Artigos

por Jorge Hessen

 

Família de "porta-retratos" ou o clã inconstante da modernidade?


Observam-se nas atuais relações familiais uma deterioração emocional intensa e complicada malha de desestabilidades morais, que nos importa examinar sob a lupa da Doutrina dos Espíritos. Os novos modelos de relacionamentos deram origem a famílias diferentes do padrão tradicional. Nos idos dos anos 80, mais de 70% das famílias eram nucleares. Hoje, menos da metade é assim.

Há uma degradação da instituição familiar. Deste modo, é quase impossível atualmente a formatação de uma árvore genealógica da família moderna, posto que ela está sob os pesados guantes dos destemperos familiares que se espelham nas separações, divórcios, novos casamentos, meios-irmãos, agregados etc.

Está muito difícil a definição para o termo família, considerando as novas formas de relacionamentos afetivos. Isso porque entre o namoro, o noivado e o casamento há inúmeras possibilidades de relacionamento que nem sequer constam no glossário.

A estrutura familiar tem suas matrizes na esfera espiritual. Em seus vínculos, juntam-se todos aqueles que se comprometeram, no “Além”, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva. Carecemos aperfeiçoar, sem desesperança, os contatos diretos e indiretos com os pais, irmãos, tios, primos e demais parentes nas lutas do mundo para que a vida não nos venha recolocar em novas e mais enérgicas provas em encarnações próximas. A execução do dever, criado por nós mesmos, é lei da consciência a que não poderemos escapar.

A velocidade dessas mudanças comportamentais tem estremecido as estruturas fundamentais da família tradicional. Todavia, a família nuclear ainda é considerada por muitos como a ideal. Inobstante sabermos que a família clássica pode criar malfeitores, e um casal no segundo casamento pode se sair muito bem na educação dos filhos.

O casamento (união permanente de dois seres) não é contrário à Lei da Natureza, muito pelo contrário, “é avanço no caminhar da Humanidade”.

Ora, o casamento implica em um regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua. Tal união, segundo os Benfeitores espirituais, reflete as Leis Divinas que admitem seja oferecido um marido para uma consorte, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração e vice-versa, na criação e adiantamento de valores para a vida.  

A família é a base da construção social e a negligência dos laços familiares seria um convite ao agravamento do egoísmo.

A família, para algumas religiões e sociedades, é algo indissolúvel. Tempos atrás, a manutenção dessas famílias era somente para manter aparências de respeito e felicidade. Atualmente, observam-se famílias se desfazendo por trivialidades.

O que é o ideal? A família de "porta-retratos" ou a família que se dissolve na primeira "tempestade moral"?

Cremos que o Centro Espírita pode dimensionar os serviços de suporte à família atual, contudo, não de forma isolada. Deve integrar suas ações com outras instituições, tanto de caráter religioso como social, na busca da melhor qualidade do atendimento individual e coletivo, naturalmente, sem perder sua identidade doutrinária, mas objetivando o resgate da ordem moral, que deve alicerçar a família como espaço de convivência.

No clã familiar de tempos mais antigos, sem dúvida, encontrava-se um espaço de convivência maior entre seus membros, embora não se esteja discutindo sua "qualidade". Na atual arrumação familiar, pelo contrário, e apesar das menores dificuldades materiais, encontra-se um espaço menor de convivência.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita