Entrevista

por Orson Peter Carrara

Como surgiu o romance ALMAS: Amor e evolução espiritual na Patagônia

Espírita de nascimento, natural de Campinas e residente desde 1995 em Pindamonhangaba, no estado de São Paulo, Walter Bonaparte Junior (foto) é médico formado em 1987, com especialização em neurologia e cirurgia da coluna vertebral. Vincula-se à Casa Espírita Eurípedes Barsanulfo, situado na cidade onde reside, como colaborador da direção e comentarista das lições do Evangelho.

Na entrevista que nos concedeu, ele nos fala sobre o romance ALMAS: Amor e evolução espiritual na Patagônia, de sua autoria.

Como surgiu a ideia do romance?

O livro surgiu a partir do desenvolvimento de uma capacidade mediúnica latente, quando a psicografia começou a se manifestar, e um conteúdo abundante me era trazido por intuição, a partir de diversas mensagens recebidas em treinamento mediúnico. O primeiro capitulo surgiu de maneira fortuita, sem que soubesse que se transformaria em uma bela história com um entrelaçamento entre personagens estruturadas, ao longo de três gerações de famílias.

Como você sentiu o evoluir das ideias na sequência do texto?

O texto teve forte impacto no primeiro capítulo, chegando de maneira forte, marcante e com personalidade. A partir de então, quando percebi que ele seria o início de uma história mais longa, passei a me dedicar mais profundamente a fazer contato com o mentor da obra, e a cada núcleo central de ideias, eu procurava estudar mais profundamente o assunto, trazendo contribuição histórica ao contexto geral. Em determinados momentos, tinha a certeza de que aquilo que escrevia nunca poderia ser fruto de meu conhecimento ou de minha criação; em outros momentos a mente trabalhava em conjunto com meu inspirador, fazendo um verdadeiro trabalho a quatro mãos. 

Sendo uma descrição de época, que detalhes mais chamam atenção?

A história se inicia em 1865 e transcorre na maior parte do tempo em uma região que eu nunca havia visitado, a Patagônia Argentina. Os detalhes que mais me chamavam a atenção eram as minuciosas descrições de locais, meios de vida, a geografia e os costumes das pessoas com quem nunca tive a oportunidade de conviver (ao menos nesta encarnação). 

Envolvendo emigração e imigração, os relatos da experiência trazem profundas reflexões. O que lhe ocorre dizer dessas descrições?

A grande questão que a história me trouxe foi a reflexão a respeito das mudanças geográficas que os encarnados realizam, ao longo de suas vidas, seja em busca de um futuro melhor ou como consequência de catástrofes ou guerras, quando famílias inteiras se deslocam no globo terrestre, indo  estabelecer-se em locais tão diferentes de sua cultura original. Qual a repercussão desses movimentos humanos e quais motores impulsionam verdadeiramente essas mudanças sob a ótica espiritual? Estas são as reflexões causadas pela saga da qual fui intermediário em colocar no formato de um livro.

Sobre as personagens, o que gostaria de dizer?

A mim me impressiona a coragem de pessoas que deixam todo um universo já estabelecido em suas vidas e partem em direção daquilo em que acreditam. As personagens dessa história são muito diversas, mas um grande elo as une, o destemor e a certeza de estarem fazendo o melhor que podem a cada momento. O casal que emigra de seu país torna-se responsável, após cerca de um século, por significativas mudanças em sua sociedade, tendo plantado lentamente a semente da fé raciocinada, em paralelo com os princípios que nortearam Kardec em sua brilhante codificação das leis naturais ditadas pelos espíritos. As mulheres, sempre à frente na evolução espiritual, mostram mais uma vez nesta obra que têm muito a ensinar a nós homens, que resistimos em abandonar o ego da supremacia após tantas e tantas vidas se endividando.

As dificuldades da época e mesmo as experiências difíceis de uma viagem, além dos desdobramentos na chegada a um país diferente, deram um sabor diferente ao relato. O que nisso sobressai?

As dificuldades passadas pelo grupo parecem fortalecer sua tenacidade em vencer. A família que busca um local para se estabelecer, no fundo, procura algo semelhante à sua origem, porém sem necessitar viver sob o jugo de uma sociedade opressora. Lembremos as condições existentes na segunda metade do século XIX, quando não estava ainda disponível a energia elétrica, o motor a vapor (a travessia original intercontinental foi feita em um veleiro!), o telefone, a penicilina e tantas outras facilidades conquistadas nas décadas seguintes. O sabor impresso na história está relacionado ao cotidiano das pessoas, que sobreviviam perto da metade de nossa expectativa de vida atual. Podemos refletir sobre quanto já evoluímos e como a humanidade vem lidando com estes novos valores que impactam diretamente em virtudes como a gratidão, a tolerância e outros.

Como na obra é apresentada a Doutrina Espírita?

O casal que dá início à história tem origem no povo celta, sendo, portanto, bastante aberto aos conceitos espiritualistas. Ao longo de suas vidas, o Kardecismo se apresenta em suas reflexões e acaba despertando forte necessidade de implantar os conceitos da pluralidade das existências em sua sociedade, tanto quanto as leis do merecimento. Os filhos são criados dentro da ética do Cristianismo primitivo e, de maneira natural, o Espiritismo é adotado pelas gerações seguintes, chegando a se fundar uma casa espírita na gelada Patagônia, naquela época ainda permeada de índios naturais da região e de imigrantes de origem e crença protestante. O autor espiritual procura apresentar a doutrina como fonte de inspiração e segurança consoladora das personagens. Com um teor fortemente amoroso e de caridade, a história se desenrola dentro dos princípios que aprendemos em qualquer centro de estudo espírita no Brasil ou fora dele.

A obra já foi traduzida e publicada em outro país?

Sim. Em vista da história se passar quase totalmente na vizinha Argentina, conseguimos traduzir e editar a obra para o castelhano mesmo antes de lançá-la aos irmãos do Brasil. Participamos de um festival de cultura galesa na Patagônia em abril do ano passado, onde a obra foi lançada com muito respeito pela cultura local. Quase cinquenta exemplares foram enviados aos centros espiritas daquele país, criando um movimento em torno de sua bela e envolvente história. O mentor espiritual nos destacou que uma das propostas desta escrita seria semear um lento despertar da espiritualidade latente em um povo (galeses que emigraram para a Argentina) cujos ascendentes já foram importantes líderes espirituais. Lembrando que Allan Kardec em outra vivência terrena adotava o nome de um líder druida, um destacado cidadão da cultura celta, estando assim diretamente relacionado com a prática "espiritista" implantada no sul da Argentina sob a visão do romance Almas.

De suas lembranças na sequência do livro, o que gostaria de destacar?

A viagem realizada ao local onde o romance se passa foi o ponto alto a ser lembrado, pois assim como a escrita intuída nos trazia tanta informação nova, ao longo de seis meses de trabalhos, o viver e conhecer o local onde as personagens fictícias se instalaram, e junto com seus guias escolheram que Jesus e Kardec seriam os responsáveis por aquele lugar, sem dúvida são memórias marcantes.

Algo mais que gostaria de acrescentar aos leitores?

Lembro aos leitores que esta é minha obra escrita e publicada com a identificação espiritual de um mentor, que somente ao final do livro se identificou. O reverendo George Owen, um religioso inglês, que após ver a própria mãe estabelecer comunicações após o desencarne se transforma em fervoroso defensor da doutrina Kardecista no início do século XX, sendo expulso da Igreja Anglicana. A emoção de ver uma obra escrita de maneira intuída, ser publicada e lida por tantas pessoas, se compara àquela de um filho que nasce, cresce e caminha com suas próprias pernas.

Quem quiser adquirir o livro, onde procurar?

O livro foi editado pela Editora Saramago do RJ, e se encontra à venda em alguns sites, entre eles o "Estante virtual". Também os exemplares podem ser adquiridos por valores menores com o autor, destacando que toda a verba obtida por esta modalidade de venda será destinada a implantação de projetos geradores de autossuficiência financeira para famílias assistidas da cidade pela nossa casa Eurípedes Barsanulfo. Contatos podem ser feitos pelo WhatsApp 12 99100-9001 ou pelo e-mail walterbonaparte@gmail.com

Suas palavras finais.

Só tenho a agradecer a confiança que me foi depositada pela espiritualidade, esperando ter cumprido com este nobre projeto que é o de escrever uma história que não nos pertence, com a finalidade e propósito definidos por nobres mentores em nossas vidas. Fico feliz em espalhar mais longe a amorosa e edificante doutrina que toma nossas mentes e corações.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita