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por Vladimir Alexei

 
A fraternidade e o espírita


Vivemos tempos que têm exigido de todos desdobrada vigilância e profundas reflexões para se conseguir auscultar o coração e perceber a quantas anda a sintonia entre o que se aprende com a Doutrina Espírita e aquilo que é praticado pelo Movimento Espírita, especificamente no Brasil.

Houve uma época em que se acreditava no espírita como um ser privilegiado em função de se ter um tesouro nas mãos (a Doutrina dos Espíritos), como já dizia o insigne Miguel Vives y Vives. O tempo passou e a frase do Léon Denis, na introdução de “No Invisível”, ribomba intermitente: “o Espiritismo será o que o fizerem os homens”.

O que os homens têm feito do Espiritismo? Recentemente uma confreira, trabalhadora assídua há mais de 20 anos (vinte anos!), em uma Casa Espírita, perdeu um ente muito querido. Da casa espírita que tem sido seu educandário ao longo desse tempo, nenhum espírita, colega de atividades assistenciais, doutrinárias e mediúnicas esteve presente. Absolutamente nenhum.

O que está acontecendo com os espíritas? A conclusão a que essa trabalhadora chegou é que não há mais amizade entre os espíritas. Evidentemente, no calor das emoções de decepção e tristeza pela perda de um ente querido, esse pensamento se tornou superlativo, com toda a razão para quem sente e passa por esses dissabores.

Estudiosos dizem que a decepção é fruto de um grau elevado de expectativa e por isso não deveria o indivíduo, espírita ou não, criar expectativas para não se frustrar e com isso decepcionar-se a ponto de adoecer.

Alguns dicionários atribuem à expectativa o sinônimo de “esperança”. Em assim sendo, o ser humano não deveria ter esperanças de que uma amizade  possa brotar entre espíritas? Estaríamos fadados ao “religiosismo” que vem solapando as religiões que ainda acreditam que o verdadeiro sentido da ligação com Deus é o poder transitório?

Como se não bastassem as lutas íntimas de cada um e os diversos conflitos existentes na arena da vida quanto à propagação doutrinária, a falta de fraternidade não tem sido caso isolado. Diversos relatos nos chegam, de vários centros espalhados pelo país, de falta de cuidado para com as pessoas que são recebidas na casa espírita. A coisa anda tão sem noção que muitas casas espíritas ainda discutem qual é o primeiro livro a se sugerir para que a pessoa leia e aprofunde seu conhecimento no Espiritismo! Ora, antes de se definir qual seria o livro, seria importante entender qual o gosto literário da pessoa. Ela tem o hábito de ler? Como e por que um livro ajudaria naquele momento? O espírita precisa sair do “automático” e começar a refletir naquilo que faz em suas atividades fraternas. Aproximar-se mais daqueles que chegam à casa espírita a ponto de conseguir o encontro de almas e assim sugerir ao outro aquilo que lhe aquece o coração.

É importante não deixar que exemplos de falta de fraternidade, como o ocorrido com essa confreira, ganhem proporções que levem as pessoas a desacreditarem na Doutrina dos Espíritos. O espírita é um Espírito vivendo suas “crises de crescimento”. Discursos bonitos inflamam e sensibilizam até certo ponto. Se não forem sustentados por uma prática coerente, em pouco tempo perdem o brilho.

Amai-vos e instruí-vos. Pela ordem, a coerência de um processo educativo esclarecedor. Primeiro a ação (amar) e num “continuum” a instrução, como extensão da ação inicial. Não se instrui, verdadeiramente, sem amar. Não se completa o entendimento sobre o amor, sem viver os ensinamentos apreendidos.

Há preocupação exagerada com o estudo, sem, porém, estudo profundo das preocupações quanto ao amar. Seria tão bom se soubesse escrever sobre o Amor! O que é o Amor? O Professor Herculano Pires dedicou-se em pesquisa sobre o tema, em obra que muitos não leem pela complexidade do assunto. Por acaso, amar é fácil? Se fosse, viveríamos em um mundo mais harmônico, perfumado, rico pelos aromas encantadores e multifacetados do amor.

Compreender a complexidade dos problemas que se avolumam em um orbe de provas e expiações é possível e um convite que a Doutrina Espírita nos faz. Entretanto, conformarmo-nos com a falta de amor, não. Isso não é doutrinário. Que o amor nos rebele de nós mesmos, desencastelando emoções de fraternidade, criando pontes entre saberes e sabores para que a vida tenha um significado maior para todos que sofrem e ainda não entendem por quê.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita