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por Temi Mary Faccio Simionato

 

Benfeitores desencarnados


A assistência espiritual desenvolvida pelos Espíritos benfeitores tem como fundamento a passagem do Evangelho de Mateus, no capítulo 7, versículo 11: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá. Quem dentre vós dará uma pedra ao seu filho, se este lhe pedir pão? Ou lhe dará uma cobra, se lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem!”

Em O Livro dos Espíritos, na questão 495, Kardec faz o seguinte comentário: “A doutrina dos anjos da guarda, velando pelos protegidos apesar da distância que separa os mundos, nada tem que deva surpreender, pelo contrário, é grande e sublime. Não vemos sobre a Terra um pai velar pelo filho, ainda que esteja distante, e ajudá-lo com seus conselhos através da correspondência? Que haveria de admirar em que Espíritos possam guiar, de um modo ao outro, os que tomaram sob sua proteção, pois se, para eles, a distância que separa os mundos é menor que a que divide os continentes da Terra? Não dispõem eles do fluido Universal que liga a todos os mundos e os torna solidários, veículo imenso da transmissão do pensamento, como o ar é para nós o veículo da transmissão do som?”

Desta maneira, poderemos entender que, no mundo espiritual, amigos intercedem por nossa felicidade a fim de assegurar-nos a estabilidade que necessitarmos para lutar, servir, amar e vencer, apesar do assédio dos desencarnados que nos foram comparsas em dramas do passado. A ação protetora dos Espíritos benfeitores ocorre sempre com o intuito de ajudar o seu tutelado a encontrar o caminho do bem, sem jamais tolher o seu livre-arbítrio, pois o Espírito precisa de experiência para seu adiantamento.

Entretanto, perguntamo-nos, muitas vezes, pela presença dos benfeitores Espirituais quando tudo indica que forças contrárias às nossas noções de segurança e conforto comparecem nos caminhos terrestres, como desastres, provações e enfermidades. Onde estão os amigos desencarnados que nos protegem? Se, no entanto, aspiramos a conhecer a atitude moral dos Espíritos benfeitores, diante de tantos padecimentos, consultemos os corações que amam verdadeiramente na Terra, auscultando as esposas e mães abnegadas que choram com o suplício do cárcere dos filhos e companheiros queridos. Todos eles trocam frases de carinho, orando e trabalhando para que retornem ao lar. Assim esclarecem os Espíritos em O Livro dos Espíritos, na questão 503: “O Espírito protetor que vê o seu protegido seguir um mau caminho, apesar dos seus avisos, sofre com os seus erros e os lamenta, mas essa aflição nada tem das angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal, e o que hoje não se fez, amanhã se fará".

Deste modo, quando vemos alguém submetido aos mais duros entraves, não suponhamos que esse alguém permaneça esquecido por parte dos benfeitores Espirituais. O amor brilha e paira sobre todas as dificuldades, à maneira do sol que paira e brilha sobre as nuvens. Isso porque, onde existem almas sinceras à procura do bem, o sofrimento é sempre o remédio justo da vida para que, junto delas, não suceda o pior.

Quando esses amigos do Alto nos encontram abatidos e lacerados, jamais nos aconselham qualquer desforço ou lamentação, e, sim, nos ajudam a esquecer a crueldade e a violência com força bastante para não cairmos na posição de quem nos insulta ou injuria; e, se nos surpreendem caluniados ou perseguidos, não nos inclinam à revolta ou ao desânimo, mas recompõem as nossas energias desconjuntadas, sustentando-nos na humildade e no serviço com que possamos reajustar o pensamento de quem nos apedreja ou difama.

Os Benfeitores são rosas no espinheiral de nossas imperfeições, perfumando-nos a agressividade com o bálsamo da indulgência; são também estrelas que brilham na noite de nossas faltas, acenando-nos com a confiança no esplendor da alvorada nova, para que não chafurdemos o coração no lodo espesso do crime. E, sobretudo, diante de toda ofensa, levantam-nos a fronte para o justo dos justos que expirou no madeiro, por resistir ao mal em suprema renúncia, entre a glória do amor e a bênção do perdão.

Oração, trabalho, fé, estudo, confiança e amor fraterno são os pilares para a sustentação de energias que nos induzem à renovação e nos garantem a presença e o êxito dos benfeitores na intercessão. A balança é o próprio homem, legítimo construtor do seu progresso, da sua felicidade e da sua iluminação. O amor que serve, passa, ajuda, constrói, compreende e perdoa é o grande e infalível recurso de que dispomos em nossas redentoras lutas. Eis que, brilhando por luz de Deus, ainda mesmo nas regiões em que a escuridão aparentemente domina, o amor regenera e aprimora sempre.

Assim, compreendemos que os Espíritos benfazejos procuram sempre inspirar-nos para o bem, enquanto que, Espíritos menos esclarecidos, buscam induzir-nos ao mal. Os primeiros cumprem a missão renovadora junto à humanidade, instilando na nossa alma, por gotas luminosas, princípios que engrandecem e elevam. São os missionários do amor. Os segundos influenciam em sentido contrário, na indução para o mal, não cumprindo a missão. No entanto sabemos que, a nenhum Espírito, é dada a missão de praticar o mal.

Desta forma, será sempre fácil discernir a presença dos mensageiros divinos ao nosso lado a nos induzir pela rota do bem. Ainda mesmo que tragam consigo o fulgor da vida celeste, sabem acomodar-se no nosso singelo degrau nas lides da evolução, ensinando-nos o caminho da esfera Superior. E mesmo que se elevem a culminâncias sublimes na ciência do Universo, ocultam a própria grandeza para nos guiar, no justo aproveitamento das possibilidades em nossas mãos.

Sem ferir-nos de leve, fazem luz em nossas almas, a fim de que vejamos as chagas de nossas deficiências, de modo a que venhamos saná-las na luta do próprio esforço. Nunca se prevalecem da verdade para esmagar-nos em nossa condição de Espíritos devedores, usando-a simplesmente como remédio dosado para enfermos, para que nos ergamos ao nível da redenção. Nem se valem da virtude que adquiriram para condenar as nossas fraquezas, empregando-as tão só na paciência incomensurável em nosso favor.

Como nos esclarece o benfeitor espiritual, Emmanuel, no livro O Consolador, na questão 226: “Os guias Espirituais têm uma parte ativa na nossa iluminação pessoal. Essa colaboração apenas se verifica como no caso dos irmãos mais velhos, ou dos amigos mais idosos nas experiências do mundo. Os mentores do Além poderão apontar-nos os resultados dos nossos próprios esforços na Terra, ou, então, aclarar os ensinos que já recebemos por meio de misericórdia do Cristo e da benevolência dos seus enviados, mas, em hipótese alguma, poderão afastar a alma encarnada do trabalho que lhe compete na curta permanência das lições do mundo. Os amigos espirituais não se encontram em estado beatífico. Suas atividades e deveres são maiores que os nossos. E cada Espírito deve buscar em si mesmo a luz necessária à visão acertada do caminho. Trabalhar sempre. Essa é a Lei para vós outros e para nós que já nos afastamos do âmbito limitado do círculo carnal, esforçando-nos constantemente. A palavra do guia é agradável e amiga, mas o trabalho de iluminação pertence a cada um. Na solução dos nossos problemas, nunca esperemos pelos outros, porque, de pensamento voltado para a fonte da sabedoria e misericórdia, que é Deus, não nos faltará, em tempo algum, a divina inspiração de Sua bondade infinita”.

Portanto, confiemos nos Benfeitores e nas bênçãos que nos enriquecem os dias, sem, contudo, nos esquecermos das nossas obrigações no aproveitamento do amparo que nos ofertam. Instrutores da alma que nos orientam a viagem da elevação, por muito que nos protejam, não nos suprimem o suor da subida moral. Encontramo-nos à frente do amor de que todos somos necessitados, assim como o vegetal diante da natureza. A planta não se cria sem o ar, não expande sem o sol, não dispensa o auxílio da terra e não prospera sem água, mas deve produzir por si mesma. Assim também é no reino do Espírito.

Parece-nos claro, portanto, que se Jesus não parou em contemplação inoperante, transitando no serviço ao próximo da manjedoura até a cruz, ninguém aguarde a visitação dos mensageiros divinos paralisando as mãos na esperança sem trabalho e na fé sem obras. A palavra do Enviado celeste, entretanto, é clara e incisiva: “Aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João, 8: 12).

Ouçamos e sigamos os bons Espíritos, deixando para sempre as sombras da retaguarda e avancemos para Deus sob a glória da luz.

 

Bibliografia:

XAVIER, Francisco Cândido – Religião dos Espíritos – ditado pelo Espírito Emmanuel – 22ª edição – Editora FEB – Brasília – DF – lição 35 – 2013.

XAVIER, Francisco Cândido – Livro da Esperança – ditado pelo Espírito Emmanuel – 10ª edição – Editora Comunhão Espírita Cristã – Uberaba – MG – lição 9 – 1988.

XAVIER, Francisco Cândido – Seara dos Médiuns – ditado pelo Espírito Emmanuel – 20ª edição – Editora FEB – Brasília – DF – lição 90 – 2015.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita