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por Inês Rivera Sernaglia

 

Compaixão


O homem está tão habituado aos próprios problemas e aflições que se fecha a uma existência medíocre de satisfação dos sentidos físicos, não percebendo as necessidades do seu próximo, resguardando-se numa couraça de indiferença a fim de, também, poupar-se de dores maiores. Lutando por títulos, dinheiro, reconhecimento social, deposita a felicidade na ilusão, na adoração às coisas materiais, experimentando certa apatia em relação ao bem que poderia edificar, encarcerando-se num egocentrismo infeliz.

O individualismo é uma barreira que impede o desenvolvimento das potencialidades da vida e por isso mesmo não poderemos nos tornar indiferentes quando pudermos ser úteis, pois o Pai de infinita misericórdia nos pedirá contas do bem que não tenhamos feito.

Não faltam avisos convocando-nos à observância da nossa participação no mundo, alertando-nos quanto à necessidade de transcender a nós mesmos e desenvolvermos a compaixão. É mediante o hábito dessa virtude, que aprendemos a sacrificar os sentimentos inferiores e abrir o coração. Pouco importa se o outro, o beneficiado pela compaixão, não a valoriza nem reconhece ou sequer venha a identificá-la. O essencial é o sentimento de edificação, o júbilo da realização por menor que seja, naquele que a experimenta.

Expandir esse sentimento é dar significação à vida, pois ela está acima da emotividade desequilibrada e vazia; a compaixão age, enquanto a outra lamenta; realiza o socorro, enquanto a outra sente pena. É a virtude que mais nos aproxima dos anjos. Ela é a irmã da caridade. Bem sentida é amor, o sentimento mais apropriado para dominar o egoísmo e o orgulho. A compaixão nos comove aos sofrimentos de nossos irmãos e nos impulsiona a estender-lhes as mãos.

Grande, porém, é a compensação quando damos coragem e esperança a alguém infeliz, necessitado de amparo, porque estamos todos mergulhados em regime de interdependência de uns para com os outros. E considerando que tudo está ligado a tudo e todos os seres ligados entre si, então o sofrimento do próximo é o nosso sofrimento e a felicidade do próximo é a nossa própria felicidade.

Quantas são as vezes que nos preocupamos mais com o reconhecimento e com a gratidão do que com o nosso ato? E quantas são as vezes em que julgamos a quem estender as mãos...?

Jesus nos convida ao trabalho, porque esta é a nossa herança na jornada evolutiva. O trabalho é ação sem julgamentos e a compaixão é que provoca a ação.

Se queremos um mundo melhor para a nossa próxima existência, para os nossos filhos e netos, o que estamos fazendo para isso? Se a lei é de ação e reação, plantio e colheita, o que estamos plantando agora para colhermos na próxima existência?  O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 13 item 17, diz: “A compaixão garantirá a felicidade na Terra fazendo finalmente reinar a concórdia, a paz e o amor”. Podemos fazer muito mais do que estamos fazendo, isso é certo.

Não se conhece nenhuma conquista que chegue ao espírito sem estar apoiado na prática. Prossigamos, assim, atentos aos sofrimentos dos nossos semelhantes e trabalhemos sempre, baseados nos princípios do amor.

A excelência da compaixão é viver impregnado pelo amor do Cristo, sabendo que amor é devotamento e este é esquecer-se de si mesmo, e esse esquecimento, essa abnegação em favor dos necessitados é a virtude por excelência, é aquela que Jesus praticou em toda a sua caminhada, deixando-nos essas sementes benditas para que possamos fazê-las germinar e florescer em cada coração.

 

Bibliografia:

KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos – 182ª edição – Editora IDE – Araras/SP/ questão 657 – 2009.

KARDEC, Allan – O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 13, item 17 – 365ª edição - Editora IDE – Araras/SP/ – 2009.

XAVIER, F.C. – Encontro Marcado – ditado pelo Espírito Emmanuel – 13ª edição – Editora FEB – Brasília/DF – lição 16.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita