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por José Lucas

 

Perdoar é preciso…


O perdão é uma das atitudes mais sublimes do Homem, numa demonstração da sua capacidade de se superar espiritualmente, a caminho de novos patamares evolutivos. Outrora considerada uma atitude dos santos, hoje vemos que está ao alcance de qualquer um que o queira fazer. Perdoar, é preciso…

Perdoar é preciso, faz falta à Humanidade como de pão para a boca. 
Perdoar é, igualmente, preciso (de precisão), pois alcança fatalmente o perdoado, com um impacto fatal.

O poder do perdão é tão grande que Jesus de Nazaré, há dois mil anos, apontava esta prática como o caminho para a espiritualização do Homem, ao recomendar perdoar os inimigos, perdoar 70 x 7, isto é, sempre.

Perdoar não é esquecer (tudo o que nos acontece fica gravado no nosso psiquismo); perdoar não é amar de igual modo o criminoso ou alguém que nos ame muito. Obviamente, temos sentimentos diferentes relativamente aos demais, variando com a maior ou menor afinidade que tenhamos com essas pessoas.

Mesmo lembrando o mal que nos possam ter feito, mesmo que gostemos mais ou menos desta ou daquela pessoa, conforme as afinidades, o ensinamento que Jesus (o grande psicoterapeuta da Humanidade, no dizer do Espírito Joanna de Ângelis) deixou é que é sempre possível perdoar.

Isso significa entender o outro, entender por que agiu de determinada maneira; significa compreender que é um Ser em evolução, mesmo errando, mesmo prejudicando; significa ter uma visão holística da Humanidade, a espraiar-se pelos séculos sem fim, ao longo das reencarnações, saber e sentir que, amanhã, esse Ser hoje condenável socialmente, será melhor, atingindo o vértice da evolução espiritual, um dia, dentro da lógica das vidas sucessivas e progressivas (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec).

Perdoar não significa ser condescendente com o erro, não significa omitir-se, desculpar o crime, mas, sim, independentemente da aplicação coerciva das leis humanas, entender, não odiar, não desejar mal, sentir apesar de tudo o espírito de irmandade universal que a todos nos liga, nos múltiplos patamares evolutivos de cada um.

Quando se atinge esse estado, o Homem pacifica-se por dentro, serena, age em conformidade com a sua tranquilidade interior, independentemente do que aconteça exteriormente.


O poder do perdão

é incomensurável.

Toca o coração

do bom e do miserável.

(Poeta alegre, in Histórias que os

Espíritos Contaram, Vol. I, Ed. FEP.)


1 - Há cerca de 35 anos, um amigo que se tornou verdadeiro guia espiritual na Terra contou-me um caso de um criminoso americano, condenado à prisão perpétua. Esse homem foi-se encantando com um passarinho que pousava na grade da janela da sua cela. Interessou-se por ornitologia, foi estudando e tornou-se um especialista mundial, contribuindo com o seu saber para a Humanidade. Se não fosse o perdão dos seres humanos (que não o levaram à cadeira eléctrica) ter-se-ia perdido esse conhecimento, essa oportunidade de evolução do próprio e de todos, em geral.

2 - Danielle Metz, nos EUA, foi presa em 1993 e passou 23 anos na cadeia por tráfico de droga. Originalmente foi condenada a três penas perpétuas e a mais 20 anos.

Na prisão começou a estudar e, em 2016, 23 anos depois de ser detida, o ex-Presidente Barack Obama concedeu-lhe um indulto. Voltou a Nova Orleans e conseguiu emprego para empacotar caixas de comida para os mais pobres, junto de uma organização de solidariedade social. Aos 50 anos inscreveu-se na universidade da sua cidade e este ano finalizou a licenciatura em Assistência Social com uma das médias mais altas. (in jornal Expresso, Portugal, 12 Julho 2019.)

3 - Eva Mozes Kor chegou ao campo de concentração Nazi, em Maio de 1944. Perdeu os pais e as duas irmãs mais velhas numa câmara de gás em Auschwitz e serviu, tal como a irmã gémea Miriam, de cobaia às mãos de Josef Mengele, o “anjo” da morte. Refez a vida em Israel e nos Estados Unidos e ensinou o valor do perdão.

Eva Mozes Kor, uma das sobreviventes do Holocausto, depois de testemunhar contra o “contabilista” do campo de concentração de Auschwitz, perdoou o seu carrasco. Morreu em 2019, aos 85 anos, deixando uma mensagem notável ao mundo:

Perdoem os vossos piores inimigos”. (cf. jornal Expresso, Portugal, 6 Julho 2019.)

Depois dos exemplos de Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela e tantos outros missionários do Amor na Terra, a mensagem do maior exemplo do perdão, Jesus de Nazaré, mantém-se atual, exequível, imprescindível para a evolução intelectual e moral da Humanidade.

Dois mil anos depois, continuamos distraídos, a investir na estratégia oposta (ódio, inveja, egoísmo), no entanto, os casos aqui referidos demonstram que é possível perdoar, é possível amar na diferença.

A paz é o caminho, perdoar é… preciso!




 

     
     

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