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por Cauci Sá Roriz e Gebaldo José de Sousa

 

"Instruí-vos na preciosa doutrina"


À memória de Cássio Ribeiro Ramos (*)


Na primeira Revelação, Moisés recebeu dez Mandamentos. Na segunda, Jesus resumiu-os em dois Mandamentos. Na terceira, o Espírito de Verdade oferece-nos dois Ensinamentos.
Mandamento é algo imposto, de caráter obrigatório, que se há de cumprir. Dirige-se a criaturas ainda na infância espiritual.
Ensinamentos visam aos que amadureceram intelectualmente, capazes de assimilar os preceitos da Lei Divina e de cumpri-los, por compreendê-los.
O Espírito de Verdade oferece-nos, no lema "Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo"
(1), o roteiro ideal à nossa evolução.
No mesmo capítulo VI, item 6, o Benfeitor Espiritual indica-nos a prioridade da instrução que devemos buscar: "Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana".
Não que o saber em geral seja dispensável. Ao contrário, auxilia-nos a desenvolver a inteligência, que nos faculta compreender, também, verdades espirituais!
Quem é o Espírito da Verdade, que assina a amorosa orientação contida no item 5 do capítulo VI de "O Evangelho segundo o Espiritismo": “Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”?
A identificação desse Espírito torna-se clara quando lemos essa mesma mensagem em "O Livro dos Médiuns", capítulo 31, item IX. Lá o autor da mensagem se identifica como Jesus de Nazaré.
Dessa forma temos que o Espírito da Verdade é a designação pela qual se denominam os Espíritos Superiores, orientados diretamente por Jesus e que têm como incumbência a modificação moral do planeta.
A raça humana priorizou o conhecimento. A Religião, engessada nos dogmas da fé cega, afastou-se da Ciência, que por sua vez encastelou-se em verdades parciais, eis que o tempo e a evolução revogam seus conceitos temporários. Nossa percepção da Verdade é, e ainda será por longo tempo, parcial.
A mensagem de Jesus, que educa o sentimento e religa a criatura ao Criador, tem sido relegada a último plano. Boa parte da humanidade atual ainda vivencia a Lei de Talião: o olho por olho, o dente por dente. Esquecemos o coração, o lado humano e social, privilegiando aspectos econômicos a qualquer preço.
É o triunfo do egoísmo, com resultados desastrosos. Em todas as regiões do planeta o quadro é de dor, penúria e injustiças de toda ordem. É a triste realidade que o noticiário farto divulga a todo instante.
No dizer do nosso Francisco Cândido Xavier(2):
No Sermão da Montanha, "(...) não existe uma só bem-aventurança destinada à exaltação da inteligência (...), o que nós encontramos em todo o Evangelho de Jesus é a exaltação dos sentimentos de bondade, de humildade, de fraternidade, de abnegação, de Amor, de perdão, enfim, Caridade! (...) Hoje a cabeça está grande e o coração pequeno, sendo certo que a Humanidade sempre se perdeu pelo cérebro, nunca se perdeu pelo coração!"
Os homens ainda não perceberam que Amar é a máxima demonstração de inteligência!
Na orientação sob análise, o Espírito da Verdade exorta particularmente os espíritas, primeiramente ao amor, e, em seguida, à instrução. Desenvolver a capacidade de Amar deve ser o lema de nossa existência, nosso principal objetivo.
Há pessoas que exercem mil atividades, no entanto, fazem-no de maneira aborrecida, nervosa, improvisada, como se carregassem fardo pesado.
É o sintoma daqueles que não têm amor pelo que fazem. O que realizam, nenhum mérito lhes traz.
Consultores de grandes empresas, na busca de solução para a depressão, o alcoolismo, o desinteresse no trabalho, chegaram à conclusão de que é a partir do Amor que tudo deve ser desenvolvido, pois esse sentimento confere a sensação de realização, de alegria, de paz.
Assim, caro amigo leitor, qualquer que seja a área em que você atue, quer profissionalmente, quer no campo social, religioso ou outra, procure desenvolver o amor pelo que faz e pelas pessoas envolvidas nesse trabalho. Assim fazendo, será feliz. Em vez de se desincumbir de tarefa maçante, sentir-se-á realizado e plenamente recompensado.
No caso dos espíritas, essa recomendação assume particular importância, eis que oriunda de Jesus (ou de um dos Espíritos da Codificação, em nome d'Ele), para que bem possamos cumprir as atividades com as quais nos comprometemos.
Assim, se você realiza algum trabalho no movimento espírita, por mais simples que seja, verifique a quantas anda sua capacidade de amar sua atividade e aqueles que nela estão envolvidos.
Quanto ao segundo ensinamento, instruí-vos, observemos que nele está implícita a necessidade de nos instruirmos uns aos outros, ou seja, deve ser um ato de reciprocidade.
Sem sombra de dúvida, o Espírito da Verdade está nos dizendo que não há ninguém tão sábio que nada tenha a aprender com o próximo, assim como não há ninguém tão ignorante que nada tenha a ensinar.
Aquele que se julga incapaz de ensinar, deprecia-se, vê-se inferior aos outros, o que é erro grave de personalidade que nada tem a ver com a humildade.
Aquele que julga nada ter a aprender com ninguém, é orgulhoso e acabará por ser vítima de seu próprio comportamento.
A Doutrina Espírita é ampla e toca todos os campos do conhecimento humano, de forma que dificilmente haverá alguém que tenha domínio completo de tudo.
Assim, aquele que seja mais afeito à faceta religiosa do Espiritismo, divulgue aquilo que sabe aos demais e aprenda com aqueles que dão predileção ao aspecto científico ou filosófico da Doutrina.
Instruindo-nos mutuamente, todos cresceremos em conhecimento e a Doutrina permanecerá como fonte pura a aliviar os que sentem sede de consolo e instrução.
A Doutrina Espírita é preciosa justamente por nos conduzir à compreensão das Leis de Deus, que dão a cada um segundo as próprias obras (Mt 16:27). Herdamos de nós mesmos e não de nossos antepassados.
Explica-nos que o sofrimento é fruto de nossas ações; e aquele que compreende a Lei de Ação e Reação elimina do coração a revolta. Diz-nos também que podemos amenizar provas dolorosas, amando o próximo. Faculta-nos assimilar e viver os ensinos de Jesus. Traduz em linguagem moderna suas lições eternas. É ou não é realmente preciosa?
Cabe-nos, aos espíritas, divulgá-la mais e valorizá-la, seja através do estudo, especialmente das obras de Allan Kardec; seja da exemplificação de seus princípios, no cotidiano e no contato com aqueles que sofrem mais do que nós, por ignorá-la.
Não basta que nossos intelectos a compreendam, mas que nos contagie o coração, para que o amor de Jesus flua por nosso intermédio, beneficiando-nos a todos, dissipando "(...) o erro das revoltas (...)" e mostrando-nos "(...) o sublime objetivo da provação humana"!

(*) Este artigo é uma homenagem a Cássio Ribeiro Ramos, na Pátria Espiritual desde 18.07.1996, que nos indicou o texto que nos recomenda instruir-nos "(...) na preciosa doutrina".
 
Bibliografia:
(1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 117 ed. FEB: Rio de Janeiro, 2001. Cap. VI, it. 5, p. 130;
(2) Reformador, mai/95, p. 16.

 


 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita