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por Rogério Coelho

 

Mister adequar-se primeiro


De nada vale partirmos do Planeta, quando nossos males não foram exterminados convenientemente


“Amigo, como entraste aqui, não tendo o vestido nupcial?” - 
Mateus, 22:12.


A Doutrina Espírita leva-nos a cogitar das situações presente/futura em um patamar que nenhuma outra filosofia ou religião consegue alcançar.

Traduzindo-nos a essência dos ensinamentos de Jesus, passamos a uma ordem superior de pensamentos, ensejando a valorização, dessa forma, de cada trecho de nossa longa caminhada evolutiva.

Ao trazer-nos a noção da Vida Futura, conforme os ensinos do Meigo Rabi, acenando-nos lá com uma felicidade que não temos aqui, mas que podemos começar a construir desde agora, não estimula o descoroçoamento para com as coisas da Terra. Embora apontem os Benfeitores Espirituais perspectivas de vida melhor em orbes superiores à Terra, não querem nos levar a frustrações e tristezas no presente por ainda não estarmos na situação dos que já mereceram tal galardão, por não termos ainda a “veste nupcial”.

Jesus foi muito claro[1]: “não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”.

Aprendemos com Emmanuel[2]“nos centros religiosos, há sempre grande número de criaturas preocupadas com a ideia da morte. Muitos companheiros não creem na paz, nem no amor, senão em planos diferentes da Terra. A maioria aguarda situações imaginárias e injustificáveis para quem nunca levou em linha de conta o esforço próprio.

O anseio de morrer para ser feliz é enfermidade do Espírito. Orando ao Pai pelos discípulos, Jesus rogou para que não fossem retirados do mundo e, sim, libertos do mal. O mal, portanto, não é essencialmente do mundo, mas das criaturas que o habitam. A Terra, em si, sempre foi boa. De sua lama brotam lírios de delicado aroma; sua natureza maternal é repositório de maravilhosos milagres que se repetem todos os dias.

De nada vale partirmos do Planeta, quando nossos males não foram exterminados convenientemente. Em tais circunstâncias, assemelhamo-nos aos portadores humanos das chamadas moléstias incuráveis. Podemos trocar de residência, todavia, a mudança é quase nada se as feridas nos acompanham. Faz-se preciso, pois, embelezar o mundo e aprimorá-lo, combatendo o mal que está em nós...

Paulo de Tarso contemplou o Cristo ressuscitado, em Sua grandeza imperecível, mas foi obrigado a socorrer-se de Ananias para iniciar a tarefa redentora que lhe cabia junto aos homens.

Essa lição deveria ser bem aproveitada pelos companheiros que esperam ansiosamente a morte do corpo, suplicando transferência para os mundos superiores, tão somente por haverem ouvido as maravilhosas descrições dos mensageiros divinos. Meditando o ensinamento, perguntam a si próprios o que fariam nas Esferas Mais Altas, se ainda não se apropriaram dos valores educativos que a Terra lhes pode oferecer. Mais razoável, pois, se levantem do passado e penetrem a luta edificante de cada dia, na Terra, porquanto, no trabalho sincero da cooperação fraternal, receberão de Jesus o esclarecimento acerca do que lhes convém fazer”.

Pelos recursos psicográficos do médium Divaldo Franco, a nobre mentora Joanna de Ângelis complementa[3]: “(...) não consideres instáveis estes tempos, ante o programa que estabeleceste para a tua autorrealização.  Se não dispões de amor e coragem para sobrepô-los às circunstâncias de tempo e lugar, não estás edificando para o porvir.

Seja qual for a tua idade cronológica, concede-te viver o encanto e a beleza próprios que lhe são inerentes, aplicando os teus recursos nas metas psicológicas e espirituais que deves atingir.

(...) A redescoberta do sentido da vida e da re-humanização é um avanço histórico na busca da maturidade psicológica, da tomada de consciência de si mesmo.

Jesus, consciente da missão que veio desempenhar na Terra, conclamou as massas à responsabilidade, aos elevados significados da vida, ao mesmo tempo buscou a identidade de cada discípulo, trabalhando pela sua humanização e insistindo na valorização dos conceitos éticos da existência, a fim de levá-lo a uma perfeita integração no programa libertador de si próprio, primeiro, e da sociedade, depois.

O Seu triunfo não foram o aplauso, a aceitação, a glória da mensagem, mas, a cruz e o escárnio, ensinando que a consciência de si mesmo somente é conseguida quando o homem se imola nos madeiros das paixões, vencendo-as de pé com os braços abertos em atitude de fraternidade amorosa”.

                               


[1] - Jo., 17:15.

[2] - XAVIER, F. Cândido. Caminho, Verdade e Vida. 26. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, capítulos 30 e 39.

[3] - FRANCO, Divaldo. Momentos de iluminação. Salvador: LEAL, 1990, capítulos 5 e 6.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita