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por Marcus Pedreira Cerqueira

 

É possível um método de análise comparativa da personalidade de dois indivíduos animados pela reencarnação do mesmo Espírito?


Freud e Jung romperam o campo de observação além das fronteiras do Ego, mas Jung, o pai da Psicologia Analítica, avançou além do limiar da infância freudiana, penetrando na imortalidade da alma através dos arquétipos da escuridão do inconsciente. 

A Psicologia Transpessoal, a 4ª. força da Psicologia, que contempla o homem integral pela esfera física, psíquica e transpessoal, estruturada nos EUA no final da década de 1960, reconhece a espiritualidade e as necessidades transcendentais como aspectos intrínsecos da natureza humana, como afirmou Pierre Weil em A morte da morte: "[..] trata do estado de consciência em que se dissolve a aparente fronteira entre o Eu e o mundo exterior, em que desaparece o que chamamos de pessoa e surge uma vivência que está além". 

Por outro lado, não bastam apenas os insights, a fenomenologia em toda a sua amplitude, seja ela anímica ou mediúnica, para estudar personalidades comparadas.

Nos arquétipos da alma imortal têm-se o "padrão de comportamento" e as "faculdades morais e intelectuais" que compõem a matriz de análise. 

As faculdades intelectuais podem mudar substancialmente de uma encarnação para outra, como mostra a questão 220 de O Livro dos Espíritos: "Ademais, uma faculdade qualquer pode permanecer adormecida durante uma existência, por querer o Espírito exercitar outra, que nenhuma relação tem com aquela. Esta, então, fica em estado latente para reaparecer mais tarde".

E na questão 566: "Ademais, esqueceis, que um Espírito que cultivou certa arte, na existência em que conhecestes, pode ter cultivado outra em anterior existência, pois que lhe cumpre saber tudo para ser perfeito. Assim, conforme o grau do seu adiantamento, pode suceder que nada seja para ele uma especialidade".

Já as faculdades morais podem se assemelhar ao padrão de comportamento, mas não se misturam.

As faculdades morais se depuram ao longo das (re)encarnações sucessivas, logicamente influenciando as predisposições instintivas, dependendo do esforço de cada um a modificação do repertório comportamental, como demonstra o Tao te King no poema 27 - Uso da Destreza - “O homem bom é exemplo para o não bom, o homem não bom é potencial para o bom". Ou como disse Paulo de Tarso: "Porque assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo" (1Co 15: 22).

A condição moral contempla a autodescoberta, a autorrealização e a autodoação. Na prática requer o desapego às paixões egoicas e ao mundo transitório da matéria: o cultivo da generosidade, o sacrifício e a solidariedade pelo próximo, contribuindo para a auto-harmonia individual e da coletividade por um mundo sustentável. 

Essa evolução é lenta ao longo das vidas sucessivas, como aponta O Livro dos Espíritos na questão 909: “Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações? – Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!” 

Já o padrão de comportamento abarca as aptidões pessoais inerentes ao perfil da personalidade, suscetível à influência fenotípica e genotípica, mas alheia às faculdades intelectuais, representado pelos hábitos, como, por exemplo, na capacidade cognitiva e de comunicação, visto no gosto por literatura; na facilidade para escrever, na caligrafia, na propensão por comer ou beber, na disposição por atividades físicas, e pelas características psicológicas advindas do comportamento emocional; se é tímido ou extrovertido; impetuoso ou sereno; brincalhão ou sério; bravo ou calmo; vaidoso ou modesto; gastador ou econômico. 

O padrão de comportamento guarda semelhanças por muitos séculos, mas não deve ser confundido com as faculdades morais e muito menos com as faculdades intelectuais. 

Um exemplo é oportuno para entendimento. O gosto por literatura em geral é um padrão de comportamento, mas o gosto especial por poesia ou contos, a ponto de ser um ofício, é uma faculdade intelectual.

A caligrafia, como outras formas de expressão do padrão de comportamento, é suscetível à condicionante fenotípica: a influência do estilo, da época e do meio social; e à condicionante genotípica, a fisiologia e a anatomia do corpo físico. 

De forma que, em função da individualidade de cada ser, os Espíritos não responderão da mesma forma às influências a que estão submetidos quando encarnados. 

As sincronicidades, terminologia criada por Jung, também devem ser analisadas, pois manifestam os acontecimentos de ordem física e material a que o homem está sujeito em seu roteiro encarnatório, como bem esclarecem as questões 861 e 862 de O Livro dos Espíritos.  

Podem envolver nomes, datas, locais e acontecimentos, afinal, "até os cabelos da cabeça são contados", porque também se alinha ao vínculo reencarnatório; "o vento assopra aonde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; [..]".         



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita