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por Marcos Paulo de Oliveira Santos

 

Ressignificando a solidão


A ascensão espiritual se dá de modo solitário. Cada ser tem o seu próprio ritmo; sua própria passada; e aprende a realidade de forma muito específica. De modo que, se hoje estamos com determinadas pessoas, amanhã, a depender do nosso ritmo (e delas) de ascensão, não poderemos estar.

Ascender espiritualmente significa viver em solidão. Mas não desassistido. Implica em estar no convívio social, mas com a mente voltada para o Alto. A solidão, portanto, não tem um sentido negativo. Mas um sentido de comunhão com o Divino.

Há que se considerar que não significa que os laços afetivos se rompam. Apenas que os interesses se modificam e as faixas vibratórias se alteram. Logo, a solidão é a comunhão intrínseca com o próprio Criador, porque Ele está em tudo. E nos fala na acústica d´alma.   

À medida que se ascende, ficam para trás coisas e pessoas. As primeiras em decorrência do natural desprendimento dos bens materiais, que passam a ser insignificantes diante da realidade espiritual.

Já as pessoas, porque elas não conseguem compreender ainda o Divino na solidão (e por terem seus próprios ritmos de marcha evolutiva), muitas ainda estão presas às situações que as infelicitam ou lhes dão prazeres momentâneos.

A habitualidade no bem separa, naturalmente, as pessoas que se comprazem com essas práticas daquelas que não se sentem atraídas.

E, infelizmente, muitos não se sentem bem em fazer o bem.

Reconhecem a importância, acham interessante, até desejam auxiliar, mas não se sentem realmente felizes porque avocam para si outros eventos que julgam mais relevantes (e prazerosos).

Logo, aqueles que buscam o caminho da “porta estreita” experimentam a solidão, mas não são desassistidos. A presença do Criador no íntimo do coração dá-lhes uma paz que não conseguimos compreender.

Assim, auxiliar uma creche, um orfanato, um asilo; dedicar-se a alguém ou a uma causa; fazer gestos de caridade; aparar as próprias arestas; realizar uma cirurgia moral profunda, entre outros aspectos, tornam o caminhar de cardos e espinhos e solidão.

A solidão não implica em se alijar do convívio social. Mas estar no mundo sem se deixar levar por ilusões. É ter os pés no chão. Mas o pensamento a vibrar em faixas mais evoluídas. É compreender as dificuldades dos outros e respeitar-lhes o ritmo. É não violentar consciências. É, em síntese, aparar as próprias inclinações negativas e ir se despojando de coisas e pessoas (é não ter dependência emocional) rumo ao Sempiterno.

Pode parecer egoísmo numa leitura desatenta, mas só podemos auxiliar de fato o outro se estivermos bem espiritualmente, equilibrados, saudáveis.

A solidão é parar alguns minutos do dia frenético que vivemos para sentir/conversar com as Forças Superiores. É não viver às apalpadelas no mundo. Mas ter os olhos abertos para a realidade espiritual.

Pouquíssimos têm os olhos para ver, os ouvidos para ouvir, o coração para sentir a realidade espiritual. Pouquíssimos são os que vivem na solidão, porque pouquíssimos compreendem a importância do mergulho na matéria (reencarnação) e a realidade do Espírito imortal.

A solidão, portanto, não é estar longe das pessoas. Porque mesmo nestes casos as companhias mentais podem ser variadas. A solidão é estar no meio de várias pessoas a enfrentar os desafios do cotidiano, mas ter o pensamento, o coração e a alma inclinados para o Criador, para faixas superiores. Este é um exercício difícil e demorado.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita