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por Vladimir Polízio

 
Nos limites do céu           


Entre os religiosos existe um conceito generalizado de que sendo bom, frequentando regularmente o templo de sua crença e contribuindo com o "sagrado dízimo", a reserva do esplendor do Céu já estará garantida.

Mas o Evangelho de Jesus não nos oferece certeza alguma nesse sentido, pois a abrangência do termo "limpo de espírito" vai muito além do que imaginamos.

O médium Chico Xavier, através de Humberto de Campos, recebeu a mensagem psicografada 'Nos limites do Céu', que dá uma visão interessante dessa expectativa que se tem. 'Nos limites do Céu':

"No extremo limite da Terra com o Céu, aportou um peregrino envolto em nevado manto.

Irradiava pureza e brandura.  A fronte denunciava-lhe a nobreza pelos raios diamantinos que emitia em todas as direções. Extenso halo de luz assinalava-lhe a presença.

Recebido pela entidade angélica, que presidia à importante passagem, apresentou sua aspiração máxima: ingressar definitivamente no paraíso, gozar-lhe o descanso beatífico.

O divino funcionário, embora admirado e reverente perante Espírito tão puro, esboçou o gesto de quem notava alguma falha menos visível ao olhar inexperiente e considerou:

– Meu irmão, rendo homenagem à alvura de tuas vestes, entretanto, vejamos se já adquiriste a virtude perfeita.

Sorridente, feliz, o viajor vitorioso colocou-se à escuta.

– Conseguiste entesourar o amor sublime? – perguntou o anjo, respeitoso.

– Graças a Deus! – informou o interpelado.

– Edificaste a humildade?

– Sim.

– Guardaste a esperança fiel?

– Todos os dias.

– Seguiste o bem?

– Invariavelmente.

– Cultivaste a pureza?

– Com zelo extremado.

– Exemplificaste o trabalho construtivo?

– Diariamente.

– Sustentaste a fé?

– Confiei no Divino Poder, acima de tudo.

– Ensinaste a verdade e testemunhaste-a?

– Com todas as minhas forças.

– Conservaste a paciência?

– Sem perdê-la jamais.

– Combateste os vícios em ti mesmo, tais como a vaidade e o orgulho, o egoísmo e o ciúme, a teimosia e a discórdia?

– Esmeradamente.

– Guerreaste os males que assolam a vida, como sejam o ódio e a perversidade, a insensatez e a ignorância, a brutalidade e a estupidez?

– Sempre.

O anjo interrompeu-se, refletiu longos minutos, como se estivesse em face de grave enigma, e indagou:

– Meu amigo, já trabalhaste no inferno?

– Ah! isto não! – respondeu o peregrino, escandalizado. – Como haveria de ser?

O fiscal da celeste alfândega sorriu, a seu turno, e observou:

– Falta-te semelhante realização para subir mais alto.

– Oh! que contrassenso! – aventurou o interessado. – Como servir entre gênios satânicos, de olhos conturbados pela permanente malícia, de ouvidos atormentados pela gritaria, de mãos atadas pelos impedimentos do mal soberano, de pés cambaleantes sobre o terreno inseguro, com todas as potências da alma perturbadas pelas tentações?

– Sim, meu amigo – acentuou o preposto divino –, o bem é para salvar o mal, o amor foi criado para que amemos, a sabedoria se destina em primeiro lugar, ao ignorante. A maior missão da virtude é eliminar o vício e amparar o viciado.

E, perante o assombro do ouvinte, rematou:

– Torna à Terra, desce ao inferno que o homem criou e serve ao Senhor Supremo, voltando depois... Então, cogitaremos da travessia. Lembra-te de que o Sol, situado cerca de cento e cinquenta milhões de quilômetros além do teu mundo, larga raios luminosos e salvadores ao mais profundo abismo planetário...

Em seguida, o controlador da Porta Celestial cerrou a passagem ligeiramente entreaberta e o peregrino, de capa lirial, espantadiço e desapontado, sentou-se um pouco, a fim de meditar sobre as conquistas que havia feito."

Esta é apenas uma mensagem simbólica retratando uma realidade que ocorre a cada segundo com os irmãos dispersos neste campo de provações que se chama Terra, no instante da travessia a que todos seremos chamados, um dia.

Convém observar com atenção o nosso comportamento, de maneira a evitar surpresas desagradáveis aos nossos sentimentos, quando entregarmos o passaporte na travessia compulsória da Aduana da Vida.  


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita