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por Ricardo Baesso de Oliveira

 
Vício do prestígio


A Psicologia evolutiva admite que o prazer decorrente de ser colocado em uma posição de destaque ou de aprovação, a busca do elogio e do aplauso e a necessidade de ser considerado um indivíduo especial são traços de personalidade que evoluíram no longo período da pré-história humana.

Em um ambiente extremamente hostil como aquele, pertencer a um grupo, ser aceito e acolhido por esse grupo era fundamental para a sobrevivência. Passamos a considerar como vital a inserção em uma “tribo” e quanto mais nos considerassem como pessoas necessárias e importantes mais fortemente seríamos acolhidos por nossos pares.

Esse traço de personalidade, em muitos de nós, extrapolou o razoável e se identificou com um vício, de graves consequências sociais e espirituais: o vício do prestígio - a vaidade e o narcisismo. Trata-se de um vício por ser insaciável e nunca se bastar (o destaque de hoje não resolve o problema de amanhã), gerando uma dependência: o aplauso, o elogio, o ser colocado em posição de realce.

Embora seja um traço da natureza humana é mais evidente em sociedades individualistas, como a norte-americana (e sociedades que tentam reproduzi-la) e menos evidente nas sociedades coletivistas (Japão, China, Coreia).Pesquisadores ofereceram a estudantes norte-americanos seis lápis solicitando que escolhessem um deles. Dos seis lápis, cinco tinham a mesma cor e um deles tinha cor diferente. A maior parte dos estudantes escolheu o lápis de cor diferente. Quando a solicitação foi feita a estudantes japoneses ou chineses, a maioria optou por ficar com um dos cinco lápis de mesma coloração.

Quando em uma sala de aula norte-americana pede-se que levantem os bracinhos as crianças que sabem nadar, quase todas o fazem (até mesmo aqueles que dão apenas uma ou outra braçada). Quando se faz o mesmo em uma escola japonesa, não se veem bracinhos levantados, o que é estranho, porque muitas delas nadam muito bem. E ao se interrogar uma dessas crianças, dizendo: “Mas você sabe nadar”! Elas respondem: “Estou aprendendo”!  “Ainda não sei”!  “Falta bastante”!

Jesus advertiu quanto à impropriedade desse comportamento nesse pensamento provocador: “Todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado” (Lucas 14: 1 e 7 a 11). Na instalação do reino de Deus em nós, ou seja, na construção de uma personalidade bela, nobre, justa e sábia, tornam-se necessárias a identificação e a devida dissolução desse traço incômodo da personalidade humana.

Na reorganização de nosso mundo íntimo torna-se necessário deixarmos pra trás pensamentos assim: Já sei! Domino! Conheço! Faço!

E construirmos, assim, nova mentalidade: Estou aprendendo! Falta muito! Preciso mais!

Fica o recado de François-Nicolas-Madeleine, apresentado por Kardec, no Cap. 17, item 8 de O Evangelho segundo o Espiritismo: “Mais vale menos virtudes com modéstia do que muitas com orgulho. É pelo orgulho que as gerações vão se perdendo; é pela humildade que elas um dia deverão redimir-se”.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita