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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Coronavírus e as provações necessárias


Quando comecei a escrever este texto no final de março, o site da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontava a existência de quase meio milhão de casos de pessoas infectadas no planeta pelo terrível coronavírus. Por sua vez, o número de desencarnados, em decorrência dessa pandemia, já havia superado a cifra dos 20.000, e não parava de subir. Aliás, no mesmo site havia um gráfico indicando claramente essa direção, além de informar que a família desse vírus é fortemente presente em animais. No entanto, a OMS não atribuía aos animais - até aquele momento pelo menos – a fonte dessa doença.

Posto isto, se a causa dessa desgraça ainda não está devidamente identificada, do ponto de vista espiritual algumas conclusões podem ser apresentadas. A primeira delas, conforme pondera Allan Kardec, no livro O Evangelho segundo o Espiritismo, passar por provas e expiações – mesmo as que envolvem grandes coletividades – são situações normalmente presentes no caminho das almas em estado de inferioridade, ou seja, a maioria de nós. Todavia, é preciso lembrar o lado benéfico – que há praticamente em tudo, desde que tenhamos um olhar mais ameno em relação aos eventos e acontecimentos que nos cercam - das provações.

Ou seja, as adversidades (provações), se bem suportadas, nos propiciam o avanço. Elas são testes vitais, em síntese, que medem o nosso grau de evolução. Já as expiações são remédios acerbos aplicados somente aos Espíritos rebeldes, e ainda infensos ao imperativo do bem. Em poucas palavras, são terapias poderosas que verdadeiramente curam os doentes da alma em alto grau, isto é, aqueles indivíduos acorrentados à prática do mal.

Como a Terra ainda se encontra na posição de morada moralmente atrasada, nela abundam os Espíritos em condição de débito perante as leis divinas. Ou seja, indivíduos que necessitam ardentemente de experiências redentoras, que só as ásperas provas e expiações podem proporcionar, a fim de alcançar o equilíbrio necessário com vistas ao seu progresso.

Nesse sentido, conforme esclarece uma mensagem de importante entidade espiritual citada na obra acima, “[...] As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de vencer as dificuldades [...]”. Por isso, já preconizava Jesus Cristo a bem-aventurança aos submetidos à intensa aflição.

Portanto, a covid-19 é inequivocamente uma prova espiritual de largo alcance e efeitos. Por conseguinte, a humanidade dobra-se à força implacável desse mal. De maneira semelhante, as grandes nações, instituições, organizações e os poderosos de todos os matizes, latitudes, demonstram total despreparo para lidar com esse temível inimigo invisível. É surpreendente constatar, por exemplo, a incapacidade dos agentes públicos – praticamente de todos os países, inclusive dos mais ricos - em sequer dispor de equipamentos e recursos em volume suficiente para o enfrentamento das necessidades do momento. Por essa razão, milhares estão sucumbindo simplesmente por falta de um leito hospitalar adequado para ao menos aplacar os seus sofrimentos.

Infelizmente, não há ainda um tratamento eficaz contra os efeitos mortais da covid-19, o que desafia a nossa inteligência. Temos de admitir – se a nossa arrogância permitir - que não fomos capazes de debelar uma pandemia em poucos dias. De fato, as previsões das autoridades públicas para obtenção de uma vacina ou antídoto não são nada animadoras, tendo-se em vista que uma solução efetiva pode levar de 12 a 18 meses.

Há algo, entretanto, extremamente importante gerado por essa crise (talvez a mais séria que se tem notícia pelo menos nas últimas décadas) que merece maior atenção de nossa parte: a obrigação de permanecermos em nossas casas – algo sem precedentes – que nos dá a oportunidade de refletirmos sobre muitas coisas. Primeiramente, o inimigo invisível nos concita a pensar como somos frágeis. 

Além disso, o indesejável, embora necessário, isolamento social nos remete a considerar a precariedade dos valores humanos moldados quase que exclusivamente pelo homo economicus. Nesse sentido, a bússola da matéria é insuficiente para nos guiar diante de tão tenebroso cenárioSoa algo apocalíptico constatar as ruas e avenidas das grandes cidades vazias, o comércio e as fábricas fechadas, assim como as vozes abafadas pelo silêncio sombrio. Em resumo, “a Terra parou”, como comumente se vê em filmes de ficção científica.

Com efeito, a covid-19 atinge a todos indistintamente, criando um caos generalizado, inclusive para o sagrado ganha-pão de cada um. De um momento para outro, até mesmo os mais argentários estão assistindo as suas riquezas derreterem, já que o clima de incerteza e consequente volatilidade predomina em toda parte.

Diante disso, torna-se vital que busquemos desenvolver o homo moralis, pois “Só a luz espiritual garante o êxito nas provações”, como acertadamente asseverou o Espírito Emmanuel, na obra Pão Nosso (psicografia de Francisco Cândido Xavier). Portanto, a tragédia mundial gerada pela covid-19 também pode ser vista como um meio – o isolamento forçado - para olharmos com mais seriedade para dentro de nós, assim como para refletirmos se Deus é, de fato, relevante em nossas vidas. Nessa perspectiva, será que usamos nosso tempo de maneira equilibrada? Damos atenção aos outros? Quando foi a última vez que visitamos ou ligamos para alguém para saber do seu estado? Será que a ideia de caridade e fraternidade ecoa realmente em nosso íntimo? Será que as nossas necessidades espirituais estão sendo contempladas tanto quanto as de ordem material?

Estamos, sim, diante da maior provação coletiva enfrentada neste século. Voltemo-nos, assim, para Deus e nos fortaleçamos na fé e na confiança no Criador. Se formos tragados por esse caos é porque a nossa missão está concluída, e assim tinha que ser. Do contrário, sigamos firmes elevando os nossos propósitos de vida através da vivência dos valores universais – os únicos, aliás, capazes de nos dar a paz de consciência.      

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita