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por Rogério Coelho

 
Codificação ou consolador prometido


A força do Espiritismo está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão


“(...) Eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador...” 
- Jesus. (Jo., 14:16.)


A origem do Espiritismo se perde na noite dos tempos... Muito antes do aparecimento oficial da Doutrina dos Espíritos (18.04.1857), os fatos transcendentais já existiam esparsos por toda parte. Faltava apenas juntá-los, coordená-los...  E a Codificação nada mais é do que a ordenação desses fatos em corpo de doutrina, o que foi realizado de modo magistral por Allan Kardec que orquestrou, junto com os Maiores da Espiritualidade, a sinfonia dos Páramos Celestes nas sombras da Terra, inaugurando, assim, a Era Nova e realizando a profecia de Jesus acerca do “Consolador”.

Nosso tempo marcou a época de comprovação de fatos regidos por leis até então desconhecidas, abrindo a possibilidade de intercâmbio ostensivo entre os dois mundos: o Espiritual e o Corporal.

Segundo palavras do próprio Codificador[1]“(...) esse conhecimento não é novo, sem dúvida, mas ficara até aos nossos dias, de certo modo, como letra morta, isto é, sem proveito para a humanidade. A ignorância das leis que regem essas relações o abafara sob a superstição; o homem era incapaz de tirar daí qualquer dedução salutar; estava reservado à nossa época desembaraçá-lo dos acessórios ridículos, compreender-lhe o alcance e fazer surgir a luz destinada a clarear o caminho do futuro.

O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.

O que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo, porém, a sua elaboração, fruto do trabalho do homem”.

Didaticamente, Allan Kardec divide em duas partes a história do Espiritismo[2]:

1 – Espiritismo Retrospectivo;

2 – Espiritismo Moderno.

O Espiritismo Retrospectivocompreende o período cujo início coincide com o do advento dos primeiros homens na Terra até o ano de 1850 de nossa era, data na qual começaram as observações e os estudos sobre as espécies de fenômenos, incluindo-se aí os pensamentos, as doutrinas, as crenças e todos os fatos espíritas.

Espiritismo Moderno iniciou-se a partir desse ano de 1850, isto é, sete anos antes que tais observações fossem coordenadas em corpo de doutrina metódica e filosófica.  Essa divisão nos parece útil à história do Espiritismo.

Conclui com o seu bom senso de sempre o Mestre Lionês[3]: “falsíssima ideia formaria do Espiritismo quem julgasse que a sua força lhe vem da prática das manifestações materiais e que, portanto, obstando-se a tais manifestações, se lhe terá minado a base.  Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom senso. Na Antiguidade, era objeto de estudos misteriosos, que cuidadosamente se ocultavam do vulgo. Hoje, para ninguém tem segredos. Fala uma linguagem clara, sem ambiguidades. Nada há nele de místico, nada de alegorias suscetíveis de falsas interpretações. Quer ser por todos compreendido, porque chegados são os tempos de fazer-se que os homens conheçam a verdade. Longe de se opor à difusão da luz, deseja-a para todo o mundo; não reclama crença cega, pois quer que o homem saiba por que crê. Apoiando-se na razão, será sempre mais forte do que os que se apoiam no nada.

(...) O Espiritismo não é obra de um homem. Ninguém pode inculcar-se como seu criador, pois tão antigo é ele quanto a Criação. Encontramo-lo por toda parte, em todas as religiões.

Que faz a moderna ciência Espírita? Simplesmente reúne em corpo de doutrina o que estava esparso; explica, com os termos próprios e adequados o que só era dito em linguagem alegórica; poda o que a superstição e a ignorância engendraram, para só deixar o que é real e positivo. Esse o seu papel. O de fundadora não lhe pertence. Mostra o que existe, coordena, porém, não cria, por isso que suas bases são de todos os tempos e de todos os lugares. Quem, pois, ousaria considerar-se bastante forte para abafá-la com sarcasmos, ou, ainda, com perseguições? Se a proscreverem de um lado, renascerá noutras partes, no próprio terreno donde a tenham banido, porque ela está em a Natureza e ao homem não é dado aniquilar uma força da Natureza e tampouco opor veto aos decretos de Deus.

Que interesse, ao demais, haveria em obstar-se a propagação das ideias Espíritas? É exato que elas se erguem contra os abusos que nascem do orgulho e do egoísmo; mas, se é certo que desses abusos há quem aproveite, à coletividade humana eles prejudicam. A coletividade, portanto, será favorável a tais ideias, contando-se-lhes por adversários sérios apenas os interessados em manter aqueles abusos. As ideias espíritas, ao contrário, são um penhor de ordem de tranquilidade, porque, pela sua influência, os homens se tornam melhores uns para com os outros, menos ávidos das coisas materiais e mais resignados aos decretos da Providência.

Os que compreendem o Espiritismo se beneficiam entre outras coisas, de três efeitos imediatos:

1º. – desenvolvimento do sentimento religioso;

2º. – resignação nas vicissitudes da vida;

3º. – estímulo da indulgência para com os defeitos alheios”.

Assim compreendendo, aduz Santo Agostinho: “por bem largo tempo, os homens se têm estraçalhado e anatematizado mutuamente em nome de um Deus de paz e misericórdia, ofendendo-o com semelhante sacrilégio. O Espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade, onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios”.


 

[1] - KARDEC, Allan. A Gênese. 43. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. I, itens 11 a 13.

[2] - KARDEC, Allan. Revue Spirite. Agosto de 1868. Araras: IDE, 2000.

[3] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2002, conclusão, itens VI, VII de IX.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita