Artigos

por Hugo Alvarenga Novaes

 

Probleminha hipotético


Já que o tema "posse de armas" está sendo largamente debatido, proporemos um "probleminha hipotético" para vocês, baseando-nos na questão abaixo.

Façamos de conta que em certa noite, toda a família, você, sua esposa ou marido, juntamente com seus dois filhos, estavam assistindo sossegadamente televisão na sala. Quando de repente um homem mau arrombou a porta e de arma em punho gritou colérico: "isto é um assalto. Passem o dinheiro ou morrem todos". Você disse ao meliante: "calma, calma, eu irei pegar o dinheiro para você que está naquela gaveta". E a apontou. Entretanto, você sabia que dentro daquela gaveta que apontou tinha uma arma já carregada. E como você era um homem que tinha um hábil manejo com as armas (pois você era um agente de segurança, tinha um porte de armas e recentemente tinha feito cursos de defesa pessoal e de como atirar, esse último junto à polícia militar), mataria facilmente aquele ladrão, salvando assim você e sua família. Além do mais, a probabilidade de seus cálculos estarem errados seria praticamente nula.

Observação importante: Nesse caso hipotético você não tem as opções de chamar algum estranho, os vizinhos, a polícia ou feri-lo. Apenas de matá-lo.

Muitas pessoas, inclusive “Espíritas de carteirinha”, à primeira vista e, irrefletidamente, falariam a frase, responderiam que, sem dúvida, nesse caso matariam o bandido. E acrescentariam com o seguinte dito popular: “para mim, bandido bom é bandido morto”.

Todavia, se eles pensassem duas vezes, mesmo que fosse por um momento rápido, certamente se lembrariam, além das palestras que ouviram, como também, no mínimo, dos ensinamentos contidos apenas em duas obras: “O Livro dos Espíritos” e a Bíblia. Veriam então que esse ato de “matar o seu semelhante” vem de encontro e não condiz com aquilo que aprenderam nas reuniões, como também é contrário àquilo que está escrito em ambos os livros referidos acima.

Afinal de contas, como bons Espíritas e bons Cristãos, sabemos que a Justiça Divina é a maior e que nós não devemos, para o nosso bem, procurar fazê-la com nossas próprias mãos.

Aprendemos que esta vida física que temos é momentânea, a verdadeira e imortal existência é do Espírito.

Quanto a isso, Jesus diz: "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita" e conclui falando: "as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida" (João 6:63).

Agora, observemos o que encontramos na primeira obra do Espiritismo.

748. Em caso de legítima defesa, escusa Deus o assassínio?

"Só a necessidade o pode escusar. Mas, desde que o agredido possa preservar sua vida, sem atentar contra a de seu agressor, deve fazê-lo."

Reparemos bem neste trecho da resposta dos Espíritos: "Mas, desde que o agredido possa preservar sua vida, sem atentar contra a de seu agressor, deve fazê-lo". Isso foi pensado? Pela resposta acima vimos que não.

761. A lei de conservação dá ao homem o direito de preservar sua vida. Não usará ele desse direito, quando elimina da sociedade um membro perigoso?

"Há outros meios de ele se preservar do perigo, que não matando. Demais, é preciso abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento."

Será que no caso hipotético anteriormente citado, "quem matou o ladrão", não o fez por impulso? Por um acaso, deixou ele a porta do arrependimento aberta ao criminoso, como nos é orientado? Não teria sido impensado este ato, já que o "agredido" sabia de tudo isso acima?

880. Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?

“O de viver. Por isso é que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal.”

Analisem a palavra "ninguém" em todo o contexto da resposta dos Espíritos.

Também Moisés disse: "Não matarás." (Êxodo 20:13)

Não há exceções. Jesus também falou: "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas" (Mateus 7:12).

O que é semelhante a estas palavras do Sublime Nazareno: "Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem" (Lucas 6:31).

E ainda: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (João 13:34-35).

Uma última pergunta que não quer calar: “agindo daquela maneira, poderemos considerar-nos como sendo discípulos de Jesus; em outras palavras: estaremos seguindo seus ensinamentos”?




 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita