, como os sofismas, procurando uma resposta que nos dê jeito, de modo a que o nosso pensamento limitado seja aceito pelos demais.

Jamais a obra de Kardec pode ser analisada como as Testemunhas de Jeová fazem com os textos considerados como divinos, analisando o sentido literal do que está escrito.

Quem estuda Espiritismo não pode ter uma postura censória, fanática, literal, sofista, agressiva, inquisitorial, perante os graves problemas sociais acima referidos.

Tentando imaginar o que Jesus faria no nosso lugar, o posicionamento espírita deve ser a aplicação do Espiritismo legado por A. Kardec, cujo lema é “Fora da caridade não há salvação”.

Se um espírita entrasse em choque com outro espírita, por ter opinião diferente na interpretação dos fatos, à luz do Espiritismo, tal situação seria uma boa oportunidade para recomeçar o estudo da doutrina espírita, reestudando “O Livro dos Espíritos” e por aí afora.

5 – O Espiritismo e os espíritas.

O Espiritismo é uma filosofia de vida, bem definida.

Os espíritas são os adeptos dessa ideia.

Ora, estando todos nós em níveis de entendimento diferentes, é normal que tenhamos visões de profundidade diferente.

Assim sendo, encante-se com o Espiritismo e não conosco, os espíritas.

Desencante-se com os espíritas, se for motivo disso, mas nunca se desencante com a doutrina espírita.

Esta situação é perfeitamente normal, pois o Espiritismo tem 163 anos (em 2020), e nós, seres humanos, vivemos há milênios, habituados a seguir um líder, um padre, um guru.

Agora, sendo adeptos do Espiritismo, vemo-nos perdidos, sem saber como pensar e agir, sem a presença de um líder que nos diga como fazer.

No entanto, esse estado de alma deriva da invigilância dos espíritas, pois o seu líder é Jesus de Nazaré e, o como agir podemos encontrar sem margem para falhas, orientações preciosas no livro “O Evangelho segundo o Espiritismo” no texto (entre outros) “O Homem de bem”.

Sendo os espíritas livres pensadores, aos poucos iremos aprendendo a pensar pela própria cabeça, sem que isso nos traga os naturais dissabores e dificuldades de agora, nesse exercício difícil de viver sem orientação do guru, líder, padre etc.
 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita