Artigos

por Inês Rivera Sernaglia

 

Mudar para não sofrer mais


A sabedoria divina nos tem designado tarefas abençoadas de elevação espiritual, e quando a vida nos põe à prova, trazendo à tona mágoas e ressentimentos, perguntamos: Por que sofremos tanto? Porque nos distanciamos da nossa essência que é o amor. O oposto do amor, como muitos imaginam, não é o ódio, mas o egoísmo, pois o egoísta traz o amor atrofiado em si mesmo.

O reino de Deus está dentro de nós, isto é uma verdade, e, no entanto, vivemos olhando para fora, esquecendo-nos de que a base de tudo é a nossa condição emocional interior. Olhar para dentro é conhecer a si mesmo e, se nos conhecêssemos realmente, não nos entregaríamos com tanta facilidade às emoções negativas ante os problemas que enfrentamos no cotidiano. Quem se autoconhece consegue administrar as próprias emoções em vez de ser escravo delas. É preciso nos libertarmos da síndrome do passado, da exaustão energética proveniente dos conflitos internos.

Jesus nunca realçou as imperfeições morais, as doenças ou defeitos físicos, mas sempre apontou as potencialidades divinas presentes na personalidade humana. Ele aproveitava cada oportunidade para treinar seguidores na arte de crescer ante as dificuldades existenciais. Sempre conduziu as pessoas a reverem suas histórias por meio da fé realizadora, e a não serem vítimas das dificuldades que vivenciavam. Sempre se preocupava em desenvolver as potências e virtudes humanas, as sementes divinas herdadas do Pai Criador.

Para a realização desse trabalho que não é fácil, necessário se faz que observemos alguns elementos que podem nos ajudar imensamente nessa tarefa. Por exemplo:

Mudar o foco. Por que mudar, para que mudar? Faz-se importante não buscarmos mais as desculpas para fugir à tarefa de transformação, mas, sim, o significado da experiência para promover em nós o progresso emocional e espiritual.

A resiliência ou a arte da flexibilidade também nos capacita a passar por experiências adversas sem prejuízos para o desenvolvimento emocional e cognitivo. Através desse recurso, a alma consegue renascer mais amadurecida, mais forte e pronta para enfrentar os novos desafios. Força, neste caso, não significa rigidez, e, sim, flexibilidade, que prepara o Espírito para as mudanças que virão.

A alteridade – aprendendo com o diferente – representa o respeito profundo que devemos nutrir por todos os seres humanos. Qualidade espiritual básica para a construção da fraternidade, superando divergências e crescendo com elas. É um dos mais importantes mecanismos para a evolução ética e moral, levando o indivíduo a interagir pacificamente com todos os que o cercam. O indivíduo que age com alteridade é mais fraterno e amável, incapaz de julgar ou criticar. Respeita o outro como ele é. Santo Agostinho aconselhava a buscar a diversidade nas diferenças, a unidade nas semelhanças e a caridade em todos os momentos.

Virtudes pessoais nobres, como agentes preventivos, é o elemento que nos levará a identificar a luz para que os nossos olhos vejam e superem melhor as pedras e os espinhos do caminho.

De todos esses recursos que podem ser usados no processo de despertamento da consciência, o “aprender a desaprender” talvez seja o mais difícil e o que levará mais tempo. Todavia, não é impossível de se conseguir. Se existe a vontade firme da mudança, até o tempo será um parceiro fiel. Será como voltar às raízes.

A primeira lição será a de abandonar a pressa. A vida apressada não permite sentir o presente. Depois, o silêncio. Mas, não se trata simplesmente do silêncio sem palavras e sons, mas do silêncio do Espírito. É um estado de êxtase da alma, que nos permite conversar com os próprios sentimentos.

Quanta coisa para desaprender! É preciso libertar-se das desculpas e medos, pois ser feliz é conjugar liberdade com responsabilidade. Precisamos avaliar os próprios pensamentos e as emoções que externamos ou não, porque eles têm suas origens no sentimento egoico.

É imperioso estar sempre avaliando o que pensamos a fim de alcançarmos harmonia e equilíbrio, se não, correremos o risco de nos tornarmos escravos de ideias negativas.  Temos problemas, mas não somos os problemas. O despertar é um processo de autoconsciência e autodomínio. Quando despertos, sofremos decepções e dificuldades como os outros, porém, vivenciamos as experiências com nossos recursos internos, tal como a fé, os ideais, a esperança e o autoconhecimento. Quem tem esperança (arte de esperar) deseja mudança para melhor e não fica estagnado e imóvel ante o sofrimento; movimenta-se com toda a vontade de transformar seu contexto a partir da própria transformação.

A presença de um ideal superior alimenta em nós esse sentimento e dá-nos vigor para ultrapassar os desafios. Temos na simplicidade o último degrau da sabedoria e, no despertar, o viver no mundo sem aderir aos processos negativos deste, lutando pela nossa transformação e melhoria.

Diante do vazio que às vezes nos invade a alma, dando oportunidade ao desenvolvimento de melancolias ou depressões, convidemos o Mestre para visitar a nossa casa íntima, a fim de nos ensinar a ação perseverante no bem, pelo bem e para o bem, de forma que não haja em nossa agenda o espaço para a hora vazia, esse veículo de tédio e desequilíbrio.


Bibliografia
:

FERREIRA, Rossandro S. – Fé e Razão – 1ª edição – Editora Cristo - Consolador Santa Luzia/MG/ - 2009.

XAVIER, F. C. e VIEIRA, Waldo – O Espírito da Verdade - (diversos Espíritos) – 10ª edição – Editora FEB – BRASÍLIA/DF – lição 38.

KARDEC, Allan - O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 11.

KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos, questão 75.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita