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por Vladimir Polízio

 

Você está habituado a orar?

 

Tudo o que se pretender introduzir como regra ou norma de conduta durante o curso da vida, acrescentando ou corrigindo o que está em pleno vigor, terá que ser, irremediavelmente, submetido ao crivo da mente instalada nesse poderoso conjunto a que chamamos centro coronário e centro cerebral, em qualquer época da vida. Assim dizemos porque haverá, certamente, um grau qualquer de dificuldade. Isso se deve como consequência natural, porque o valor do novo pensamento a ser posto em prática, independentemente de sua importância, não o credencia de pronto uma vez que já se está acostumado com o que tem, com o cotidiano. Tudo o que estiver fora desse contexto é considerado como extra, como novidade, até integrar-se efetivamente ao todo.

Portanto, assim considerando, pode parecer estranho que o objeto deste trabalho, a oração, esteja ao menos em sua fase inicial, concorrendo em muitos casos no mesmo nível de igualdade com outros compromissos e deveres que fazem parte da atividade pessoal de cada ser. O porquê disso? Sim, há uma razão, uma lógica, pois estando a oração ou a prece ligada à religiosidade, à espiritualidade, de conformidade com um percentual elevadíssimo de pessoas ouvidas, ela não faz parte de qualquer instante dentre as 24 horas dos assuntos pessoais incorporados ao dia a dia dos que estão encarnados, dos que estão vivendo na Terra.

Mas há um grave erro ao pensar dessa forma. Somos Espíritos e eviternos; e como tal, nunca deixaremos de sê-lo. Se aqui estamos, é na condição temporária de encarnados e com a roupagem específica e apropriada a esta área de trabalho. Fugir de uma realidade não nos parece sadio.

Assim sendo, quando chega o momento do sono, ao recolher-se para o descanso e reposição das energias consumidas, deve haver o instante dedicado à espiritualidade, quando o coração se manifesta em oração ao Senhor da Vida e dos Mundos, como força suprema do Universo, em agradecimento e louvor pela graça dos feitos nesse lapso de tempo. Cada dia pode ser semelhante no mundo todo, mas não é igual para ninguém.

Também proceder da mesma maneira ao levantar-se, reconhecendo que acordar por aqui significa renovação da contínua oportunidade do exercício da vida neste campo de provas. Não ignorar que cada dia da vida será sempre um dia a mais e paradoxalmente um dia a menos; a menos porque o momento consagrado à partida já foi determinado antes mesmo da chegada ao mundo e, a mais, pelo fato do futuro não ser dado a conhecer a ninguém.

Enfim, por que a prece é importante?

Os instrutores nos dão respostas e estas são apenas algumas delas nos revelando o valor desse sagrado e muito importante instante: "O primeiro dever de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar o seu retorno à atividade diária, é a prece"(1); “Orar é banhar-se de luz”(2) e “Orar é inundar-se de forças poderosas do mundo invisível para atuar com segurança no mundo das formas visíveis”(3).

"Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai ao vosso Pai em segredo; e vosso Pai, que vê o que se passa, em segredo vos dará a recompensa" - Mateus, 6: 6.

O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento se eleva a ele.

Para compreender o que ocorre nesse caso é necessário imaginar todos os seres encarnados e desencarnados mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim como na Terra estamos envolvidos por essa idêntica atmosfera. Dela absorvemos pela respiração o oxigênio para a sobrevivência e também o fluido magnético, nele composto, e matéria vibrante de muito valor. Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é o veículo natural do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito.                     

A energia dessa corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se encontrem (4). 

Levando em conta que a oração ou a prece é uma invocação, por ela nos colocamos em sintonia mental com o ser ao qual nos dirigimos. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros; pelos vivos ou pelos mortos.

Cabe aqui destacar um importantíssimo relato feito por Allan Kardec há 155 anos, descrevendo a maneira como as rogativas, através da prece (ou oração), chegariam ao destinatário.

Somente a partir do ano de 2006 é que a Ciência, pesquisando o poder da mente para outras finalidades médicas, comprovou que bilhões de neurônios entram em atividade compulsiva através da simples concentração do cérebro. Muito se falou e se mostrou sobre isso. O processo inicial relaciona-se a eletrodos ligados na cabeça de pessoas tetraplégicas, em pontos especiais, os quais transmitem sinais a mãos ou braços biônicos para que atendam aos impulsos do pensamento. Com esse maravilhoso resultado constatou-se que os neurônios, quando o cérebro recebe uma ordem, emitem descargas positivas as quais formam poderoso campo eletromagnético cujo fluido resultante é o condutor do sentimento que lhe deu origem.

Essa descoberta científica veio ratificar o que Kardec já havia dito n'O Evangelho segundo o Espiritismo, em sua primeira edição em Abril do ano de 1864: "Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som"(5).   

Complementando a informações sobre a eficiência e eficácia da prece ou da oração, reproduzimos a explanação que André Luiz recebeu de seu orientador, quando se encontrava em excursão por certas regiões da Terra em amparo a grupo de trabalho mediúnico:

"– Assim como o corpo físico pode ingerir alimentos venenosos que lhe intoxicam os tecidos, também o organismo perispiritual pode absorver elementos de degradação que lhe corroem os centros de força, com reflexos sobre as células materiais. Se a mente da criatura encarnada ainda não atingiu a disciplina das emoções, se alimenta paixões que a desarmonizam com a realidade, pode, a qualquer momento, intoxicar-se com as emissões mentais daqueles com quem convive e que se encontrem no mesmo estado de desequilíbrio. Às vezes, semelhantes absorções constituem simples fenômenos sem maior importância; todavia, em muitos casos, são suscetíveis de ocasionar perigosos desastres orgânicos. Isto acontece, mormente quando os interessados não têm vida de oração, cuja influência benéfica pode anular inúmeros males.

Indicou o coração de carne da irmã presente e continuou:

– Esta amiga, na manhã de hoje, teve sérios atritos com o esposo, entrando em grave posição de desarmonia íntima. A pequena nuvem que lhe cerca o órgão vital representa matéria mental fulminatória. A permanência de semelhantes resíduos no coração pode ocasionar-lhe perigosa enfermidade"(6).

Esse relato do benfeitor pode ser facilmente confirmado, pois vem de encontro com a realidade dos fatos. Embora cite apenas um exemplo, também muito comum, constata-se uma série de desconfortos, inconveniências e contratempos que poderiam ser perfeitamente equilibrados ou eliminados se extinto fosse o distanciamento criado pela própria pessoa em relação ao campo poderoso da espiritualidade nesse Universo infinito.

"A prece aproxima do Altíssimo o homem; é o traço de união entre o céu e a Terra: não o esqueçais."(7)

 

Referências:

(1) e (4) O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec - Cap. XXVII nº 22 - Ed. LAKE.

(2) e (3) Calvário de libertação, de Victor Hugo, por Divaldo Franco.

(5) e (7) O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec - Cap. XXVII e Cap. II nº 8 - Ed. LAKE-SP.

(6) Missionários da luz, de André Luiz, por Chico Xavier - Cap. 19 - Ed. FEB-RJ.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita