Entrevista

por Orson Peter Carrara

A vida pós-desencarne é muito mais pulsante que a vida física

A frase acima é de autoria do nosso confrade Fernando de Souza Santos (foto), de Itararé (SP). De família espírita e graduado em Marketing, ele participa das atividades realizadas pela União Espírita Allan Kardec e pela União Espírita Casa do Caminho, de sua cidade, onde atua também como palestrante e dirigente de reunião mediúnica. Atual presidente da USE Itararé, ele é também vice-presidente da USE Regional Sorocaba.

Entrevistamo-lo sobre seu recente livro, intitulado Noites Inesquecíveis, que relata diálogos ocorridos nos atendimentos feitos a Espíritos em sessões mediúnicas.

Como e quando se tornou espírita? E o que diz dessa vivência?

Sou espírita de berço. A Casa que frequento foi inaugurada em 1956 e meus avós maternos fizeram parte dessa fundação. Cresci na União Espírita Allan Kardec. No tocante à vivência em relação à Casa e à Doutrina Espírita, não consigo me imaginar sem ambas. Elas são partes indissociáveis da minha história até aqui. 

O que mais lhe chama a atenção no Espiritismo?

A racionalidade e, por conta dela, seu poder consolador. Particularmente, e diferentemente de muitos familiares meus, eu não tenho mediunidade ostensiva. Então, se para crer na Doutrina Espírita fosse necessário "sentir o mundo espiritual", eu não a admitiria. Mas, como sabemos, seu apelo é à razão, e em mim esses apelos sempre surtiram grande efeito. Creio "sem ver", porque encontro nela a Ordem Divina, o amor do Pai.

Como se iniciou a experiência no atendimento aos Espíritos?

Minha primeira vez em um trabalho mediúnico ocorreu em 1998, assim que cheguei à maioridade. Fui levado por meu avô. Começava ali meu contato mais direto com a espiritualidade. Mas como nunca tive nenhuma sensação mediúnica, por anos fiquei na condição de "médium de sustentação" – aquele que permanece em prece, colaborando com o ambiente. Até que em fevereiro de 2007 fui convidado a assumir o diálogo com os desencarnados. Aceitei e estou até hoje. Em duas casas, como citei acima.

Qual o traço mais marcante nas comunicações?

Deixe-me ver... Poderia citar alguns. Por exemplo, quando o comunicante é um Espírito ainda voltado ao mal, o que mais me chama a atenção é sua amargura. Percebe-se que por mais temido ele possa ser, é infeliz, amargo. Já quando o Espírito comunicante desencarnou há pouco tempo, é interessante perceber que suas sensações ainda estão muito "materializadas" – sede, frio, dores que o acompanharam nos instantes finais. Já quando o Espírito era apegado demais à matéria, sempre me chamou a atenção o fato dele afirmar não ter condições de se readaptar à Espiritualidade, já que todas as suas referências de existência resumiam-se às coisas da carne. Enfim, são muitos os traços marcantes... Cada comunicação é o relato de um universo íntimo e único e, por isso, sempre pode nos deixar alguma lição.

De suas lembranças, o que mais lhe marcou?

Nossa! São tantas as comunicações que me marcaram! Mas ouvir meus avós, já como desencarnados, foi muito emocionante! Foram duas experiências inesquecíveis - cada uma deles veio em uma época -, e só não entraram no livro porque foram comunicações rápidas, apenas para uma saudação, mas, para mim, que devo tanto a eles, foi uma noite memorável! Outra que mexeu muito comigo foi ouvir de um Espírito como foi que eu o prejudiquei na encarnação passada. Foi impactante. Essa está no livro. 

De sua experiência nesses anos, o que gostaria de relatar?

Que a vida pós-desencarne é muito mais pulsante que a vida física, sendo sempre o resultado direto e infalível do modo como conduzimos nossa encarnação. Mas, ainda assim, observamos nunca faltar a misericórdia divina, a qual busca sempre auxiliar a todos.

E o livro?

Ah, falar do livro é um prazer enorme! Mas antes vou falar um pouquinho de minha vida como leitor. Amo livros! Leio-os desde a infância, nos tempos de escola! Nunca parei nem vou parar! E, ainda na infância, tive o impulso de escrever. Aos dez anos escrevi um livro – encapei um caderno e escrevi a lápis. E por isso só existiu essa cópia!  Na adolescência, um livro de contos – não era espírita, e nunca foi editado. Já adulto, um romance espírita. Chegou a ser aceito por uma editora, mas eu teria que desembolsar um bom dinheiro para colaborar com a edição e isso não me foi possível. Então abandonei totalmente a ideia de ser escritor. Até que em uma noite de trabalho mediúnico o Espírito de uma bailarina me disse: "Vou lhe contar minha história, e lhe autorizo a colocá-la no livro que você vai escrever. Porque você vai escrever". Entendi aquilo como um aviso dos Benfeitores para que eu retomasse a escrita, pois o tempo havia chegado. E o caso da bailarina abriu o Noites Inesquecíveis. Ele foi escrito em 2016, entregue ao meu grande amigo Jamiro Santos Filho, que, ao gostar, encaminhou-o ao Orson Peter Carrara, que o conduziu à editora. E hoje ele está aí! "Materializado!" Depois dele já escrevi outros três. E os três estão sendo analisados por editoras. Um deles seria a continuação de Noites Inesquecíveis – mais casos reais e emocionantes, recolhidos nos trabalhos mediúnicos. Seja o Deus quiser!

E o que diria a si mesmo que pode ser útil ao leitor?

Que estude muito! Que leia, frequente grupos de estudos, que assista a palestras... Enfim, que se capacite, para, com isso, ter material mental para sua renovação íntima, para ter combustível à pratica da caridade! Para que seu esforço na própria melhora seja bem dirigido! Afinal, "a verdade nos libertará"! Busquemo-la! 

Suas palavras finais.

Estou muito feliz, pois o Noites Inesquecíveis está sendo bem aceito. Tive muito receio em escrevê-lo, pois falar da Doutrina Espírita em um livro é algo que exige muita seriedade, muito cuidado, zelo... De forma alguma desejaria fugir das nossas bases doutrinárias. Esforcei-me nisso. E também quero agradecer... São tantas pessoas! Tanto encarnadas quanto desencarnadas, que sequer me arriscaria a nomeá-las, pois fatalmente acabaria deixando algumas de fora. Então, a todos os que colaboraram de alguma forma com o Noites Inesquecíveis, meus mais sinceros agradecimentos! Que o Mestre os abençoe sempre! E até uma próxima!

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita