Artigos

por Leda Maria Flaborea

 

A constante presença de Jesus em nós


“Se vós estiverdes em mim e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” – Jesus (João,15:7.)


Hoje, e provavelmente ainda iludidos, supomos servir às autoridades terrenas; todavia, chegará o dia em que, conscientes, reconheceremos que sempre estivemos atendendo a Jesus.

O que isso significa? Significa que quando estivermos unidos a Ele, em verdade e espírito, através do cumprimento das Leis Divinas, teremos encontrado a paz que representa o problema fundamental, de busca interminável, na nossa existência. É a concretização da instalação do Reino de Deus em nós, ou seja, a conquista definitiva da felicidade plena. A descoberta de que podemos viver Nele, e com Ele em nós, dá-nos a exata proporção do quanto ainda temos que caminhar para nos livrarmos das amarras que nos prendem à vida material.

Evidentemente que, ao falarmos em desligamento da vida material, não nos referimos a uma vivência absolutamente voltada para as coisas do Espírito, mas, sim, de uma vida que dá justo valor aos dois aspectos que compõem a existência planetária. Sabemos que o homem não é só matéria ou só Espírito – ainda que ele seja, fundamentalmente, o segundo. Temos uma vida de relação que nos permite, através de trocas, aprender, ensinar e trabalhar para ajudarmos os que necessitam, assim como nós também necessitamos ser ajudados, tantas vezes. Trocas importantes para a evolução à qual estamos destinados, pois que na solidão, no isolamento físico, ninguém cresce.

Acreditamos, quase sempre, que o Mestre só está ao lado daqueles companheiros que se ligam à religião, não importando muito em quais setores atuem, sejam os que ensinam a Revelação Divina ou que, através da palavra nas tribunas, transmitem consolo ou reconforto. O fato é que nos esquecemos de perceber a presença do Mestre em todas as manifestações do trabalho humano.

Lembra Emmanuel que o Divino Amigo¹ “acompanha os que administram os bens do mundo e os que obedecem às ordenações do caminho, concorrendo na edificação do futuro melhor, nas organizações materiais e espirituais. Permanece ao lado dos que revolvem o chão do planeta, cooperando na estruturação da Terra aperfeiçoada, como inspira os missionários da inteligência na evolução dos direitos humanos”.

Afligimo-nos, tantas vezes, sobre a destinação do mundo, com o aquecimento global, o desmatamento, a exploração insustentável dos recursos do planeta – esquecendo-nos de que a Eterna Sabedoria conhece o que deve ocorrer à vida planetária –, sem nos darmos conta de que agora é o nosso tempo, o dia em que nos compete fazer o que deve ser feito.

Todos nós, indistintamente de classe ou posição social, de cargos ou poderes temporários, somos chamados a realizar a tarefa que nos compete nos círculos de serviços para o progresso da Humanidade. Por essa razão, é tão importante realizarmos, da melhor maneira possível, dentro das nossas limitações, a obra parcial confiada às nossas mãos, visto que, a parte maior, Deus a realiza.

O evangelista João deixa claras as palavras de Jesus de que somente estando Nele e Ele em nós conseguiremos realizar tudo o que almejamos. Isto significa o fato de termos deveres que se fazem essenciais, com os quais nos comprometemos, ou seja, criaturas que nos pedem apoio, o lar que deve ser sustentado com obrigações assumidas, enfim, causas nobres que precisamos atender...

E por qual razão o Mestre nos dá esse alerta? Porque muitas vezes nos dizemos cristãos, afirmando admirá-Lo e crer Nele. Ao dizermos isso, estamos subentendendo que também nós realizamos o que Ele nos pede para fazer. E, na verdade, não é isso que acontece. Por esse motivo sua advertência e convite fazem todo sentido, nos dias que se seguem.

Com muita propriedade Emmanuel diz que de repente vemos nossa jornada comprometida com a presença da morte, quando menos contávamos com essa visita... Estamos sempre esperando ganhar para fazer, enquanto que nosso problema é, na verdade, o de fazer para ganhar.

E o benfeitor Emmanuel continua alertando² que “a colheita não precede a semeadura, tanto quanto o teto não se antepõe à base”. Lembra com lucidez que qualquer elemento, por mais desprezível que possa parecer, produz algo. E oferece alguns exemplos bastante sugestivos. Diz que as pedras produzem aspereza e espinho, lacerações; que a lama produz sujidade, e o martelo, golpes.

É fácil para nós a partir desses exemplos entender que, se produzimos para o bem, esses elementos em nossas mãos podem se tornar instrumentos valiosos de progresso. Assim, as pedras ajudam na construção de estradas, hospitais, escolas e sabe-se lá o quanto mais. Do ponto de vista técnico, os espinhos (elemento cortante) podem ajudar nas cirurgias, salvando vidas, levando auxílio para as dores físicas. A lama, por sua vez, quando devidamente tratada, é rico adubo para as sementeiras. E, mesmo o martelo, quando devidamente controlado, torna-se valioso recurso para muitas tarefas.

Estabelecendo uma preciosa comparação, o mesmo acontece com nosso mundo íntimo: cada um de nós produzirá sempre de acordo com os agentes que nos inspiram.

Voltemos a Emmanuel. Destaca o orientador amigo o seguinte³: para que possamos entender a ideia de que “tudo que é alguma coisa produz algo”, lembra que mesmo “os seres mais lastimáveis, ainda que não queiram, estão sempre produzindo”. Até mesmo o delinquente acaba produzindo o desequilíbrio; o preguiçoso, a miséria, e o pessimista, o desânimo.

Diante dessa grave afirmação, é imprescindível estarmos atentos às nossas atitudes, sejam elas expressas em pensamento, atos ou palavras. Não importa onde estejamos, estaremos sempre produzindo de acordo com as influências que nos agradam, e atuando, mecanicamente, sobre todos aqueles que se afeiçoam à nossa forma de agir.

Produzimos sempre e isso é inevitável, e certamente colheremos o resultado desse plantio. Por essa razão, o Evangelho nos recorda a necessidade de permanecermos com Jesus para que Ele permaneça em nós. Ele é a videira, o tronco, a árvore da vida. Nós, as varas, os galhos dessa árvore. Fora do tronco os galhos secam e morrem, pois, sem a essência da grandeza do Cristo, todas as obras humanas estariam destinadas a perecer. E vemos isso acontecer todos os dias diante dos nossos olhos: fortunas que se transferem de mãos, projetos que apresentavam todas as condições de sucesso falirem, e tantos outros exemplos, que podemos observar nas nossas próprias experiências.

Somos varas verdes da árvore gloriosa e, quando traímos nossos deveres para com as leis divinas, afastamo-nos da seiva bendita e rolamos no chão dos desenganos. E somente através dos sofrimentos redentores poderemos ser tomados novamente pelo Mestre, por conta da Sua misericórdia, para a nossa renovação.

Na condição de encarnados e desencarnados, ainda estamos caminhando para Jesus a fim de um dia experimentarmos essa união gloriosa. Mas, até lá, faz-se necessário que trabalhemos e vigiemos nossos sentimentos para que possamos, ao menos, compreender o que Deus deseja de nós.

 

Bibliografia:

1 – XAVIER, F. C. Fonte Viva, ditado pelo Espírito Emmanuel, 31ª ed., FEB Editora – Rio de Janeiro/ RJ – lição 146.

2 – Id– Palavras de Vida Eterna, ditado pelo Espírito Emmanuel, 20ª ed., CEU – Uberaba/ MG - lição 64.

– Ib - lição 103.
 


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita