Um minuto
com Chico Xavier

por Regina Stella Spagnuolo

   

No fim do ano, cientistas russos se candidataram a estudar o fenômeno mineiro. Fizeram uma proposta a Chico: ele se submeteria a seis meses de testes em Moscou e receberia em troca trezentos contos de réis. O jovem ficou tentado. O dinheiro era suficiente para construir cinquenta casas populares, uma fortuna para quem ainda estava às voltas com a primeira das oito prestações de um novo chapéu.

Emmanuel entrou em cena e quebrou as ilusões do candidato a cobaia:

– Se quiser, pode ir. Eu fico.

Chico precisava ter cuidado. A tal "harpa melodiosa" citada por sua mãe poderia enferrujar se ele cedesse à ambição ou ao orgulho. Para evitar o perigo, começou a castigar o próprio ego com golpes diários e contundentes. A autoflagelação partia de um pressuposto simples: ele não era nada, os benfeitores espirituais eram tudo e um pouco mais. O segredo do sucesso: abrir mão de si mesmo. "Aquele que quiser ser o maior que se faça o servidor de todos", lia no Evangelho. E acatava. Em sua campanha antivaidade, Chico criou, ao longo da vida, alguns slogans para se defender dos elogios. "Sou apenas Cisco Xavier" era um deles. Ele fazia questão de proclamar a própria "absoluta insignificância". Afinal de contas, era um "servidor quase inútil da doutrina espírita", "o mais pequenino de todos", o aprendiz de curandeiro, "um nada", "mais imperfeito que os outros".

A lista de metáforas autodepreciativas cresceria a cada ano. Chico se apresentaria como um graveto que se confunde com o pó, um animal em serviço, uma besta encarregada de transportar documentos dos espíritos, uma tomada entre dois mundos. Nenhuma das frases de efeito afastava os devotos e os bajuladores.

Um dia, diante de uma mulher quase de joelhos a seus pés, ele apelou: “Não me elogie assim. É desconcertante. Não passo de um verme no mundo”. No mesmo instante, ouviu a voz de Emmanuel: “Não insulte o verme. Ele funciona, ativo, na transmutação dos detritos da terra, com extrema fidelidade ao papel de humilde e valioso servidor da natureza. Ainda nos falta muito para sermos fiéis a Deus em nossa missão”.

Daí em diante, Chico preferiu se definir, de vez em quando, como subverme.


Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita