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por Valéria de Oliveira

 

Razão e consolação


Enaltecemos o Codificador, pela habilidade em reunir as vozes espirituais dos Altiplanos celestiais, que nos revelaram sobre os mistérios da vida e do bem viver. Mas sem imergirmos com profundidade no seu proceder, através do estudo biográfico, não compreenderemos em completude, a importância de seus feitos.

A fim de não se deixar contaminar pela incompreensão de muitos, Kardec aceitou em sua vida a prescrição de altas doses de disciplina. Foi esse remédio amargo o responsável pela acurácia na interpretação e seleção dos melhores conteúdos, que compõem o códice da doutrina dos Espíritos. Mas o seu maior mérito para evitar um estoicismo de pensamento que pudesse advir da disciplina, foi aplicar as lições evangélicas em seu dia a dia, fazendo com que a sua alma sorvesse os valores morais da doutrina, testando, em si mesmo, a verdade do receituário amoroso de Jesus.

Ele se tornou convicto de que aquelas informações iriam consolar, pois foi o primeiro a ser consolado, por cada uma delas...

Fizemos essa introdução, porque percebemos corações repletos de boa intenção na tentativa de consolar o semelhante, mas, muitas vezes, sem sucesso. É verdade que, caso o próximo não queira se tornar poroso às informações recebidas, invariavelmente, elas não lhe serão apreendidas; mas também é verdade que muitos irmãos, conhecedores da doutrina, não conseguem sair do racional, das lições e versículos decorados, e atingir o coração dos seres. Irmãos desencarnados que são trazidos pela espiritualidade para se comunicarem em sessões mediúnicas não conseguem ser consolados porque, no diálogo fraterno, o encarnado que explana lhe explica conhecimento, mas não lhe transmite amor.

Palavras são ditas em palestras, e obtêm aplausos emocionados ao final. Mas passado o efeito que o encordoamento das palavras precisas causa nas mentes, nada que acalente resta de verdade no coração, como verdadeiro estímulo à mudança.

Vamos invariavelmente às Casas de Oração para o trabalho e a confraternização sadia. Mas ainda acreditamos que o solo consagrado ao amor é compartimentado. Ao sairmos de lá, nos abstemos das boas condutas, acreditando que doar a um estranho possa valer mais que doar a um familiar, carente de paz e carinho.

A luz, portanto, fica retida, não por alguma inverdade sendo dita, mas pelo monturo que o saber sem obras deixa como impedimento no coração de quem o transmite.

É preciso o testemunho e simplicidade na rotina de nossas vidas, para que a verdade do evangelho floresça com toda a pujança, às multidões. Os tempos são chegados, e o brilho da candeia de Jesus tem força para iluminar nossas casas, as vizinhanças e o mundo inteiro. Mas Ele nos chama ao testemunho dessa compreensão para, eficazmente, confortar as pessoas. 

Cientes de que não sabemos ainda agir com o Mestre, nada nos impede, de ansiar tê-lo, como exemplo de vida. Seu Espírito perfeito nos mostrou, em inúmeras ocasiões, a potência transformadora de um estado interior em harmonia.

E se Jesus nos parecer muito distante, lembremos de nosso codificador que, compreendendo racionalmente a respeito das leis universais, nunca se esquivou de amar sua esposa e amigos, de escrever, sob o tremular da vela e da fiel caneta tinteiro, longas cartas de consolo e esclarecimento, de se dedicar a perdoar todos aqueles que lhe teciam calúnias, e que muitas vezes vieram a precisar de seu apoio consolador, quando a pedagogia da vida lhes recaiu sob forma de dor.

O meu ser dizendo ao outro que nossas dores são parecidas, mas, principalmente, procurando pela transformação íntima constante, é a postura de um consolador. O evangelho, a vida do Mestre, a vida de Kardec, de todas as pessoas que confortam nossas almas, e que puderem ser lembradas nesse instante, exalam o perfume dessa radiante luz interior.

Que possamos com alegria nos empoderar em espírito, da sofisticação contida na simplicidade para assim, além de deixar uma boa lembrança, consolidar princípios, confortar corações e ajudar, realmente, a humanidade.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita