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por Marcelo Teixeira

 

Massa!


Passei dois dias na cidade de Juiz de Fora (MG). Fui fazer palestra e divulgar o livro “Fome de Quê?”, organizado e idealizado por mim.

Conheço pouco Juiz de Fora, mas como fiquei hospedado próximo ao Parque Halfeld e à Rua Halfeld, locais nobres e badalados, aproveitei para caminhar por eles antes de vir embora. O Parque Halfeld (nome do fundador da cidade) é, na verdade, uma praça muito arborizada.

A cidade é a terceira ou quarta maior do Estado. Tem uma população de 500.000 pessoas, aproximadamente. E tem também problemas inerentes a cidades desse porte.

Passando pelo Parque Halfeld, avistei alguns rapazes vendendo bijuterias artesanais. Rapazes que vivem nas praças usam roupas estilo hippie, cabelos longos ou rastafári, alguns fumam maconha...

Grupos como esses são, em geral, invisíveis para os cidadãos comuns. Ou seja, são ignorados, discriminados. Devem ser malvistos devido ao estilo de vida que levam.

Eu tinha duas opções para passar pelo Parque Halfeld em direção ao calçadão da Rua Halfeld: ir pela calçada beirando a rua ou passar pelo caminho mais próximo ao jardim, onde tais rapazes conversavam.

Na véspera, na palestra que proferi na Fundação Espírita Allan Kardec (Feak), havia falado sobre gentileza, entre outros assuntos. Abordei a questão de tratarmos bem as pessoas, nunca discriminarmos etc. Por isso, quando passei por entre os rapazes, sorri para todos e disse bom-dia. Um deles arregalou os olhos, interrompeu a conversa e, surpreso, disse: – Ô, bom-dia! Massa!

O “Massa!” é por conta de ele ter gostado muito do meu cordial e despojado cumprimento. Sorri para ele e atravessei a rua pensando como pequenos gestos fazem a diferença para melhor e de como andamos endurecidos em relação à vida. Se meu bom-dia gerou um “Massa!” dito com tanto contentamento é porque aquele grupo já está acostumado a ser ignorado ou maltratado. Discriminar torna-se algo tão banal que os cidadãos de bem (odeio isso!) já não enxergam aqueles moços, pobres moços, como semelhantes. Se enxergassem, decerto a situação deles seria outra. Pelo menos haveria mais sorrisos em seus rostos, bem como a sensação de pertencimento. Nada mais triste do que você ser alijado de um grupo social e viver à margem, sem ao menos ser notado.

Na manhã de 31 de janeiro de 2019, no Parque Halfeld, em Juiz de Fora (MG), sem querer abri uma janela para que aqueles rapazes respirassem um pouco e se sentissem o que eles são, apesar de muitos não considerarem: parte integrante do meio social.

Massa!



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita