Entrevista

por Orson Peter Carrara

É preciso abraçar a causa espírita e procurar fazer sempre o melhor

Espírita desde 1957, doutor em Física pela USP e pesquisador aposentado da Embrapa, Clovis Isberto Biscegli (foto) nasceu e reside em São Carlos (SP). Vinculado à instituição Obreiros do Bem, na mesma cidade, é dirigente de reunião mediúnica desde 1992. Nesta entrevista ele nos fala sobre o imediatismo do cotidiano atual e diz que é preciso abraçar a causa espírita, procurando fazer o melhor que for possível em prol de irmãos necessitados.

A  que se deve tanto imediatismo como o constatado nos dias atuais?

Não há um único fator determinante ou preponderante que cause o imediatismo. Um conjunto de influências principalmente das mídias digitais e das redes sociais induz as pessoas em geral a buscarem respostas ou soluções imediatas para seus problemas diários. 

Que dizer da incredulidade reinante?

Pode-se atribuir isso ao afastamento das pessoas da religião ou a falta de disposição ou tendência para refletir sobre os aspectos da atividade religiosa, seja qual for a religião. Parece que isso não é importante para a vida ou atividades costumeiras. 

Por que tanta dificuldade na aceitação da imortalidade da alma?

As atividades que podem levar o ser humano a pensar na imortalidade em geral são realizadas no Centro Espírita, ou seja, com raras exceções há divulgação em outros meios de comunicação (filmes, novelas, entre outros). A Doutrina Espírita, o Espiritismo, não tem ampla divulgação onde as pessoas poderiam obter respostas sobre a vida futura, ou a vida na dimensão espiritual ao deixarem o plano físico na Terra. 

O mesmo raciocínio pode ser aplicado quanto à comunicabilidade dos espíritos? Há como se alterar esse comportamento social?

Sim, a aceitação de que é possível conversar com espíritos encontra a mesma dificuldade. Somente nas reuniões mediúnicas sérias é que ocorrem os diálogos com desencarnados. Há uma mudança significativa em curso, mas parece que isso deve ser uma conquista individual do ser encarnado na busca de respostas sobre o que ocorre após a morte do corpo. Não se trata de um movimento de massa. 

Percebe-se ainda um falso entendimento do que seja reencarnação. Seria por falta nossa, os espíritas, de mais esclarecer o assunto?

Certamente sempre nos deparamos com pessoas querendo saber se de fato existe a reencarnação. Ainda que prevista por Jesus e nos evangelhos e por todo o trabalho de Allan Kardec, não é fácil dizer para as pessoas e convencê-las de que a vida continua após a morte do corpo físico e que reencarnarão oportunamente para uma nova jornada. Esse talvez seja um dos grandes desafios dos Centros Espíritas e um dos objetivos importantes a serem atingidos. 

Notam-se no cotidiano templos repletos nas várias denominações religiosas, inclusive espíritas. Mesmo assim a violência e a fé vacilante, ou inexistente, são marcas da sociedade moderna. Como administrar isso globalmente?

Certamente é um grande desafio e não temos uma metodologia simples e direta para fazer isso de forma global. Tudo indica que esse é o preço que a sociedade moderna e materialista tem que pagar para conseguir uma evolução digna baseada no amor, perdão, caridade e fraternidade. A literatura atual mostra que há uma transição em curso e que ainda veremos situações extremamente desagradáveis para a sociedade alheia aos problemas coletivos. 

A fonte inesgotável do pensamento espírita, disponível para todos, ainda encontra resistência e é desconhecida pelos próprios espíritas. Isso se deve a um comodismo intelectual? Ou seria uma indiferença moral?

Eu acho que podem ser as duas coisas. Por que se preocupar com o que vai acontecer se parece que está tudo bem? A tão propalada reforma íntima ou mudança moral exige esforço continuado em busca de paz espiritual e confiança em Jesus. Em situações extremas de dor, doenças ou perda de entes queridos levam as pessoas a refletirem sobre o verdadeiro significado da vida. Muitas vezes nessa hora o Espiritismo parece ser o bálsamo para todos os males. 

Por outro lado, o conforto moral oferecido pelo Espiritismo tem atraído muita gente. E como estão as instituições no compromisso de difundir essas ideias que confortam e esclarecem?

Estão as instituições espíritas, em sua maioria, realizando um enorme esforço para transmitir as verdades enunciadas e exemplificadas pelo Mestre Jesus no sentido de que “fora da caridade não há salvação”. Reuniões, palestras, divulgação, encontros e vasta literatura estão sempre à disposição para os que buscam paz e esclarecimento. 

De suas reflexões sobre tudo isso, o que lhe sobressai?

De forma muito simples, a falta de interesse na vida futura, o que nos espera afinal! É uma realidade que exige profunda reflexão e esforço mental. Usando uma expressão que está na moda agora: temos que sair da zona de conforto. 

Algo marcante que gostaria de deixar em destaque?

É importante continuar esse esforço amoroso e fraterno para confortar as pessoas que vivem o dia a dia desesperados em busca da felicidade e de uma vida melhor. 

Suas palavras finais.

Abraçar a causa espírita e ajudar sempre a casa espírita procurando fazer o melhor que for possível em prol de irmãos necessitados – este é o nosso convite e a nossa mensagem final.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita