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por Rogério Coelho

 

Hipocondria e cura

 

O quadro de retificações individuais - após a morte do corpo - é extenso e variado


“(...) Remediar a saúde e viciar a mente são duas atitudes essencialmente antagônicas entre si.” 
Aniceto[1]

 

O hipocondríaco, em sua visita diária à farmácia, olha para as prateleiras de remédios da mesma maneira que uma criança olha para uma caixa de bombons, e solicita do atendente:  “por favor, aquela caixa vermelha ali na terceira prateleira. Eu ainda não conheço. Vou levar uma!...”.

O balconista, com alguma dificuldade de se fazer compreender, alega que aquela medicação só pode ser vendida mediante receita médica; e o hipocondríaco – entre raivoso e frustrado – sai com o nome do remédio escrito em uma folha de papel em busca de um médico que lhe forneça a tal prescrição... 

Na monumental e singular obra de André Luiz, psicografada pela mão abendiçoada do cândido Francisco Xavier, mais especificamente no capítulo 43 do livro “Os mensageiros”, Aniceto faz uma abordagem da hipocondria, onde podemos observar que nem mesmo a “morte” tem o condão de livrar as suas vítimas da obsessão por medicamentos, continuando essas criaturas, no Além, ainda prisioneiras das enfermidades...

Eis o seu ensinamento ao observar um magote de Espíritos sofredores: “(...) se fosse concedida à criatura vulgar uma vista de olhos, ainda que ligeira, sobre uma assembleia de Espíritos desencarnados, em perturbação e sofrimento, muito se lhes modificariam as atitudes na vida normal. Nessa afirmativa, devemos incluir, igualmente, a maioria dos próprios espiritistas, que frequentam as reuniões doutrinárias, alheios aos esforços autoeducativos, guardando, da espiritualidade, uma vaga ideia, na preocupação de atender ao egoísmo habitual. 

 O quadro de retificações individuais, após a morte do corpo, é tão extenso e variado que não encontramos palavras para definir a imensa surpresa... Tínhamos diante dos olhos uma autêntica reunião de “coxos e estropiados”, segundo o símbolo evangélico. Em sua maioria trata-se de irmãos abatidos e amargurados, que desejam a renovação sem saber como iniciar a tarefa. Aqueles rostos esqueléticos causavam compaixão. Pareciam cadáveres erguidos do próprio leito de morte. Alguns se locomoviam com grande dificuldade. Em pranto, alguns mantinham as mãos no ventre, calcando regiões feridas. Não eram poucos os que traziam ataduras e faixas...

Muitos não concordam ainda com as realidades da morte corporal. E toda essa gente”, - explicava Aniceto - “de modo geral, está prisioneira da ideia de enfermidade. Existem pessoas que cultivam as moléstias com verdadeira volúpia. Apaixonam-se pelos diagnósticos exatos, acompanham no corpo, com indefinível ardor, a manifestação dos indícios mórbidos, estudam a teoria da doença de que são portadoras, como jamais analisam um dever justo no quadro das obrigações diárias, e quando não dispõem das informações nos livros, estimam a longa atenção dos médicos, os minuciosos cuidados da enfermagem e as compridas dissertações sobre a enfermidade de que se constituem voluntárias prisioneiras. Sobrevindo a desencarnação, é muito difícil o acordo entre elas e a verdade, porquanto prosseguem mantendo a ideia dominante. Às vezes, no fundo, são boas almas, dedicadas aos parentes do sangue e aproveitáveis na esfera restrita de entendimento a que se recolhem, mas, no entanto, carregadas de viciação mental por muitos séculos consecutivos.

 Demoramo-nos todos a escapar da velha concha do individualismo!

 A visão da universalidade custa preço alto e nem sempre estamos dispostos a pagá-lo. Não queremos renunciar ao gosto antigo, fugimos aos sacrifícios louváveis. Nessas circunstâncias, o mundo que prevalece para a alma desencarnada, por longo tempo, é o reino pessoal de nossas criações inferiores. Ora, desse modo, quem cultivou a enfermidade com adoração, submeteu-se-lhe ao império.

É lógico que devemos, quando encarnados, prestar toda a assistência ao corpo físico, que funciona, para nós, como vaso sagrado, mas remediar a saúde e viciar a mente são duas atitudes essencialmente antagônicas entre si.

A prece e o esforço dos companheiros encarnados representarão o termo desta reunião de assistência e iluminação em Jesus Cristo”.

Concluímos assim, com Aniceto, que a cura não só da hipocondria, mas também de todo e qualquer desequilíbrio físico e psíquico, está em Jesus Cristo, o Grande e Inigualável Médico das Almas. E para chegarmos até Ele felicitando-nos com o Seu magnetismo curador, podemos usar os canais da prece, coadjuvando nossas súplicas com o serviço incessante no Bem.


 

[1] - XAVIER, F. Cândido. Os mensageiros. 38. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1998, cap. 43.


 

 

     
     

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