Artigos

por Bruno Abreu

 

Viver da carne ou do espírito?


“Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.” Romanos 8:6 e 7.


Jesus por vezes se referiu a Ele próprio como “O Filho do Homem” e o “O Filho de Deus”, diferenciando o que é da carne do que é de Deus. Nós, como apenas conseguíamos ver um, a carne, tivemos dificuldade em entender o que nos queria transmitir.

Paulo, em Romanos 8:7, afirma que o que é da carne não poderá agradar a Deus, demonstrando que o ser humano terá que se abandonar para compreender Deus.

Ao que será que se refere quando fala em ser da carne?

Vamos, em conjunto, dissecar de forma superficial o ser terreno para podermos verificar o seu interior.

Quando Paulo se refere à carne, tal como Jesus, refere-se ao ser terreno sem que seja uma menção direta ao corpo, pois este é um “fantoche” idêntico em todos nós. Poderemos ter os olhos em bico, ter a pele mais escura, sermos extremamente claros, mas isso são pequenos pormenores que apareceram com a evolução biológica da humanidade nos determinados pontos do globo. Fácil de percebermos, se nos lembrarmos de que a ciência informa-nos que a origem da humanidade é de um único continente.

A forma física do ser humano e seu funcionamento é comum a todos os seres humanos, demonstrando desta forma que não é aqui que surge a diferença da carne e do espírito que Paulo menciona, um cérebro é um cérebro, um corpo é um corpo, se não levarmos em consideração o seu preenchimento psicológico.

Quando constatamos a evolução nos seres “iluminados”, que é que nos diferencia uns dos outros?

O que nos diferencia é a estrutura Psíquica, a parte inteligente do ser, o seu conteúdo, fazendo de nós únicos e, como referido em cima, não é o corpo biológico que nos diferencia como seres.

Mas como somos constituídos? Por que Paulo chama à parte Psicológica o ser da carne?

O psicológico humano é constituído pelos seus aprendizados, que adquiridos com apego, formam o caráter ou a personalidade do homem, apegando-se cada um ao que dá mais valor.

Vamos entrar em um exemplo prático, para que possamos compreender um pouco melhor.

Um católico frequentador aprende na Igreja o que para ele é correto. A partir desse momento, quando age, fá-lo com origem neste conhecimento que se tornou seu caráter. Se formos a qualquer outra religião, funciona da mesma forma, ou seja, somos condicionados aos ensinamentos a que nos apegamos, tornando-os crenças ou estruturas pessoais.

Quanto à sociedade onde está inserido, funciona da mesma forma, é influenciado por esta que condicionará parte do seu caráter, por isso, quem nasce em um país muçulmano será logicamente muçulmano, possivelmente nem terá ouvido falar em Cristo.

Os exemplos atrás basearam-se na religião, mas volto a frisar que é igual em tudo. O que eu penso, o que eu acho, o que me parece certo, vem tudo de uma estrutura psicológica, criada com apego pessoal e que desenvolve a “personalidade” existente na Terra que imponho, defendendo os meus pontos de vista, querendo criar “um mundo” da minha forma. Esta é a maior forma de apego existente no planeta, daí o caos criado pela humanidade.

O ser não se limita ao plano terreno; nós trazemos uma bagagem de milhares de anos, através da reencarnação. Essa bagagem é constituída pelos tesouros do Céu que estarão em prova na Terra; estes tesouros que irão aumentar e fortalecer com as conquistas espirituais são ainda de expressão suave, facilmente abafados pela voz do desejo e da razão, fruto do caráter terreno individual, filhos da carne.

Jesus aconselha-nos em primeiro lugar procurar o Reino de Deus que está em nosso interior; para o fazermos ou para O seguirmos, que é o mesmo, temos que nos abandonar. Nós achamos que é abandonar alguns hábitos, mas os hábitos nascem da personalidade e aí fica mais difícil porque temos mesmo que nos abandonar, como Ele frisou.

Quando reencarnamos, deixamos obrigatoriamente para trás o Filho do Homem de outras reencarnações, sendo este o ser mortal que desaparece com o passar do tempo e, na nova reencarnação, construímos outro, mostrando o quanto são temporários. Mesmo com esta informação, não abdicamos desta ideia tão entranhada em nós, que levamos estas identidades fabricadas “além-túmulo”, sofrendo todas as consequências do apego ao ser.

O desapego não é a inexistência total, como alguns imaginam medrosamente, nem sequer a perda do ser, pelo contrário, como diz Joanna de Ângelis, é a aproximação do ser eterno que só pode acontecer quando abdicamos do ser terreno e sua formação.

“Porque os que são segundo a carne, inclinam-se para as coisas da carne; mas, os que são segundo o espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.” (Romanos 8:5 e 6.) 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita