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por Maurício Curi

 

Divina intercessão

 
O Mestre divino exorta-nos há mais de dois mil anos à mudança do paradigma evolutivo moral na Terra.

Convida-nos, incansavelmente, o Senhor e seus exércitos de benfeitores celestes, para que sigamos em definitivo o caminho da real fraternidade universal, que possui suas bases e diretrizes no amor, na caridade, em suas expressões sinceras de benevolência, indulgência e perdão.

O fenômeno pandêmico doloroso que testemunhamos nestas horas difíceis é, paradoxalmente, pão divino a saciar a fome humana de paz. Maná derramado dos Céus para a Terra carente de alimento espiritual! Não há uma só alma em todo o universo, e igualmente em nosso planeta, que não esteja sob o manto protetor da Lei divina.

As aflições são recursos ostensivos, permitidos pelo Senhor da vida, com a finalidade de irmanar corações distanciados pelos milênios de cultivo do orgulho e do egoísmo. As vicissitudes e os tormentos desempenham, individual e coletivamente, o impositivo íntimo de retorno à casa Paterna, de nós, seus filhos rebeldes e ingratos, que não reconhecemos a herança e a felicidade do compartilhamento das riquezas sem-fim de nosso Pai.

Os flagelos destruidores, a bem da verdade, transformadores e propiciadores de uma nova ordem, têm a capacidade de nos unir, pois a dor nos irmana e nivela a todos a quem ela atinge, sem diferenciações, sem vantagens e predileções distintas. Perante o fenômeno da dor, não há prerrogativas, posições sociais, econômicas, nenhum poder temporal e material capaz de anular sua atuação generalizada, indistinta.

Somos todos, neste momento, apenas seres humanos, não importando nacionalidade, idioma, etnia, crença... A dificuldade experimentada lembra, duramente, aos corações sensibilizados pelo constrangimento compulsório, o ensino imorredouro de Jesus, quando nos ensinou que Deus era Pai de toda a humanidade e que, portanto, todos somos, indistintamente, irmãos.

Deus, em seus atributos de perfeição, somente expressa a suprema justiça, a suprema sabedoria e o supremo amor. Somente a obediência à Lei divina conduz à real felicidade.

Nosso Pai, como supremo pedagogo, impõe aos seus filhos amados a necessidade da corrigenda, da redenção e retomada de caminhos harmonizados com sua Lei.

Os processos de redenção, de correção são, portanto, recursos pedagógicos aos quais nenhum de nós poderá fugir indefinidamente, pois o amor divino nos constrange através da saturação de todo o mal que dá início ao processo de retomada evolutiva.

Não existe castigo, no sentido de infrutífera punição. Toda a dor é convite à reflexão para mudança de atitude e retomada de padrões de vivência salutar. Deus nos ama infinitamente e em grau insuperável!

O porta-voz divino, Jesus Cristo, é a nossa melhor fonte provedora da fé, da confiança inabalável e do bom ânimo para o enfrentamento sereno, firme e seguro em tempos de mares revoltos e, ao mesmo tempo, de aferição dos valores morais já conquistados. A sabedoria popular exemplifica ensinando que “a calmaria não forma bons marinheiros”.

Faz-se necessário aplicarmos em todos graus, em todas as esferas de ação, com todo o nosso potencial, o impositivo cristão: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Amemos com coragem, com bravura d`alma, sem restrições, sem condicionamentos, sem exigências, livres do interesse pessoal!

O amor nos gestos mais simples, nas ações da vida comum.

Tempo de nos investirmos de coragem para os movimentos de reconciliação; para a reaproximação de nossos desafetos, munidos pelo desejo sincero de trilhar o caminho do perdão.

Tempo mais do que oportuno para alijarmos do peito o ódio; de dissolvermos as crostas de mágoas e ressentimentos em lágrimas autênticas de compreensão e entendimento...

Tempo de união. Tempo de cessar toda a causa de conflitos e contendas. Tempo de silenciar ante a afronta da ignorância agressiva, da intolerância que convida a reação igualmente desequilibrada.

Tempo de silêncio, mas não de omissão. Tempo de oferecer a outra face da paz, da compreensão e não do revide. Tempo de nos abstermos das provocações e das discussões estéreis.

Tempo de compartilhar os nossos melhores valores espirituais com nossos entes queridos, amados. Doarmo-nos integralmente aos nossos filhos ao invés de apenas desincumbirmo-nos do sustento, da instrução e das distrações materiais...

Tempo mágico para dulcificar nossas manifestações no convívio familiar e social. Momento de resgatar a gentileza e a brandura oriundas da humildade e do amor fraternal.

Tempo para manifestar nosso amor à vida. Reconhecendo todas as bênçãos que nos cercam, desde a beleza insuperável da natureza até os percalços já superados que nos forjaram um melhor caráter.

Tempo de louvor, tempo de expressar a gratidão pela vida, pelo próprio corpo, pelas pessoas ao nosso redor. Pelos nossos pais, pelos nossos avós, pelos nossos anciãos e pelo legado de todos aqueles irmãos em humanidade que nos precederam no retorno à vida espiritual e que contribuíram em todas as faixas de evolução humana, concedendo-nos a oportunidade de termos herdado um mundo melhor...

Tempo para a palavra de esperança, consoladora e comprometida com a verdade a quem estiver ao nosso alcance.

Tempo de compaixão. Tempo para doar o alimento que falta na mesa de alguém. Tempo para socorrer o amigo ou o estranho triste, solitário e enfermo... Tempo de generosidade com a vizinhança, com os nossos subordinados e com os nossos superiores em nossas organizações do trabalho... Tempo do desprendimento... Tempo para a caridade...

Nossa família, antes circunscrita, é, definitivamente, a família universal!

O medo, a insegurança, naturais em nosso processo evolutivo, quando exacerbados, sem controle, incidem em nosso mundo íntimo, desafiando e demandando gerenciamento consciente, sóbrio e responsável, comprometido com a manutenção de um estado mental de harmonia íntima, a qual deve preponderar em nossas expressões, para pormos termo às correntes de pensamentos saturados de insegurança, pânico e desespero.

Nosso equilíbrio dependerá, única e exclusivamente, da mobilização de nossos pensamentos em sintonia com os pensamentos superiores, refletidos pelas mentes equilibradas que igualmente refletem o pensamento augusto do Mestre Jesus! “Orai e vigiai!”.

A vigilância, na observação atenta e zelosa do universo íntimo, conduz-nos à prática eficaz e portentosa da oração simples e verdadeira. Aquela que busca o coração do meigo Rabi, encontrando resposta traduzida na quietude e no apaziguamento de nossos domicílios espirituais, de nosso templo divino, onde as manifestações da consciência geram os elementos construtivos das pontes de comunhão com o Pai!

Somos imortais! Eis o nosso brado ao mundo que estremece e se retrai pelo pavor da morte, da cessação da existência. Não apenas nossos corpos, mas todas as expressões da matéria densa, do mundo das formas que é impermanente, são suscetíveis a processos de destruição, de transformação, necessários e imprescindíveis para o aprimoramento do ser que somos, Espíritos, inteligências criadas por Deus com destinação infinita nas trilhas do trabalho, do progresso, da perfectibilidade.

Não há, em nosso estágio evolutivo, aprimoramento espiritual sem as imersões na esfera carnal.

Preservemos, tanto quanto nos seja possível, a vida orgânica através de todos os nossos recursos disponíveis, aprimorando mais e mais nossa inteligência pelos desafios da conservação com qualidade da vida terrena. Cuidemos de nossa higiene, de nossa proteção e nutrição corporal com equilíbrio e respeito ao carro orgânico que nos serve de morada e instrumento de atuação na carne.

Atendamos as orientações dos nossos gestores da saúde humana, bem como respeitemos as autoridades administrativas no cumprimento das leis de nossas sociedades, colaborando, de nossa parte, para a manutenção do clima ordeiro e favorável à disciplina, essenciais para o equilíbrio comunitário e social.

Além dos cuidados físicos, consagremos importância capital aos imperativos de manutenção e ampliação dos fenômenos garantidores da saúde e bem-estar psíquico e espiritual.

A saúde espiritual é igualmente determinante para a homeostase orgânica. E mesmo quando a vitalidade corporal é comprometida, seja pelos fenômenos naturais do desgaste celular, seja por enfermidades e traumas decorrentes de programações reencarnatórias, é imperiosa a manutenção de um estado espiritual salutar, ou seja, um estado de paz e resignação diante dos desígnios e da providência de Deus. Mesmo diante da desencarnação, os cuidados com nosso estado íntimo proporcionarão uma transição menos perturbadora no desenlace e um despertar mais feliz e pleno no retorno à vida espiritual.

Utilizemo-nos, portanto, da água-viva do Evangelho de Amor que Jesus nos oferece para saciar a sede de plenitude em meio aos nossos desertos de provações e expiações.

Esta é uma hora bendita! Não nos queixemos! Nada de desânimo, de tristeza ou qualquer forma de lamento! Guardemos nossa fé aureolada pela razão que os ensinos dos Espíritos a serviço de Jesus nos legam nestes transes terrenos.

Trabalhemos esperançosos, servindo junto ao Cristo através de todo o bem que possamos ser e de todo o bem que possamos oferecer, com a humildade e a simplicidade condizentes com os valores cristãos.

Servir ao Cristo não é fazer proselitismo. Não devemos levantar outra bandeira que não seja a da fraternidade da família universal. Este estandarte luminoso é filho legítimo do sentimento divino de compaixão, pela constatação da dor e da fragilidade nossa e de nossos irmãos!

Ergamos nosso olhar ao mais alto! Dilatemos nossa visão espiritual para todo o nosso querido orbe, que nos serve agora como lar!

Roguemos ao Pai sua infinita compaixão, seu incomensurável amor em nossos corações, para o alinhamento inadiável de nossos caminhos com a rota de luz que nos leva a encontrar, no coração de nossos irmãos, o espelho cristalino que refletirá o mais sublime amor espelhando a face de Deus!

 

Maurício Curi é palestrante espírita e coordenador do Departamento de Atendimento Espiritual do Grêmio Espírita Atualpa Barbosa Lima, em Brasília (DF).


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita